Elizabeth Taylor fica na História como uma verdadeira diva e conquistou o título de forma exemplar. Tanto era notícia pelo seu trabalho de atriz, como pela vida pessoal preenchida com paixões, amizades e causas mediáticas. A moda teve um papel importante, claro, e contribuiu tanto como reflexo da sua personalidade como potenciando o carisma de estrela. Afinal, quantas mulheres podem usar um casaco Versace com retratos seus bordados, como a criação da marca italiana de 1992 que Liz usou no concerto de tributo a Freddy Mercury nesse mesmo ano? A atriz volta a ser notícia agora, com a chegada do documentário “Elizabeth Taylor: The Lost Tapes” ao canal de streaming HBO Max no dia 3 de agosto. Esta produção baseia-se em horas de entrevista e traz-nos a voz da atriz. Por aqui, apanhamos boleia para revisitar as suas escolhas de moda e alguns looks marcantes.
Se no cinema a diva não tinha medo dos papéis, na moda também não se deixava intimidar por brilhos, volume e excessos em geral. Na verdade, tudo lhe era permitido. Hoje os stylists pensam ao milímetro cada look que as atrizes usam em eventos públicos. No seu tempo, Elizabeth Taylor fazia de cada aparição uma revelação do seu guarda-roupa, um momento de moda e também um registo das tendências da época, tanto com looks de festa em eventos, como com roupa descontraída em férias ou em modo celebridade em viagem.
Na década de 1950, o corpo voluptuoso da atriz assentava na perfeição na silhueta ampulheta tão característica da época. Nos anos 1960 brilhou em inúmeros vestidos da casa Christian Dior, nome farol da Alta Costura. Na década seguinte rendeu-se ao estilo hippie e aos caftãs. Nos anos 1980 a estrela dedicou-se ao ativismo e juntou-se à luta contra a SIDA. Achava que o seu nome abria portas e a sua imagem chamava sem dúvida a atenção. A exuberância era quase um mandamento da moda na altura e Liz não desobedeceu, com coloridos vestidos, texturas brilhantes e arrojados equilíbrios entre decote e mangas de balão. A muitas destas peças juntaram-se carteiras e sapatos que integraram um mediático leilão da coleção de moda e de joias de Elizabeth Taylor na Christie’s em dezembro de 2011, nove meses depois da sua morte.
Só os vestidos de casamento de Taylor davam um estudo, dada a variedade de silhuetas e até cores. Teve sete maridos e casou oito vezes. O primeiro matrimónio aconteceu aos 18 anos com Conrad Hilton, herdeiro dos hotéis de luxo Hilton. Quatro anos depois casou-se com Michael Wilding com quem teve dois filhos. O casamento durou três anos e seguiu-se o produtor de cinema Mike Todd com quem teve uma filha e desta vez foi o destino que pôs fim à união, já que Todd morreu pouco depois num acidente de avião deixando a mulher devastada. Em 1959 Liz e o músico Eddie Fisher casaram num matrimónio que viria a durar cinco anos. Pelo meio, a atriz conheceu Richard Burton nas gravações de “Cleópatra” e o romance viria a ser mais épico do que o próprio filme com mais de três horas sobre a Rainha do Egipto. Reza a lenda desta deusa que foi durante estas filmagens em Roma, que se apaixonou também pelas marcas Bulgari e Valentino.
Elizabeth Taylor nasceu em Londres a 27 de fevereiro de 1932. Filha de pais norte-americanos, um negociante de arte e uma atriz, foi para os Estados Unidos, Los Angeles, ainda criança. Haveria de voltar ao Reino Unido para receber uma condecoração da Rainha Isabel II e tornar-se Dama do Império Britânico em 2000 e ao lado de Julie Andrews.
Teve mais de 50 anos de carreira e começou aos nove anos com a famosa Lassie, em 1943, como companheira de ecrã. A primeira vez que assumiu um papel protagonista em adulta foi em 1951 num filme de nome “Conspirator”. O filme terá sido um fracasso, mas o trabalho de Elizabeth Taylor deu nas vistas. O primeiro sucesso viria em 1951 com o filme “A Place in the sun”, ao lado de Montgomery Cliff. “BUtterfield 8” (1960) e “Quem tem medo de Virginia Woolf” (1966) valeram-lhe os dois Óscares de Melhor Atriz da sua carreira.
Mas “Gata em Telhado de Zinco Quente” (1958) e “Cleópatra” (1963) consolidaram o seu estatuto de diva e um lugar na história da moda, com o vestido de lingerie que usou no primeiro (e muito semelhante a um que já tinha usado em “BUtterfield 8”) e a maquilhagem e figurinos que usou no segundo. A beleza da atriz já era famosa e a partir de então tornou-se mítica. Aos olhos claros de tom quase indescritível juntava-se um cabelo escuro e volumoso com o qual Taylor experimentou diversos penteados e acessórios de cabeça. A atriz juntou-se ao negócio da beleza e lançou dois perfumes extremamente bem sucedidos em parceria com o nome gigante da cosmética Elizabeth Arden, Possession em 1987 e White Diamonds em 1991.
Era com as joias que Liz mais fazia justiça ao seu estatuto de diva. Diamantes e pedras de variadas cores em diferentes peças, entre colares, anéis e pulseiras e até uma tiara, que Mike Todd lhe ofereceu e que foi usada várias vezes, como por exemplo nos Óscares em 1957. “Quando o Mike me deu esta joia disse-me: ‘És a minha rainha e acho que deves ter uma tiara’”, escreveu Elizabeth Taylor no seu livro “My love affair with jewellery”. A sua preciosa coleção bateu alguns recordes de valor no leilão e reverteu para a fundação da atriz na luta contra a SIDA. A tiara que se tornou famosa e simbólica da relação Taylor/Todd foi vendida por mais de quatro milhões de dólares. Uma forma de coroar o estilo eclético de Elizabeth Taylor.
Elizabeth Taylor: a subtil diferença entre ser atriz e ser uma estrela