Há quatro décadas, milhares e milhares de portugueses faziam a sua noitada por uma boa causa. Estava na hora de entrar em cena Carlos Lopes, que em 1976 tinha ameaçado a primeira medalha de ouro de sempre de Portugal nos Jogos Olímpicos numa prova de 10.000 metros onde imperou o Finlandês Voador, Lasse Viren. Em 1984, na maratona de Los Angeles, havia esperança numa outra história. Assim foi. Os planos abertos iam mostrando como tudo acontecia e, à frente dos corredores ainda em grupo nessa fase, andavam motas da polícia, um carro com o tempo e outro, a par de outra motorizada, com uma câmara para apontar aos atletas. Quando fugiu a dez quilómetros do fim percebeu-se que a vitória não fugiria, nos últimos 100 metros cada aceno para as bancadas era mais uma lágrima de emoção pelo feito. Tudo pela RTP e só pela RTP. 40 anos depois, o século XXI entra como nunca na forma de “consumir” os Jogos e os possíveis pódios nacionais.

A partir de agora, os Jogos Olímpicos, em qualquer modalidade ou fase competitiva, vai ser algo para se ver onde, como e quando se quiser. Literalmente. E foi toda essa operação que o Max apresentou em Paris, num evento repartido entre vários locais próximos da mítica Torre Eiffel e do rio Sena, que servirá de palco ao longo de seis quilómetros de uma cerimónia de abertura como nunca existiu nas edições passadas.

“Toda a preparação desta operação começou logo a seguir a Tóquio-2020. Quisemos adaptar tudo à lógica do que deve ser no século XXI: ver onde estiver. Os Jogos são mais do que uma prova desportiva com várias modalidades, é um evento cultural que fica para a história. Serão 3.8000 horas de transmissão que chegam às 4.000 horas se juntarmos todos os outros conteúdos, disponíveis em 19 línguas para 47 mercados”, referiu Scott Young, responsável pela WBD Desporto na Europa, na apresentação feita num auditório do Musée du quai Branly – Jacques Chirac, onde o Observador marcou presença. Exemplo dado? A corrida que valeu ao italiano Marcell Jacobs o título olímpico nos 100 metros em Tóquio, mostrada em segmentos com idiomas diferentes. “Mas mais do que isso, queremos também explicar quem é aquela pessoa, como se preparou, o que fez de melhor, como conseguiu lá chegar através dos comentadores”, destacou.

Yiannis Exarchos, CEO do Olympic Broadcasting Services, marcou também presença no evento realizado em Paris

“Como sede dos Jogos e alimentada pelo maior motor para contar histórias no desporto do mundo, a equipa do Eurosport é incomparável em termos de conhecimento e experiência olímpica. Reunimos um elenco de mais de 100 atletas olímpicos de toda a Europa para oferecer os bastidores e as melhores análises ao longo de 19 dias emocionantes de competição também pelas jornadas pessoais que darão vida a todos os momentos para milhões de adeptos. Os fãs poderão ter acesso à melhor experiência olímpica no Max e no Discovery+ [n.d.r. no caso dos países que não têm Max acessível) contando também com desenvolvimentos no aplicativo, opções personalizáveis e muitos conteúdos exclusivos”, adiantou, antes de apresentar alguns dos comentadores que farão parte de todo o elenco e que contará com uma “novidade”: Tom Daley, campeão olímpico nos saltos para a água em Tóquio depois de três bronzes, vai competir… e a seguir ser comentador.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Fabian Hambüchen (ginástica), Arnaud Tournant (ciclismo), Carolina Kluft (atletismo), James Cracknell (remo), Alain Bernard ou Ranomi Kromowidjojo (natação) são alguns dos antigos campeões olímpicos que estarão nas várias equipas distribuídas pelos respetivos países, havendo também nomes conhecidos do público em geral como Xavier Pascual, Katinka Hosszu, Jarkko Nieminen, Boris Becker, Max Hoff, Alex Corretja, Alberto Contador, Lydia Valentín, Carla Suárez Navarro, Nile Wilson, Lutalo Muhammad, Iwan Thomas, Catalina Ponor, Kim Andersson, Jo Rowsell ou Robert Korzeniowski, entre muitos outros.

