Enviado especial do Observador em Paris, França
Podia ter caído para as medalhas com um contexto diferente de prova, acabou por ficar no diploma e naquele que iguala até agora os melhores resultados de Portugal em Paris depois da medalha de bronze de Patrícia Sampaio nos -78kg. No final, apesar de restar sempre aquela sensação de que fosse possível chegar ainda um pouco mais longe, a forma como Maria Tomé levantou os braços ao cortar a meta resumia aquilo que foi uma edição de sonho para o triatlo nos Jogos de 2024, com três diplomas e um 11.º lugar em cinco provas. Os pódios terão de ficar para Los Angeles mas não havia melhor homenagem a todo o trabalho feito por uma modalidade que começou a mostrar a camisola nacional ao mundo através de Vanessa Fernandes, uma das maiores atletas nacionais neste século com vários resultados internacionais que poucas poderão mostrar.
Introduzido no programa olímpico em 2000 sem a participação de atletas portugueses, foi com Vanessa Fernandes que Portugal se apresentou, mostrou e chegou à glória na modalidade, dando sequência ao oitavo lugar de Atenas com uma medalha de prata em Pequim-2008 que só não chegou mais alto porque Emma Snowsill estava num dia em que era impossível perder. Logo a seguir começou a mostrar-se mais o setor masculino, com João Silva a ficar à beira de um diploma em Londres-2012 com um nono lugar e João Pereira a fazer o então melhor resultado com uma quinta posição no Rio-2016 a nove segundos do bronze. Depois, o hiato. Era quase como se os resultados nacionais em Tóquio-2020, com Melanie Santos em 22.ª e João Silva em 23.º, mostrassem que o triatlo português já vivera melhores dias. Paris inverteu essa realidade.
Durante o percurso com chegada à Ponte Alexandre III que voltou a juntar milhares e milhares de pessoas nas ruas principais do centro de Paris, após o arranque num rio Sena cada vez mais criticado mas que mesmo assim voltou a receber mais uma prova, Portugal sonhou com uma medalha e nem os ligeiros atrasos nas duas primeiras partes iniciais impediu Vasco Vilaça de colocar a formação nacional na luta pelo bronze. Não era possível. Não que Maria Tomé tenha interpretado mal o seu papel, muito longe disso, mas porque ali estavam as melhores das melhores. Ainda assim, e depois do quinto lugar de Vilaça, da sexta posição de Ricardo Batista e do 11.º posto de Maria Tomé nas provas individuais, Portugal está de volta no triatlo.
Numa prova que se tornou numa luta a três no último percurso, a vitória acabou por sorrir à Alemanha, com Laura Lindemann a ser mais rápida no sprint final (1.25.39) do que Taylor Knibb, dos EUA (1.25.40), e Beth Potter, da Grã-Bretanha (1.25.40), atletas que caíram após esse esforço hercúleo para ficar no melhor lugar do pódio. Só mesmo assim não houve margem para mais recuperações, com a França a terminar em quarto com Cassandre Beaugrande (1.26.47) e Portugal a fechar em quinto com Maria Tomé (1.27.08), que também na parte final da corrida se conseguiu superiorizar a Itália, Suíça e Brasil, que fecharam os diplomas.
Apesar de ter sofrido uma penalização de dez segundos que atrasou a parte da natação, Ricardo Batista foi o melhor no ciclismo e terminou o primeiro percurso nacional na sétima posição. Seguiu-se Melanie Santos, que fez a transição da natação para o ciclismo em deixou a equipa de Portugal na oitava posição antes de Vasco Vilaça ser o melhor na natação e o segundo no ciclismo para terminar como o melhor do terceiro percurso já com Alemanha e Grã-Bretanha destacadas antes de também os EUA dispararem na frente antes de Maria Tomé tentar ao máximo e com sucesso garantir mais um diploma com uma quinta posição.
“É muito bonito três diplomas e sairmos todos juntos com um diploma. Poucos desportos conseguem fazer isso e mostra potencial do triatlo em Portugal. Medalha? Tínhamos falado, nós sonhamos muito alto. Dei tudo depois das provas do Ricardo e da Melanie, que correram muito bem, queria ter deixado ainda mais espaço para a Maria mas são sonhos e os sonhos não se perdem. Não houve nenhum detalhe que tivesse faltado. O Ricardo teve uma penalização mas trabalhou muito, também fiquei em terceiro… Não existe um detalhe, é trabalhar”, comentou Vasco Vilaça no final, antes de recordar também Vanessa Fernandes: “Sem ela não estávamos cá e não havia esta estafeta. É o nosso ídolo. Nunca pensamos que alguém como ela se comova com aquilo que dizemos mas vi que foi isso que aconteceu e foi algo muito bonito”.