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Por duas vezes, Rishi Sunak pediu desculpa no último discurso enquanto primeiro-ministro — aos eleitores, de quem ouviu “o descontentamento e a desilusão” materializados nos resultados eleitorais; e aos conservadores e outros envolvidos na campanha, por não terem visto os “esforços” recompensados. Sunak sai de Downing Street cerca de 20 meses depois de ter chegado, assim como da liderança do Partido Conservador, ao qual traça dois desafios: a capacidade de se “reconstruir” e constituir como uma força eficaz da oposição.

Ladeado pela mulher — que não largou um guarda-chuva em mais um dia cinzento em Londres, presumivelmente para evitar a repetição da imagem do marido à chuva, quando anunciou as eleições antecipadas para 4 de julho —, Sunak disse ter “dado” tudo ao cargo, mas que não podia ignorar o “sinal claro” de que o governo do Reino Unido “tem de mudar”. “Ouvi o vosso descontentamento e desilusão. E assumo responsabilidade por esta derrota”, afirmou.

Sunak leva o partido à maior derrota de sempre apesar de eleição pessoal. “Assumo a responsabilidade”

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Com a maioria absoluta dos trabalhistas, a demissão de Sunak tratava-se de uma formalidade. Mas havia expectativa sobre se iria também abandonar a liderança dos conservadores ou se iria liderar os esforços de reconstrução do partido que não estava na oposição há 14 anos. Sunak escolheu a primeira opção: sai, mas sem efeitos imediatos — esperará que seja escolhido um substituto.

Aos candidatos conservadores e envolvidos na campanha pediu “desculpa” por não terem coletivamente “conseguido dar resposta ao que os vossos esforços mereciam” e lamentou que nem todos os que contribuíram para as suas comunidades e para o país não tenham conseguido um lugar no Parlamento.

Sunak acredita que o país está “mais seguro” e “mais forte” do que há 20 meses e “mais resiliente e próspero” do que em 2010, a última vez em que os trabalhistas estiveram no poder. E elenca alguns dos seus feitos, de que se diz orgulhar: a diminuição da inflação (que foi uma tendência na Europa depois do pico de 2022), o crescimento do país, a liderança no apoio à Ucrânia (aliás, que Volodymyr Zelensky já voltou a agradecer ao bom “amigo” Sunak), o reforço das alianças com os seus aliados.

Sobre Keir Starmer, frisa que é um homem “decente, com espírito [de serviço] público”, pelo que ele e a sua família merecem “compreensão” durante a “enorme transição para as suas novas vidas”.

Sunak agradece o apoio à mulher, que o acompanhou durante o discurso, alguns passos atrás, e às filhas, pelos “sacrifícios que fizeram para que pudesse servir o nosso país”. E lembra como, duas gerações depois de os avós terem chegado ao Reino Unido, pôde tornar-se primeiro-ministro. “Temos de nos manter fiéis a essa ideia do que somos, a essa visão de bondade, decência e tolerância que sempre foi a maneira de ser britânica”, disse. O seu governo foi criticado por alguns setores da sociedade pela restrita política de imigração, incluindo o polémico plano para deportar migrantes para o Ruanda.

E terminou o discurso reconhecendo que é “um dia difícil, no final de vários dias difíceis”. “Mas saio do cargo honrado por ter sido vosso primeiro-ministro”, afirma, acrescentando que “este é o melhor país do mundo. E isso deve-se inteiramente a vocês, o povo britânico, a verdadeira fonte de todas as nossas conquistas, da nossa força e da nossa grandeza. Obrigado”. Seguiu depois para o carro que o levou pela última vez ao Palácio de Buckingham onde apresentou a sua demissão formalmente ao Rei Carlos III, que a aceitou e minutos depois indigitou Keir Starmer como o novo primeiro-ministro.