Resiliência, paciência, resistência. Erik ten Hag pode ter os seus defeitos entre as inevitáveis virtudes mas é um treinador que, quando coloca algo na cabeça, dificilmente se desvia desse objetivo. Em condições normais e perante tudo o que se tem passado no Manchester United nos últimos anos, o neerlandês que se destacou ao serviço do Ajax já teria há muito saído de Old Trafford sem deixar propriamente muitas saudades pela sua passagem. Ao invés, resistiu a tudo. Resistiu aos maus resultados, com uma Taça da Liga em 2023 e uma Taça de Inglaterra em 2024 a disfarçarem más campanhas na Premier e na Europa (e esta época a equipa vai voltar a estar ausente da Champions). Resistiu à contestação dos adeptos, que em vários jogos foram pedindo a sua saída. Resistiu às críticas de Cristiano Ronaldo. Resistiu à troca de donos. Resistiu mesmo a tudo.

Foi assim que, em 2024/25, muitas coisas mudaram menos o treinador. Mais: apesar de não haver grandes resultados desportivos visíveis após o investimento nas duas últimas temporadas, os cordões da bolsa foram continuando abertos na contratação de jogadores. Há muitas críticas internas aos cortes que estão a ser feitos no clube, nomeadamente o facto de ter sido abolido o saco do lanche para todos os funcionários em dias de jogos e até as mesas colocadas junto de casas de banho onde são deixadas as sobras das tribunas, mas para melhorar o plantel foi feito um derradeiro esforço em busca do resgate do United que todos conheciam na era Ferguson mas que desapareceu sem o técnico escocês no clube. Na primeira amostra, correu bem.

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Ten Hag conta com uma defesa quase nova, com as contratações de De Ligt, de Mazraoui e sobretudo de Leny Yoro, um dos defesas centrais mais promissores do futebol europeu e que chegou do Lille a troco de 62 milhões de euros, está prestes a assegurar Manuel Ugarte para o meio-campo mas viu Joshua Zirkzee, talvez a cara nova com menos “peso” para 2024/25, sair do banco para marcar o único golo no triunfo frente ao Fulham no arranque da Premier League em Old Trafford. Agora, no primeiro encontro como visitante, surgia o Brighton de Fabian Hürzeler, o técnico mais novo de sempre da competição (31 anos) que se destacou com a subida do St. Pauli e que teve um início auspicioso com um triunfo frente ao Everton por 3-0.

No final, imperou a “lei Ten Hag” onde tudo o que podia correr mal no tempo e no espaço correu ainda pior. Na primeira derrota da época, houve dois golos anulados, um ‘9’ que passou de herói na ronda inicial a “vilão” na segunda jornada ao invalidar o momento da reviravolta de forma quase involuntária, muitos assobios aquando da substituição de Bruno Fernandes, uma troca entre Maguire e De Ligt que mais não fez do que retirar coesão defensiva à equipa e o habitual golo sofrido por um antigo jogador, Danny Wellbeck, que se tornou o jogador com mais golos aos red devils após deixar Old Trafford. Por mais que se tentem dar passos rumo a um futuro melhor, há sempre fantasmas do passado que ensombram o presente.

Os red devils até começaram melhor o encontro, perdendo uma primeira oportunidade criada num estilo mais direto com Onana a lançar Diogo Dalot, que ganhou em velocidade pela esquerda antes do cruzamento ao segundo poste para Diallo desviar ao lado (12′). O lateral português, um dos mais ativos na metade inicial, ainda tentou também a meia distância por cima (26′) mas bastou um erro numa organização defensiva bem mais sólida do que na última temporada para o Brighton passar para a frente, com Wellbeck a aproveitar uma insistência após cruzamento que atravessou toda a área para marcar à antiga equipa e chegar aos 100 golos na carreira – e sexto ao United (32′). No minuto seguinte, Rashford ainda conseguiu fazer o empate com nota artística numa das poucas aparições que teve mas o lance foi invalidado por fora de jogo.

Havia mais história guardada para a segunda parte. Muito mais história. Tanta que foi preciso esperar até aos descontos para haver uma decisão no encontro: Wellbeck deixou outra ameaça com um desvio de cabeça à trave na sequência de um livre lateral (59′), Amad Diallo fez o empate numa jogada individual da direita para o meio até ao remate que sofreu ainda um desvio num adversário (60′), Garnacho marcou o golo da reviravolta após assistência de Bruno Fernandes mas o lance foi anulado porque o toque final bateu ainda em Zirkzee em cima da linha com o avançado em posição irregular (70′) e João Pedro, aproveitando um buraco enorme na defesa do United, fez isolado o 2-1 final de cabeça aos 90+5′.