A ONU pediu esta quinta-feira ao governo do Bangladesh para “divulgar com urgência todos os detalhes da repressão das manifestações” registadas nas últimas semanas e disponibilizou-se para apoiar “um inquérito imparcial, independente e transparente” sobre eventuais violações dos direitos humanos.

“Temos conhecimento que numerosas pessoas foram vítimas de ataques violentos por parte de grupos aparentemente com ligações ao governo, e que não foi feito qualquer esforço para as proteger”, denunciou o Alto-comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Turk, num comunicado.

Esta é a segunda vez que o Alto-Comissário comenta os distúrbios ocorridos na semana passada no Bangladesh.

Desta vez, o representante da ONU apelou ao governo para restabelecer “um acesso total” à internet para “permitir a todos, incluindo aos jornalistas e aos ‘media’, de comunicar livremente e no respeito do direito internacional“.

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Volker Turk pediu ainda ao governo que forneça “os detalhes sobre as pessoas mortas, feridas ou detidas” e apelou às autoridades para garantir que a situação não se irá repetir e que não existirão represálias contra os participantes nas manifestações.

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Apelou ainda a uma reforma global do setor da segurança “para impedir futuros abusos e salvaguardar os direitos à liberdade de expressão, de reunião pacífica e de associação”.

A agitação civil da semana passada, com confrontos entre estudantes e as forças de segurança, provocou pelo menos 193 mortos, incluindo polícias, segundo uma contagem da agência noticiosa AFP a partir de balanços fornecidos pela polícia e os hospitais deste país do sul da Ásia.

O recolher obrigatório, imposto em reação aos distúrbios, foi esta quinta-feira suavizado com o restabelecimento da liberdade de circulação entre as 10h00 e as 17h00, enquanto milhares de soldados continuam a patrulhar as principais cidades e permanece em vigor o corte nas ligações da internet.

“Medidas brutais como o corte deliberado e geral da internet durante um período prolongado são contrárias ao direito internacional”, frisou Turk.

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Em paralelo, o representante indicou que esta medida pode limitar a capacidade de vigiar a atuação das forças policiais e militares “arriscando-se desta forma que aumente a impunidade das suas ações”.

Os protestos estudantis começaram no início de julho para exigir o fim do sistema de quotas para o acesso ao emprego público.

Apesar de inicialmente pacíficas, as manifestações ganharam intensidade na segunda-feira da semana passada, quando a primeira-ministra Sheikh Hasina rejeitou as suas exigências, que foram parcialmente confirmadas pelo Supremo Tribunal.