Com o objetivo de trazer os melhores pianistas do mundo aos habitantes da área metropolitana do Porto, o Porto Pianofest começa no dia 1 de agosto e decorre até ao dia 11. De forma a conhecer melhor as novidades da nona edição deste certame, o Observador falou com o fundador e diretor do evento, Nuno Marques. Este abriu o leque sobre o que podemos esperar dos artistas convidados, as missões do festival e do concerto que está a preparar.

O Pianofest aconteceu pela primeira vez em 2016. O diretor nasceu no Porto, mas, aos 18 anos, mudou-se para Londres para continuar a estudar piano. Depois de sete anos na capital inglesa, foi para Nova Iorque, onde fez o doutoramento no mesmo instrumento. Ainda regressou a Portugal, onde, durante sete anos, fez um segundo mestrado em Pedagogia da Música, mas acabou por regressar à cidade norte-americana, onde reside há dez anos.

A ideia de criar este festival nasceu da vontade de congregar as muitas experiências que Nuno foi acumulando. O Pianofest – que é uma óbvia montra para promover concertos de piano, mas também com aulas e professores de diferentes partes do mundo – reveou-se como “a melhor plataforma” para concretizar este desejo.

“Este era a forma mais adequada de criar um festival em torno do piano e da música em que pudesse trazer grandes pianistas dos quais sou fã e admirava, mas também de demonstrar um espírito de retribuir a Portugal e trazer para casa tantos talentos que estão lá fora”, explica o pianista.

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Desde a primeira edição, Nuno já viveu momentos que hoje diz “inesquecíveis” graças a este evento. “Uma das melhores sensações que tive foi assistir ao primeiro concerto deste evento, na Casa da Música. Foi muito realizador poder assistir à materialização de quase dois anos de trabalho. A partir daí foi sempre a subir”, afirma.

O fundador do Pianofest acrescentou que também foi muito marcante receber, no ano passado, uma atuação do Stars of American Ballet, um grupo ultra exclusivo com alguns dos melhores bailarinos do mundo”, descreve, e do qual é o diretor musical.

Para 2024, Nuno promete muitas mais novidades, destacando a estreia de um dos maiores nomes do jazz de fusão afro-cubana, Yosvany Terry, que se vai apresentar em formato de quarteto na apresentação do festival. “Este é um estilo menos conhecido em Portugal e na Europa, apesar da música cubana ser de alta qualidade. Este país tem uma tradição de músicos excelentes e achámos que era uma oportunidade tremenda poder trazê-lo aqui e será realmente uma abertura explosiva”, elogia. Este concerto vai acontecer a 1 de agosto, na Casa da Música, às 19h30 e os bilhetes custam entre 20 a 25 euros.

Além deste artista, o pianista destacou a estreia do seu próprio projeto, de nome Mensagem, onde juntará forças com a Soprano, Lara Martins, uma “superestrela dos musicais em Londres”, que participa há mais de 10 anos numa produção do Fantasma da Ópera.

“Eu e a Lara tínhamos um objetivo em comum de criar um projeto relacionado com a música portuguesa. Uma das necessidades que identificámos foi a falta de música para piano e voz com a grande poesia portuguesa que temos. Demos liberdade a compositores e eles criaram temas com inspirações no trabalho de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, Eugénio de Andrade, Camões e textos relacionados com o 25 de abril”, promete.

O pianista confessou que está entusiasmado pelo concerto e que é um grande “prazer” poder atuar na sua “casa”. “Estou há metade da minha vida praticamente fora de Portugal, portanto é sempre com grande emoção que volto. Nem sempre tenho vontade de atuar neste festival. Não quero associar demasiado o meu nome ao Pianofest. Mas este ano tocarei e é com muito gosto que venho apresentar este projeto criado por dois músicos portugueses que estão há 20 anos fora do seu lar”, confessa. Mensagem vai ser apresentado do Pátio da Casa – Museu Guerra Junqueiro, às 20 horas e os bilhetes podem ser adquiridos por 10 euros.

Nuno Marques promoveu ainda o concerto de Beatrice Berrut, que vai acontecer no icónico Salão Árabe do Palácio da Bolsa, ou o espetáculo Bach no Jardim, do americano americano Evan Shinners, que fará um concerto inteiramente baseado na obra do compositor alemão, de entrada livre.

Esta oportunidade de contribuir para a democratização da música clássica, com concertos mais baratos ou até de entrada gratuita, é um importante mote do PianoFest.

“A música clássica ou erudita requer uma predisposição para ouvir e está muitas vezes associada a concertos mais fechados e com entradas mais caras. Portanto, requer algumas condições que as pessoas nem sempre tem acesso. Queremos tirar a poeira a esta versão. A música é música, seja ela pop, rock, clássica ou jazz. Queremos chegar a todos de forma muito direta e aberta e estamos a fazer um esforço financeiro muito grande para garantir que conseguimos eliminar estas barreiras”, reforçou, recordando que os concertos não existem apenas no centro do Porto, mas também em Matosinhos e Famalicão.

Mas estas não são as únicas preocupações do Pianofest, que está também atento à representatividade de género dos artistas do seu cartaz. “O primeiro critério na seleção de artista é a qualidade, mas temos a preocupação de mostrar um grande alcance. Isto é uma parte integral das preocupações do festival”, começou por explicar.

“Não queremos que sejam sempre as mesmas caras, as mesmas pessoas, as mesmas músicas, as mesmas obras ou a mesma forma de tocar. Queremos que sejam artistas de qualidade com diferentes representações, de diferentes partes do mundo, de diferentes géneros e diferentes contextos também”. Além das mulheres artistas acima referidas, pode também encontrar no cartaz Sara Chordà e Raquel Costa.

Apesar do Pianofest ainda nem ter começado, questionámos o diretor quais eram os artistas que mais gostava de ver a atuar neste evento. Ainda que não referisse nenhum nome em concreto, mostrou-se muito entusiasmado com as possibilidades e futuro do certame.

“Ao longo destes anos, temos tido interesse em vários artistas e conseguido manter contacto em diversas redes internacionais o que nos permitiu concretizar muitos sonhos. Existe uma lista grande de pessoas que gostaríamos de apresentar e tenho a certeza que ao longo das próximas edições vamos conseguir trazê-los ao Porto”, prometeu.