A última reunião do Conselho do BCE antes do verão acontece nesta quinta-feira mas, ao contrário do que se chegou a admitir, os analistas veem hipóteses praticamente nulas de que o organismo que decide a política monetária da zona euro vá fazer alguma mexida. Depois do primeiro corte dos juros deste ciclo, que foi anunciado a 6 de junho, Christine Lagarde deu a entender em Sintra, no Fórum anual do BCE, que não tem pressa em baixar os juros.
O consenso entre os analistas, nesta fase, aponta para que a próxima descida dos juros possa chegar só depois da “pausa” de verão, na reunião agendada para 12 de setembro. Só nessa próxima reunião é que, a julgar pelas expectativas dos mercados financeiros, a taxa de juro dos depósitos (a mais importante para a política monetária nesta fase) irá descer mais um “degrau” de 25 pontos-base, dos atuais 3,75% para 3,5%.
“Acreditamos que, continuando a inflação a descer de forma lenta, o BCE deverá fazer um corte da taxa de juro por cada trimestre, em média, até levar a taxa dos depósitos para 2,5%”, afirma Thomas Hempell, líder da equipa de análise macroeconómica da Generali Asset Management (AM).
A confirmar-se a expectativa, que está em linha com aquilo que se aposta nos mercados de futuros de taxas de juro, isso significa que a taxa de juro irá terminar o ano nos 3,25%, com uma redução em setembro e outra, possivelmente, em dezembro. Depois, em 2025, os juros na zona euro podem descer 25 pontos-base mais três vezes – o cenário pode mudar mas esta é, neste momento, a previsão que reúne elevado grau de consenso nos mercados financeiros.
A perceção de que o BCE poderá descer os juros em setembro e em dezembro é reforçada pelo facto de em cada um desses momentos estar prevista a divulgação de novas séries de projeções atualizadas pelo staff de economistas do BCE. Com Christine Lagarde a garantir que o BCE irá, nesta fase do ciclo, tomar decisões “conforme os dados”, os analistas antecipam que as mexidas irão surgir sempre acompanhadas por um novo conjunto de projeções.
Retoma um pouco mais fraca mas inflação ainda “elevada”
O Conselho do BCE “deverá, como todos esperam, manter a política inalterada na próxima reunião [esta quinta-feira], já que a forte ênfase na evolução dos dados sugere que este evento não deverá trazer grandes novidades”, escrevem os analistas Goldman Sachs liderados por Sven Jari Stehn, em nota de antecipação.
“Embora as estimativas relativas ao crescimento económico tenham vindo, ultimamente, a sair um pouco mais fracas do que se previa nas projeções económicas que o BCE fez em junho”, os dados da inflação continuam a apontar para níveis “ainda elevados” de inflação, diz o Goldman Sachs.
A inflação tem-se mantido acima, embora ligeiramente, das previsões que o BCE fez no mês passado. A média anualizada da inflação subjacente, que exclui os preços da energia, baixou de 3,2% no primeiro trimestre para 3,1% no segundo trimestre, mas isso está uma décima acima das previsões de junho do BCE. Ou seja, embora a tendência na inflação seja favorável, os analistas defendem que não estão reunidas as condições para que o BCE avance mais rapidamente na descida de juros.
Essa análise saiu reforçada depois de Christine Lagarde ter afirmado, no Fórum BCE de Sintra (1 de julho), que apesar do abrandamento do crescimento económico, há mais 2,6 milhões de pessoas a trabalhar do que havia em 2022. E isso dá a um banco central como o BCE alguma margem para esperar pelo maior conjunto de dados económicos, para tomar as decisões o mais sustentadas que for possível.
Por outras palavras, estando as taxas de juro num nível que se pode considerar muito restritivo (3,75%), o facto de não estarem a soar os alarmes no mercado de trabalho permite ao BCE gerir de forma mais tranquila a fase de descida das taxas de juro – se o desemprego estivesse a subir rapidamente, a pressão sobre o BCE seria, certamente, outra. Assim, Lagarde deu a entender que a economia (e, em particular, o emprego) não se estão a ressentir em demasia do atual nível de juros, o que permite a Christine Lagarde “comprar mais algum tempo” para garantir que as próximas decisões são tomadas com o máximo de dados económicos disponíveis.