A Polícia Federal brasileira prendeu nesta quinta-feira preventivamente quatro suspeitos de participarem numa rede de espionagem que terá investigado ilegalmente personalidades públicas durante o mandato do ex-Presidente e líder da extrema-direita Jair Bolsonaro.

Bolsonaro indiciado por apropriação de jóias oferecidas à presidência

Na quarta fase da Operação Última Milha, que investiga desvios na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob o governo Bolsonaro e a atuação do chamado “gabinete do ódio”, a Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira preventivamente quatro das cinco pessoas alvo de mandado de prisão, tendo também cumprido sete mandados de busca e apreensão por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Foram presos Mateus Sposito, ex-assessor no Ministério das Comunicações, Richards Pozzer, suspeito de divulgar notícias falsas nas suas redes sociais, o policia federal Marcelo Bormevet e o militar do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que trabalhava na Abin na gestão Bolsonaro.

Num comunicado, a autoridade policial brasileira informou que a operação aconteceu nas cidades de Brasília, Curitiba, Juiz de Fora, Salvador e São Paulo.

Em fevereiro, a polícia brasileira fez buscas na residência onde a família Bolsonaro estava hospedada, na cidade de Angra dos Reis, perto do Rio de Janeiro, no âmbito da mesma investigação ligada a esse escândalo de espionagem.

A polícia também esteve em locais ligados a Carlos Bolsonaro, segundo filho do ex-Presidente, que é vereador na câmara municipal do Rio de Janeiro.

Carlos Bolsonaro é suspeito de ter coordenado, sob a presidência do pai, um “gabinete do ódio”, uma alegada milícia digital responsável por denegrir opositores nas redes sociais e divulgar informações falsas.

Segundo a Polícia Federal, “as investigações revelaram que membros dos três poderes e jornalistas foram alvos de ações do grupo, incluindo a criação de perfis falsos e a divulgação de informações sabidamente falsas”.

A polícia também denuncia vigilância ilegal de personalidades através do acesso a informações a partir de computadores ou telemóveis.

Um relatório da Polícia Federal divulgado nesta quinta-feira pelo STF afirma que a espionagem ilegal atingiu o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, um aliado do ex-Presidente da República, vários parlamentares adversários, incluindo o ex-governador de São Paulo João Doria, os juízes do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luis Roberto Barroso e Luiz Fux, além de jornalistas.

O escândalo de espionagem eclodiu em outubro do ano passado, quando a primeira de quatro operações policiais ligadas a este caso resultou na prisão de dois funcionários da Abin suspeitos de terem utilizado ilegalmente o “spyware” israelita FirstMile.

Adquirido pelo governo brasileiro no final de 2018, pouco antes de Jair Bolsonaro chegar ao poder, este “software” permite a geolocalização de indivíduos através do sinal emitido pelos seus telemóveis.

Em janeiro, outra operação teve como alvo Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin e confidente do ex-Presidente, hoje deputado.

Na época, o ato judicial que autorizou as buscas contra Ramagem referia-se a um alegado grupo criminoso que teria criado uma estrutura paralela dentro da Abin, para monitorar ilegalmente pessoas e autoridades públicas.