Esta semana foram divulgados os relatórios financeiros da coroa britânica, que mostram que a monarquia do rei Carlos III vai beneficiar de um aumento de cerca de 50 milhões de euros. O Sovereign Grant, usado para financiar os gastos da realeza, cresce de mais de 86 milhões de libras (cerca de 102 milhões de euros) em 2024-25 para 132 milhões (mais de 156 milhões de euros) em 2025-26, um aumento de perto de 50 milhões. Isto acontece devido a um aumento nos lucros da Crown Estate, o conjunto das terras e propriedades detidas pela família em todo o Reino Unido.
O Sovereign Grant é financiado pelos contribuintes e usado para apoiar os deveres oficiais do monarca e outros custos, nos quais se incluem viagens oficiais, pagamento de funcionários que desempenham funções para os membros da realeza que trabalha ao serviço da coroa e a manutenção dos palácios ocupados. É baseado numa proporção dos lucros provenientes do Crown Estate, que é gerido de forma independente e possui ativos que ascendem a milhares de milhões de libras. Um relatório do Crown Estate divulgado na quarta-feira, dia 24 de julho, mostrou que este gerou lucros de 1,1 mil milhões de libras, ou seja, perto de 1,3 mil milhões de euros.
Este subsídio é financiado pelos contribuintes em troca da renúncia do rei às receitas totais do Crown Estate. A família real recebia 25% dos lucros deste organismo, mas um acordo feito no ano passado reduziu este financiamento para 12%, segundo informa a NBC News. Ainda assim, a contribuição do Crown Estate para o financiamento de 2025-26 tem um peso significativo. Uma parte do aumento deste financiamento destina-se à finalização de uma reforma pensada a 10 anos para o Palácio de Buckingham, que custa em torno de 369 milhões de libras (cerca de 436 milhões de euros) e que vai já no oitavo ano.
Além disso, o rei instalou painéis solares no Castelo de Windsor e aumentou o uso de combustível de aviação sustentável nos voos reais. A família real vai ter dois novos helicópteros no próximo ano para substituir os atuais, que já são antigos, uma “componente chave para Sua Majestade, como Chefe da Nação, e outros membros da família real cumprirem compromissos”, segundo refere o relatório do Sovereign Grant. A subvenção é revista a cada cinco anos, algo que deverá acontecer no ano de 2026-27.
Além disso, Carlos III recebe ainda rendimentos através da Privy Purse do ducado de Lancaster, enquanto o príncipe de Gales, William, recebe os lucros líquidos do ducado da Cornualha. Ambos são auditados de forma independente, segundo uma pesquisa sobre as finanças da monarquia publicada na semana passada no site da British House of Commons Library, que diz ainda que o rei recebe rendimentos privados provenientes de investimentos e de riqueza herdada, que não são tornados públicos, o que leva alguns críticos a sugerir que as finanças da monarquia estão “envoltas em nevoeiro”, de acordo com a NBC News.
As críticas a Carlos III e ao príncipe William
O soberano não tem a obrigação de pagar impostos, mas Carlos III (e antes a rainha Isabel II) e agora o príncipe herdeiro, William, pagam voluntariamente impostos desde 1993 sobre os rendimentos dos ducados e sobre os rendimentos de investimentos pessoais, refere a mesma pesquisa.
No entanto, o príncipe de Gales decidiu não revelar qual o valor dos impostos pagos sobre os rendimentos privados provenientes das suas propriedades. William herdou o ducado da Cornualha após a morte da avó, a rainha Isabel II, e consequente subida do pai ao trono, que gerou lucros de 23,6 milhões de libras no último ano (perto de 28 milhões de euros), segundo o último relatório anual da propriedade. Esta decisão marcou um contraste com a atitude tomada pelo pai, que revelava o valor pago anualmente. Para o ano de 2022, no qual subiu ao trono, Carlos III pagou 5,89 milhões em impostos (perto de sete milhões de euros).
O palácio de Kensington informou que o príncipe paga um nível “apropriado” de impostos e que a sua decisão de não publicar detalhes refletia “o que era exigido”, segundo o Telegraph. Pela sua decisão, William está a ser alvo de críticas por parte dos britânicos, mas não é o único.
O aumento de quase 50 milhões do Sovereign Grant não é visto com bons olhos por parte da população, num momento em que os britânicos enfrentam uma onda de dificuldades financeiras. “A monarquia é um logro. O rei Carlos a enriquecer 45 milhões de libras às custas do povo britânico, entre bancos alimentares, uma crise crescente no custo de vida, um NHS [Serviço Nacional de Saúde britânico] falido, um aumento da pobreza infantil, etc., é moralmente falido e nojento. Ele não traz nada para cima da mesa e deixa migalhas para o povo”, disse a advogada e ativista dos Direitos das Mulheres Shola Mos-Shogbamimu numa publicação no X.
Também Kevin Maguire, editor associado do The Mirror, deixou duras críticas ao monarca. “Nenhum custo de vida para o indulgente rei Carlos, com um aumento salarial de 45 milhões [de libras] concedido a um monarca hereditário abastado, que evitou impostos sobre herança dos bens da mãe. Depois dos seus 53%, os nossos enfermeiros e professores deveriam exigir mais do que uns míseros 5,5%”, escreveu.
A Grã-Bretanha é a sexta maior economia do mundo, mas encontra-se em recessão. O Banco de Inglaterra diz que poderá ser a recessão mais longa e a queda mais acentuada nos padrões de vida alguma vez registadas, além de ser a única nação do G7 cujo PIB ainda é inferior ao de antes da pandemia, diz a NBC News, que refere que um em cada seis agregados familiares britânicos recebe apoios da segurança social e quase um terço das crianças britânicas vive na pobreza, de acordo com dados do governo britânico. Quase um em cada dez britânicos deixou de pagar contas, avança o regulador da Autoridade de Conduta Financeira.
O afastamento de Annabel Elliot, irmã da rainha Camilla
Após o casamento de Carlos e Camilla, em 2005, o então príncipe de Gales contratou a cunhada como designer chefe das suas propriedades na Cornualha, no País de Gales e nas Ilhas Scilly, e desde então Annabel tem recebido um salário anual pelo seu trabalho, tarefa que desempenhou enquanto o atual rei era ainda príncipe herdeiro.
Com a subida de Carlos III ao trono em 2022, após a morte de Isabel II, o príncipe William herdou o ducado da Cornualha, que o pai detinha, e decidiu dispensar os serviços da irmã da rainha, ainda que essa decisão não estivesse relacionada com a qualidade do seu trabalho, segundo escreve o Telegraph. As últimas contas do ducado, referentes ao primeiro ano completo do príncipe William como duque da Cornualha, revelam que, pela primeira vez em quase duas décadas, a irmã de Camilla não foi paga pelos seus serviços, um período que se refere ao ano 2023-24.
As contas anuais do ducado mostram que durante o tempo em que desempenhou funções, Annabel foi paga “no curso normal dos negócios e em condições normais de mercado”, recebendo quantias que variam entre 19.625 libras (23.314 euros) e 82.272 libras (97.737 euros) para manter as propriedades arrendadas, bem como os escritórios do ducado e um viveiro de plantas. Além disso, foi reembolsada com valores adicionais a cada ano, variando de 7.160 libras (8.506 euros) a 90.285 libras (107.257 euros), pela compra de móveis, acessórios e outros artigos considerados necessários para o desempenho das suas funções. O ducado já tinha informado que os contratos para os trabalhos de design desempenhados por Annabel não foram objeto de concurso.