Uma zona fluvial de Arnoso Santa Eulália, em Vila Nova de Famalicão, está contaminada com várias bactérias, o que, após denúncia, levou a Junta local a “abrir as comportas e a despejar” a água do recinto para evitar banhos.

A denúncia para a presença de bactérias como a salmonela, a E. coli e a Enterococcus foi feita por um grupo denominado Amigos do Pelhe, após terem custeado as análises bacteriológicas junto de um laboratório, as quais confirmaram os “piores receios”, pois na zona há explorações agrícolas e vacarias, além da cor e do cheiro que vem do rio Guizande.

Contactadas pela Lusa, a câmara de Famalicão, distrito de Braga, e a União das Freguesias de Arnoso (Santa Maria e Santa Eulália) e Sezures, que, publicamente, promoveram o local e incentivaram as visitas ao espaço de lazer, assumem desconhecer a situação.

A junta gere o espaço, referindo no seu site que “a praia fluvial tem vindo a tornar-se um dos pontos mais atrativos da freguesia”, acrescentando que “fazem parte do recinto da praia uma ampla área com espaços verdes para se desfrutar de um piquenique e de um estabelecimento de apoio de praia, que também funciona como bar”.

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“Não promovemos nem incentivamos a ida a banhos. Promovemos o local, o parque de lazer, o Mosteiro de Santa Eulália (Arnoso). As pessoas sabem que é da sua inteira responsabilidade a utilização da água”, disse à Lusa o presidente da Junta, esclarecendo não se tratar de “uma praia fluvial”, mas antes de uma zona em que foram colocadas comportas/represas para prender a água para rega.

Em declarações à Lusa, Jorge Amaral dá conta da existência no local de uma placa com o aviso “Água não controlada”, assumindo que a junta “nunca” pediu análises bacteriológicas, pois “a responsabilidade dos rios não é das juntas”, mas da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

“No ano passado [a zona] nem encheu. Usaram [a água] só para rega. É um rio de regadio. Este ano, como há mais água e está calor, as pessoas vão. Mas não incentivamos os banhos. As pessoas fazem o que entenderem”, frisa o autarca.

Após tomar quarta-feira conhecimento dos resultados das análises dos Amigos do Pelhe, Jorge Amaral revelou que “foram abertas as comportas”.

“A represa foi despejada e está vazia. Já não tinha muita água e agora apenas tem a água que corre no rio, que é muito pouca. Este ano não haverá mais banhos, pois não há caudal. No próximo ano haverá interdição a banhos”, assegura o autarca.

Em 6 de agosto, o município de Famalicão fez uma publicação nas suas redes sociais onde se lia: “Já visitou o espaço de lazer junto ao Mosteiro de Arnoso? De que está à espera? Aproveite as férias para se divertir e descansar no nosso concelho!”. A publicação estava acompanhada de fotos com pessoas e crianças dentro de água.

Antes, em 30 de julho, na sua página de Facebook, o presidente da câmara, Mário Passos (PSD) publicava: “Dias de muito calor em Arnoso, Vila Nova de Famalicão!”, acompanhada de uma foto de pessoas, incluindo crianças, a usufruir do rio.

“As publicações tinham apenas e só como objetivo dar a conhecer o espaço de lazer, como fez aliás noutras publicações idênticas, numa estratégia de promoção destes e outros locais espalhados pelo concelho”, explica a câmara, em resposta escrita enviada à Lusa.

O município adianta que, ao tomar conhecimento das análises, consultou os serviços técnicos.

“De imediato, informamos a Junta de Freguesia da União de Freguesias de Arnoso (Santa Maria e Santa Eulália) e Sezures, entidade gestora do espaço, do conteúdo das mesmas e solicitámos a interdição do acesso à água até esclarecimento cabal da situação. Mais ainda, os serviços do município informaram, no imediato, através de ofício, enviado à APA, a informação recebida, solicitando a averiguação da situação e a adoção das medidas necessárias com vista à resolução deste assunto”, indica a autarquia.

A Lusa questionou a APA, mas até ao momento não obteve respostas. De acordo com informação no site da APA sobre zonas balneares, aquele espaço em Famalicão não consta como praia fluvial.