O líder do Chega/Madeira, Miguel Castro, disse esta quinta-feira que a deputada do partido que votou contra o Programa do Governo Regional, que registou a abstenção da restante bancada e foi aprovado por maioria, “anda completamente desalinhada”.
“Sim, houve uma deputada do Chega que já desde o dia das eleições [26 de maio] anda completamente desalinhada com o grupo parlamentar e, obviamente, que não seguiu a indicação de abstenção”, disse, referindo-se a Magna Costa, que esta quinta-feira votou contra a nova proposta de Programa do executivo social-democrata minoritário.
O parlamento madeirense aprovou o Programa do XV Governo Regional com 22 votos favoráveis do PSD (19 deputados), do CDS-PP (dois) e do PAN (um), 21 votos contra do PS (11 deputados), do JPP (nove) e da deputada do Chega Magna Costa, e quatro abstenções, três do Chega e uma da IL.
Em declarações à Lusa, após a votação, Magna Costa explicou que não houve uma “definição clara” da posição do partido durante o debate, pelo que votou em consonância com as “bandeiras e diretrizes de combate à corrupção” defendidas pelo Chega.
A deputada lembrou que durante a campanha eleitoral a posição assumida pelo Chega foi sempre de votar “contra a figura de Miguel Albuquerque”, o líder do executivo madeirense, que foi constituído arguido num processo que investiga suspeitas de corrupção no arquipélago.
Governo da Madeira entrega novo Programa sem certezas mas esperando responsabilidade
“Votei nessa posição […] e apercebo-me que as pessoas [os restantes três deputados do grupo parlamentar] realmente se mantiveram sentadas, o que de facto para mim entristeceu”, disse.
Magna Costa reiterou que sempre defendeu os princípios do partido, pelo que acredita que a estrutura nacional não lhe vai retirar a confiança política.
Já o líder do Chega/Madeira disse que não sabia que a deputada ia “votar de forma diferente”, mas reconheceu que “já suspeitava” que assim seria.
“Expliquei-lhe que iríamos aguardar até ao final pelas declarações do presidente [do governo regional] e quando ouvimos aquelas declarações subentendemos que ele se predispôs a estar disponível para a justiça […], dando garantias de que deixaria os cargos públicos”, disse Miguel Castro.
Durante o debate do Programa do Governo, o Chega deixou claro que o voto da bancada parlamentar, composta por quatro deputados, iria depender do facto de Miguel Albuquerque “reconhecer e assumir publicamente” que abandonará todos os cargos públicos caso o Ministério Público o acuse no processo que investiga suspeitas de corrupção.
Mais tarde, na intervenção final, Albuquerque declarou que quem vai determinar o seu futuro em termos de investigação judicial é o promotor público e que nunca rejeitou assumir as suas responsabilidades.
“Obviamente que toda a gente entendeu que o que ele disse foi que jamais se esconderia na imunidade parlamentar e assumiria todas as suas responsabilidades políticas se efetivamente este caso se viesse a agravar e que estava inteiramente ao dispor do Ministério Público”, afirmou Miguel Castro, em declarações aos jornalistas, após a votação.
Albuquerque diz que será “promotor público” a determinar o seu futuro em investigação judicial
Com essas declarações, acrescentou, o Chega entendeu “que o que ele estava a dizer é que estava completamente ao serviço da justiça e pronto para se afastar das suas funções políticas se a situação se vier a agravar.”
Miguel Castro realçou que a posição do Chega “não foi uma viabilização a Miguel Albuquerque”, mas antes “foi uma viabilização à Madeira e aos madeirenses“, salientando que a região não pode continuar sem Orçamento.
O líder do Chega/Madeira acrescentou ainda que, caso Miguel Albuquerque seja acusado e se recuse a sair, o partido apresentará uma moção de censura.
“Se não sair, nós apresentamos uma moção de censura”, afirmou.
Em 19 de junho, o presidente do executivo madeirense retirou a proposta da discussão em plenário por ter chumbo anunciado: PS, JPP e Chega, que somam 24 deputados num universo de 47 lugares, o que significa uma maioria absoluta, deram conta de que iriam votar contra o documento.
O Programa estava a ser discutido pelo segundo dia e previa-se que fosse votado no dia seguinte.
O governo regional convidou então todos os partidos com assento parlamentar para reuniões visando consensualizar medidas e apresentar um novo Programa, mas PS e JPP — que após as eleições de maio apresentaram, sem sucesso, uma proposta para formar governo – rejeitaram o convite.
Esta é a primeira legislatura na história da democracia madeirense em que o PSD não tem maioria absoluta sozinho ou com outras forças. O partido, com 19 eleitos, tem um acordo parlamentar com o CDS-PP que lhe permite o apoio de mais dois deputados.
As eleições antecipadas realizaram-se oito meses após as legislativas madeirenses de 24 de setembro de 2023, depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter dissolvido a Assembleia Legislativa, na sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando Albuquerque foi constituído arguido num processo sobre alegada corrupção.
O social-democrata acabou por se demitir no início de fevereiro e o executivo ficou então em gestão. Não chegou a ser votado um Orçamento para 2024.
O PSD lidera o executivo do arquipélago desde as primeiras eleições em democracia. Em 2019, no seu segundo mandato, Miguel Albuquerque fez um acordo pós-eleitoral com o CDS-PP para manter a maioria absoluta que os sociais-democratas sempre tinham conseguido alcançar sozinhos.
Em 2023, os dois partidos concorreram coligados, mas para garantir os 24 deputados foi necessário um acordo de incidência parlamentar do PSD com o PAN, rasgado pela deputada única na crise instalada no início deste ano.