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Três pessoas morreram, três continuam desaparecidas e uma está em estado grave depois de uma traineira se ter virado na madrugada de quarta-feira entre São Pedro de Moel e a Praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande. O Presidente da República e o primeiro-ministro já expressaram as condolências às famílias e amigos das vítimas do naufrágio. As buscas mantiveram-se durante toda a noite e foram reforçadas esta quinta-feira.

Na tarde desta quinta-feira, o Comandante Naval, Nuno Chaves, explicou que os navios da Marinha já tinham percorrido 500 milhas náuticas (o equivalente a cerca de 920 quilómetros) nas operações de buscas.

“Já percorremos cerca de 500 milhas [náuticas] em buscas dos corpos, cerca de 30 horas de um patrulha mais 15 horas de uma lancha”, disse Nuno Chaves aos jornalistas, na praia do Samouco, concelho da Marinha Grande (Leiria), num ponto de situação na presença do ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, do chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, almirante Gouveia e Melo, e do diretor-geral da Autoridade Marítima e comandante-geral da Polícia Marítima, almirante Ventura Soares.

O comandante naval explicou que as buscas pelos três pescadores desaparecidos vão prosseguir “até que se considere que já não há possibilidade de se encontrar qualquer corpo ou qualquer outra evidência do acidente”.

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Sete dos 11 resgatados deram entrada no Hospital Distrital da Figueira da Foz, um dos quais em estado grave, como informou a diretora clínica, Sónia Campelo Pereira, na quarta-feira. O homem de 57 anos apresentava problemas respiratórios, e foi transferido para a Unidade de Cuidados Intensivos dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC).

Ao Observador fonte do Autoridade Marítima, que também divulgou um vídeo captado de um barco salva-vidas, disse que o alerta para o naufrágio da traineira Virgem Dolorosa a uma milha náutica (cerca de dois quilómetros) a oeste de costa entre as duas praias foi dado às 4h33.

Ainda segundo a mesma fonte, foram iniciadas as buscas com “quatro embarcações de pesca que estavam nas proximidades” tendo sido resgatadas onze pessoas (duas em estado de choque, “uma com muitas dores e outra aparentemente falecida”) e transportadas para o Porto da Figueira da Foz. Mais tarde a Autoridade Marítima adiantou que estavam 17 as pessoas a bordo, a maioria da Figueira da Foz com idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos, e que dos onze pescadores resgatados, dois eram originários da Indonésia, “desconhecendo-se a causa na origem do acidente”.

Foi “ativada de imediato uma embarcação da Estação Salva-vidas da Nazaré e da Figueira da Foz para as buscas, um helicóptero da Força Aérea e uma equipa de vigilância aérea (drones) do comando-local da Polícia Marítima da Nazaré”, acrescentou a fonte da Autoridade Marítima. Atendendo “à profundidade do local do afundamento foi ativado o Grupo de Mergulho Forense da Polícia Marítima” e elementos do projeto ‘SeaWatch’. O Gabinete de Psicologia da Polícia Marítima também foi acionado para prestar apoio. Ao chegar ao local, o barco salva-vidas “confirmou que a embarcação se encontrava apenas virada”, tendo sido recolhidos mais dois náufragos pelas 6h00 por uma embarcação auxiliar.

As buscas pelos três pescadores decorreram entre as praias de São Pedro de Moel e da Vieira de Leiria e mobilizaram, no mar, a embarcação da estação salva-vidas da Nazaré, a que se juntou o navio da Marinha Portuguesa NRP Setúbal. Foi empenhada uma equipa do grupo de mergulho forense da Polícia Marítima, “no sentido de fazer uma inspeção” para tentar verificar se no interior do barco “se encontrava alguém ou se se encontrava alguém preso nas redes”, mas “as condições do mar” não permitiram a entrada da equipa na embarcação que se encontrava “a flutuar, virada e com redes à volta”, tendo a equipa de mergulhadores verificado que ”não se encontra ninguém preso nas redes”.

As operações de mergulho terminaram ao pôr do sol, mas as buscas mantiveram-se durante a noite, com “o navio da marinha portuguesa, o NRP Setúbal, no local, bem como uma viatura Amarok do projeto SeaWatch”, informou o porta-voz da Autoridade Marítima Nacional e da Marinha, José Sousa Luís, num balanço efetuado cerca das 20h de quarta-feira, na Praia do Samouco, onde deu nota de que as buscas não tinham sido suspensas.

