O ministro da Educação, Ciência e Inovação admitiu nesta quarta-feira que a precariedade entre os investigadores “atingiu um ponto inaceitável”, razão pela qual quer que, em setembro, o novo estatuto da carreira de investigação científica seja aprovado rápido.

O nível de precariedade é elevadíssimo e não cria as condições para atrair o talento que precisamos para ter carreira cientifica apelativa e investigadores motivados”, disse Fernando Alexandre que falava, no Porto, à margem do Encontro Ciência 2024 onde, à entrada, foi recebido por dezenas de trabalhadores da ciência, num protesto para exigir ao Governo o fim da precarização na ciência e pela sua integração nas carreiras.

Investigadores manifestam-se no Porto pelo fim da precarização

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Em causa está o novo estatuto da carreira de investigação científica que o governante espera levar a Conselho de Ministros em setembro e depois à Assembleia da República para discussão e aprovação.

“Esperamos que haja sentido de responsabilidade de todos os partidos porque estamos a falar de um documento absolutamente estruturante, um documento que vai ser essencial para enquadrar a carreira desses investigadores e para os resultados que esses investigadores vão alcançar em Portugal”, disse.

Fernando Alexandre disse que existiram “demasiados anos sem trabalhar o assunto”, considerando que “não há razão nenhuma para um estatuto que veem de 1999 e que está completamente desatualizado não ter sido substituído”.

Três meses não é muito tempo [para fazer o que] não foi feito em 25 anos (…). Alguns sindicatos não responderam. Tivemos aqui a manifestação hoje, mas houve sindicatos que estiveram numa reunião há 15 dias e ainda não nos mandaram os contributos. Mas tudo bem, acho muito bem que as pessoas sejam exigentes porque a precariedade que temos entre os investigadores atingiu um ponto inaceitável e isso tem de ser corrigido”, disse.

Antes, no discurso de abertura do Encontro Ciência 2024, o ministro indicou que a próxima ronda negocial com os sindicatos está marcada para 24 de julho e garantiu que “uma das prioridades do Governo é a aprovação do novo estatuto da carreira de investigação científica” porque “só se vai conseguir alcançar objetivos se Portugal se tornar um país atrativo para os investigadores”.

“Não é possível, com a precariedade que temos, pensar que algum dia vamos conseguir atrair investidores de elevada qualidade. Temos muitos, mas temos de tornar o contexto institucional mais favorável”, referiu numa sala com dezenas de investigadores e dirigentes de instituições ligadas à academia, ciência, tecnologia e investigação.

Fernando Alexandre lembrou que serão colocados 1.000 investigadores “nos próximos meses”, mas voltou a fazer reparos aos “timings” deste tema, parecendo criticar o trabalho de quem o antecedeu, mas sem citar nomes ou partidos.

“É estranho. Vamos ter a entrada de imensos investigadores numa carreira que não conhecem. Isto devia fazer-nos pensar. Quando alguém escolhe uma carreira devia saber no que vai entrar, quais são os incentivos, as categorias. Infelizmente — pela forma como os trabalhos foram conduzidos — vejam o paradoxo disto”, referiu.

Já fora, questionado sobre se vai aumentar o número de vagas, o governante foi cauteloso: “Quando temos um concurso para 1.000 investigadores de uma vez temos de fazer uma avaliação muito cuidada da colocação. O problema de precariedade existe, mas não o podemos resolver à custa de criar mais precariedade para quem vier a seguir”.

Numa iniciativa promovida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, em colaboração com a Ciência Viva e com a Universidade do Porto, o ministro concluiu com a ideia de que “o país não vai conseguir atingir os objetivos de estar entre as economias mais avançadas do mundo se não tiver investigação de primeira água”.

“Já temos, mas não é na dimensão que precisamos”, concluiu.