Na mesma apresentação esteve Yiannis Exarchos, o CEO do Olympic Broadcasting Services (OBS) há mais de dez anos e com ligações ao serviço que assegura a transmissão de todos os eventos desde Atenas-2004. Aqui, ainda houve alguns segredos que ficaram guardados sobretudo para 26 de julho, mas o responsável nascido na Grécia falou não só dos desafios de Paris-2024 a esse nível como do “dilema” que será garantir a cobertura da primeira cerimónia de sempre que não será realizada no Estádio Olímpico mas sim ao longo do Sena.

Vamos ter mais de 120 câmaras, 200 telefones entre os atletas nos barcos, oito drones, três helicópteros, mais de 1.000 pessoas envolvidas… Será uma das maiores operações de sempre, com essa vontade de respeitar tudo o que é essa parte histórica de uma cerimónia de abertura com ideias mais fora da caixa que possamos conseguir criar”, salientou Yiannis Exarchos.

“Se repetirmos o sucesso das outras edições, será um fracasso. É assim que pensamos. Temos de perceber que Jogos Olímpicos são estes, Jogos que vêm depois de uma pandemia que afastou as pessoas dos recintos e de uma fase com vários conflitos e divisões no mundo, Jogos que devem procurar ser uma celebração e onde todos possam estar juntos. A forma como se vê também mudou e temos de nos adaptar a isso. É o que vamos fazendo, para que todo o conteúdo esteja disponível para todas as plataformas e países. Sempre respeitando aquilo que é a integridade da competição, queremos dar mais bastidores e mais preparação, por forma a que todas as perspetivas que se queiram dar dos Jogos estejam asseguradas”, começou por explicar.

“Não serão ambientes fáceis, muitos não são propriamente um ringue de boxe onde tudo está ali centrado. Precisamos mostrar a grandiosidade dos locais onde se realizam as provas e o storytelling vai ser importante nestes Jogos”, comentou também Yiannis Exarchos, recordando as modalidades que serão jogadas na zona da Torre Eiffel, Grand Palais, Inválidos ou Versalhes, antes de abordar a questão da Inteligência Artifical. “Já existe há 70 anos mas nos últimos dois/três deu um salto gigante. A maior parte das modalidades nos Jogos trazem a oportunidade de ganhar público e audiência e é por isso que a transmissão conta tanto e pontos como repetições 360º. Hoje, os números é algo que aparece, serve alguns segundos e acaba. Com a IA, vamos poder gerar highlights para todos os mercados até de provas que estão ainda a decorrer e, como o Eurosport tem com o Cubo, levar todos os atletas a estúdio de forma virtual. Tudo conta”, salientou.

Breaking, modalidade que fará a estreia em Paris-2024, será um dos pontos de maior destaque nesta edição dos Jogos

“Sobre a cerimónia de abertura ainda não posso abrir muito o jogo… Posso recordar os Jogos da Juventude de Buenos Aires, onde a cerimónia foi feita em torno de um pirâmide e constituiu um momento incrível de união para toda a gente do país. Vamos ter mais de 120 câmaras, 200 telefones entre os atletas nos barcos, oito drones, três helicópteros, mais de 1.000 pessoas envolvidas… Será uma das maiores operações de sempre, com essa vontade de continuar a respeitar tudo o que é essa parte histórica de uma cerimónia de abertura dos Jogos com ideias mais fora da caixa que possamos conseguir criar”, contou o responsável.

A apresentação contou depois com intervenções de diretores por país e região, bem como de comentadores que conhecem bem os Jogos como Ranomi Kromowidjojo ou Lutalo Muhammad, antes de demonstrações de algumas modalidades como o breaking, que é uma das novidades em Paris-2024 não estando no programa já conhecido para Los Angeles-2028. Pelo meio, uma viagem de barco pelo Sena foi mostrando o ambiente que se começa a viver: bancadas ao longo de várias zonas do rio, várias estruturas já montadas nas zonas de alguns dos locais mais icónicos da cidade a começar pela Torre Eiffel, muitas pontes cortadas entre a paralisação total que haverá no coração da cidade a nível de trânsito. E se existem formas “habituais” de ver os Jogos em Portugal entre as escolhas feitas na RTP ou no Eurosport, pela primeira vez haverá agora a possibilidade de acompanhar qualquer desporto em qualquer fase, onde, quando e como se quiser no Max.

O Observador viajou a convite da Warner Bros. Discovery