José Sousa Luís disse ainda estar prevista para esta quinta-feira uma nova avaliação das condições oceanográficas no sentido “de fazer uma nova tentativa de entrada na embarcação de pesca para se verificar se as três pessoas que se encontram desaparecidas se encontram algumas delas no seu interior”.

“As buscas que se mantiveram durante toda a noite foram esta quinta-feira de manhã reforçadas gradualmente. Já houve mais uma viatura Amarok do projeto SeaWatch, patrulhas da Polícia Marítima, drones e mais um navio da Marinha, a que vai juntar-se outro que esteve durante a noite na zona”, disse à Lusa João Severino Lourenço, capitão do porto da Nazaré. O dispositivo contará ainda com os Bombeiros Voluntários da Nazaré  — que prestam apoio logístico aos mergulhadores da Marinha — e com viaturas do projeto ‘SeaWatch’, numa parceria entre o Instituto de Socorros a Náufragos da Autoridade Marítima Nacional e um conjunto de entidades.

Já esta quinta-feira, o Comandante Naval explicou que “já foram feitos quatro mergulhos, já foi percorrido cerca de 80% do espaço”, mas sublinhou que há dois compartimentos da traineira em “que não foi possível ainda entrar”. Nuno Chaves adiantou ainda que os mergulhadores vão “fazer mais dois mergulhos”, desfasados de duas horas cada um deles, referindo que as operações de mergulho vão prosseguir. Questionado se a probabilidade de os três pescadores estarem no interior da embarcação começa a diminuir, o comandante naval declarou que, “com o tempo, começa a diminuir, uma vez que 80% do espaço já foi percorrido”.

“Nada justifica o que aconteceu”

Segundo o presidente da Câmara da Marinha Grande, Aurélio Ferreira, a “Virgem Dolorosa” é uma traineira com 24 por seis metros, com porto na Figueira da Foz. A maioria das pessoas que seguiam na embarcação são da Figueira da Foz (Leirosa), havendo dois tripulantes da Indonésia, que foram resgatados com vida.

O armador António Lé, presidente da Organização de Produtores da Figueira da Foz, disse não haver explicações para o naufrágio da embarcação. “A embarcação estava no exercício da sua atividade, em conjunto com as outras [mais seis da mesma organização] e, de um momento para o outro, virou. Não se sabe as razões, não se sabe nada, virou”, afirmou, em declarações à agência Lusa. Segundo o responsável, a embarcação foi comprada há três anos, é moderna e a tripulação experiente. “Nada justifica o que aconteceu”, reforçou.

O porta-voz da Autoridade Marítima Nacional, José Sousa Luís, considerou, em declarações aos jornalistas, que a ondulação não era suficiente para uma embarcação ter naufragado ao largo de praias de Leiria e confirmou a abertura de um inquérito de sinistro marítimo.

Marcelo: “Perda das vidas destes valorosos homens é uma tragédia”

Numa nota no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa já endereçou as condolências às famílias das vítimas. “O Presidente da República lamenta profundamente o naufrágio de uma embarcação na faina da pesca e o falecimento de pescadores, ocorrido esta manhã ao largo das praias de São Pedro do Moel e de Vieira de Leiria”, pode ler-se no comunicado.

O Presidente da República acrescenta ainda que “esta profissão, que tanto enriquece a nossa tradição marítima, também nos recorda os riscos e desafios enfrentados por muitos dos nossos compatriotas, os quais merecem o nosso respeito e admiração”. “A perda das vidas destes valorosos homens é uma tragédia para todos nós”, realçou o chefe de Estado.

Montenegro apresenta sentidas condolências às famílias das vítimas

Num comunicado disponibilizado na página do Governo e mais tarde na rede social X, o primeiro-ministro Luís Montenegro lamentou “profundamente o naufrágio”, louvou o “pronto e pleno empenho das autoridades de socorro nas buscas e no resgate da tripulação”. Apresentou também “sentidas condolências às famílias das vítimas nesta hora de pesar”.

Pedro Santana Lopes: mestre da embarcação “não conseguiu articular palavras”

O presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santa Lopes, disse não haver explicação para o que aconteceu e adiantou que, na altura em que a embarcação virou, “o peixe já estava recolhido”. Aos jornalistas, o autarca revelou que tentou falar com o mestre da embarcação (que deverá ter alta em breve), mas sem sucesso: por estar em “estado de choque”, referiu, “não conseguiu articular palavras”. Afirmou ainda que será decretado “luto municipal” e expressou o apoio total da autarquia às famílias “e a quem mais precisar de ajuda”.