O professor Baptista José, 37 anos, lançou um caderno de caligrafia de letra cursiva, um manual de baixo custo para apoiar alunos em Moçambique a “Escrever Bonito”, sobretudo num meio rural marcado por limitações no acesso ao ensino.
“Achei que havia necessidade de ajudar as crianças que têm problemas de escrita (…) O processo é simples: eu escrevo tudo à mão numa folha normal e levo para a reprografia. Reproduzo e depois encaderno para vender“, explica à Lusa o professor, momentos após concluir a produção de mais um caderno de caligrafia na cidade da Matola, arredores da capital moçambicana.
Baptista é professor primário há 17 anos e, durante a sua carreira, pôde observar as limitações na escrita que a maior parte das crianças moçambicanas apresentam, sobretudo no meio rural, onde o acesso à educação continua um desafio até para adultos, seja por limitações financeiras ou mesmo obstáculos culturais.
Em 2023, segundo dados do Ministério da Educação, quase 40% da população moçambicana, dos mais de 30 milhões de habitantes, era analfabeta, a maioria mulheres.
Com o caderno de caligrafia, exclusivamente de letra cursiva, intitulado “Escrever Bonito”, o professor quer contribuir para a alteração destas estatísticas, dando oportunidade a quem não tem meios, mas quer aprender a escrever.
Infelizmente ainda não tenho portas abertas, mas, se fosse possível, replicava o projeto para outras províncias e ficava lá uma marca. Fui avaliando os livros que existem de caligrafia em Moçambique e percebi que eles não têm muitos conteúdos de escrita. Além disso, a escrita lá não é cursiva, mas sim de imprensa. Torna-se um pouco difícil para a criança trocar a letra de imprensa para a cursiva”, considera o professor.
Já lá vão quase quatro meses desde que Baptista lançou o projeto nas cidades de Maputo e Matola e até ao momento, já com pelo menos 86 manuais vendidos por menos de dois euros cada, as redes sociais continuam a ser o principal meio para promover os cadernos, que, em caso de solicitação, são distribuídos pelo próprio professor porta a porta.
“As pessoas solicitam e eu vou lá”, sublinha Baptista, acrescentando que atualmente até professores têm solicitado o seu caderno, alguns dos quais com a intenção de melhorar a sua própria caligrafia.
Esta pode ser uma alternativa de baixo custo, mesmo em orfanatos, onde não há muitos recursos, este manual podia ajudar muito gente”, conclui.
Os números oficiais indicam que o analfabetismo em Moçambique atinge 50,8% da população rural e 18% da população urbana, com as províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula, no Norte do país, e Tete e Zambézia, no centro, a apresentarem os maiores índices.
As estatísticas revelam ainda que uma criança leva em média o dobro do tempo para concluir o ensino primário e que a taxa média de graduados em Moçambique está abaixo de 30%.