O mistério que rodeia a construção das pirâmides no Egito continua a provocar discussões até aos dias de hoje, mais de 4700 anos depois. Os métodos utilizados pela civilização ancestral não são conhecidos atualmente, no entanto, muitos especulam e daí surgiram infinitas teorias. Porém, existe a possibilidade de estarmos mais perto de uma resposta definitiva após novas interpretações terem sido publicadas por um grupo de geólogos e engenheiros da Paleotechnic, um instituto privado francês focado na pesquisa de tecnologias ancestrais: o uso de um elevador hidráulico, de estrutura semelhante a um vulcão.

O estudo teve como modelo a pirâmide de Djoser, construída em honra do Faraó homónimo no século 28 AC. A primeira pirâmide construída em solo egípcio foi, em tempos, a estrutura mais alta do planeta, atingindo os 62m de altura. Apesar de não ter blocos tão pesados como as icónicas pirâmides de Gizé, que se aproximam das 10 toneladas, a forma como se manusearam as pedras de 300kg permanecia uma incógnita.

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O CEO da Paleotechinc, Xavier Landreau, revelou à CNN que o foco de muitos estudos da área têm sido pirâmides mais pequenas e recentes (1980 – 1075 AC), pelo que o seu objetivo era tentar retirar conclusões acerca das estruturas mais antigas e de maiores dimensões.

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Rampas, gruas e ganchos são os métodos habitualmente mencionados na construção destas pirâmides de menor escala, mas o grupo de engenheiros apresenta a hipótese de um elevador hidráulico ter sido concebido e utilizado pelos egípcios de modo a mobilizar os blocos.

Chegaram a esta conclusão após uma análise extensiva da topografia local onde se encontra a pirâmide, o que acabou por revelar um fluxo de água de um ramo que já não existe do rio Nilo, e que passava diretamente por baixo da estrutura, vindo pela provável fonte de calcário utilizada para fazer os blocos, Gisr El-Mudir, local que se acredita ter sido ocupado por uma fortaleza ou arena. Esta informação permitiu concluir a existência de uma possível barragem pequena na região, o que permitia o armazenamento e o controlo do fluxo de água, tanto na direcionalidade, como na filtragem de sedimentos indesejados que poderiam entupir o canal.

Topography of north Saqqara

Este sistema de tratamento de águas proposto pelos franceses indica também o controlo da qualidade da água, tanto para consumo como para irrigação e transporte. Com isto, e com o facto de se acreditar que existia uma maior frequência de chuvas na região quando comparada aos dias de hoje, a hipótese da utilização da água como recurso de transporte tornou-se consideravelmente mais válida.

Através da acumulação de água, os autores do estudo propõem a possibilidade da construção de uma estrutura “vulcânica”, que permitia a ascensão das rochas, a partir de uma série de movimentos de enchimento e esvaziamento, semelhante aos de um vulcão. Daqui, Landreau e os restantes autores concluíram que a manipulação do fluxo de água foi fundamental para a construção da pirâmide.

The identified building process of the step pyramid: A hydraulic lift mechanism.

Assim, coloca-se uma nova teoria em cima da mesa, podendo ser utilizada como base para se compreender melhor o fenómeno de construção das restantes pirâmides semelhantes nos afluentes desaparecidos do rio Nilo. E que já tinha sido recentemente avançada.

Mistério da construção das pirâmides do antigo Egito pode ter sido resolvido