Os confrontos de sexta-feira à noite levaram à hospitalização de quatro polícias durante um tenso confronto à porta de uma mesquita na cidade de Sunderland, no nordeste de Inglaterra.
Durante a violenta desordem de sexta-feira à noite, os manifestantes atiraram barris de cerveja, extintores de incêndio e pedras aos agentes da polícia. Um carro foi incendiado e uma esquadra da polícia foi atacada. Muitos dos envolvidos não eram da cidade e viajaram para causar o caos, segundo a polícia.
A violência em Sunderland, que levou à detenção de dez pessoas, é o mais recente surto de violência dos últimos dias e noites, que surgiram ostensivamente na sequência do esfaqueamento de segunda-feira numa aula de dança na cidade costeira de Southport, no noroeste do país, que causou a morte de três raparigas e ferimentos em várias outras. Um jovem de 17 anos foi detido.
Os falsos rumores espalhados na Internet sobre a identidade do jovem, que é muçulmano e imigrante, alimentaram a ira dos apoiantes da extrema-direita.
Os suspeitos com menos de 18 anos não costumam ser identificados no Reino Unido, mas o juiz Andrew Menary ordenou que Axel Rudakubana, nascido no País de Gales e filho de pais ruandeses, fosse identificado, em parte para impedir a propagação de desinformação.
Numa conferência de imprensa realizada no sábado, após a limpeza, o superintendente-chefe da polícia de Northumbria, Mark Hall, descreveu os protestos violentos em Sunderland como “imperdoáveis” e que quatro polícias ficaram feridos, três dos quais em consequência direta dos distúrbios.
“No decurso da noite, os nossos agentes foram confrontados com níveis de violência graves e sustentados. Não se enganem, se estiveram envolvidos ontem à noite, esperem ser confrontados com toda a força da lei”, afirmou.
Durante o fim de semana são esperadas mais de duas dezena de protestos, incluindo em Belfast, Cardiff, Liverpool e Manchester.
Segundo a polícia, muitos estão a ser organizados ‘online’ por grupos obscuros de extrema-direita, que estão a mobilizar apoios com frases como “basta”, “salvem os nossos filhos” e “parem os barcos”.
Estão também previstos contraprotestos, com a organização Stand Up To Racism (Ergam-se Contra o Racismo) a manifestar-se contra a islamofobia e a extrema-direita.
No centro da cidade de Belfast já foram destacados agentes com equipamento antimotim e veículos da polícia formaram uma barreira entre uma manifestação antirracismo e os manifestantes anti-islâmicos. Foram lançados alguns fogos-de-artifício no meio de uma troca tensa de palavras.
A polícia destacou mais agentes durante o fim de semana para todos os cantos do Reino Unido, disponibilizou mais celas de prisão e vai utilizar tecnologia de vigilância e de reconhecimento facial.
Este sábado, na rede social X, a nova ministra do Interior, Yvette Cooper, afirmou que os criminosos que atacarem a polícia e fomentarem a desordem “pagarão o preço” das suas ações e que a polícia tem todo o apoio do Governo para “tomar as medidas mais enérgicas possíveis”.
O ataque de segunda-feira a crianças numa aula de dança de verão com o tema ‘Taylor Swift’ chocou um país onde o crime com facas é um problema antigo e preocupante, embora os esfaqueamentos em massa sejam raros.
Rudakubana foi acusado de homicídio pelo ataque que matou Alice Dasilva Aguiar, de 9 anos, Elsie Dot Stancombe, de 7, e Bebe King, de 6, e de 10 acusações de tentativa de homicídio pelas oito crianças e dois adultos que ficaram feridos.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, atribuiu a violência ao “ódio de extrema-direita” e prometeu pôr fim ao caos, garantindo que a polícia de todo o Reino Unido receberia mais recursos para impedir “o colapso da lei e da ordem nas ruas”.
Numa conferência de imprensa na quinta-feira, Starmer afirmou que a violência nas ruas era “claramente motivada pelo ódio de extrema-direita”, enquanto anunciava um programa que permitia à polícia partilhar melhor as informações entre as agências e agir rapidamente para efetuar detenções.
“Isto é coordenado, isto é deliberado. Não se trata de um protesto que se tenha descontrolado. É um grupo de indivíduos que está absolutamente inclinado para a violência”, frisou Starmer.