O filme “Sobreviventes”, de José Barahona, um olhar sobre os portugueses colonialistas e a escravatura a partir da história de um naufrágio, chega às salas de cinema em outubro, foi anunciado esta quarta-feira.

O filme — uma ideia de José Barahona, com argumento coescrito com José Eduardo Agualusa, que remete também para o livro “Nação Crioula”, do autor angolano, e para a personagem fictícia Fradique Mendes — tem estreia comercial em 3 de outubro, segundo a distribuidora Zero em Comportamento, num comunicado divulgado esta quarta-feira.

Rodado em 2022 na costa portuguesa, o filme conta com interpretações, entre outros, de Anabela Moreira, Zia Soares, Ângelo Torres e Miguel Damião.

Em junho do ano passado, quando estava a finalizar o filme, José Barahona contou à Lusa que “Os Sobreviventes” é “um olhar sobre a escravatura”.

“É uma história dos sobreviventes do naufrágio de um navio negreiro em meados do século XIX numa altura em que o tráfico está a acabar”, referiu.

Entre brancos e negros, os náufragos vão dar a uma ilha deserta, perdida no Atlântico, onde põem à prova valores morais e sociais por questões de sobrevivência.

“Vermos os portugueses tendo atitudes muito racistas e muito esclavagistas não é tão habitual no cinema português quanto isso”, considerou José Barahona, para quem falar de colonialismo, escravatura e do período designado “Descobrimentos” é falar de “uma questão complexa que está muito em cima da mesa hoje em dia”.

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“Estamos a levantar esse véu de uma coisa que nós aqui [em Portugal] costumamos varrer para debaixo do tapete; esse crime enorme que os portugueses cometeram que foi o tráfico de escravos e que depois continuou depois da independência do Brasil. […] As comunidades negras quer no Brasil quer em Portugal estão a querer que todos nós olhemos para esse período da história de outra maneira”, sublinhou na altura o realizador.

“Os Sobreviventes”, filmado a preto e branco, também remete para “a perspetiva dos angolanos”. “Há personagens fundamentais no filme que são angolanos escravizados que foram tirados de Angola e enviados para o Brasil”, disse.

O filme, uma produção da brasileira Refinaria Filmes e da portuguesa David & Golias, foi apresentado no 21.º Festival IndieLisboa, que aconteceu entre 23 de maio e 2 de junho deste ano.

José Barahona, que tem trabalhado em cinema em Portugal e no Brasil, é autor, entre outros, dos filmes “Nheengatu – A Língua da Amazónia” — que também aborda questões sobre colonialismo — e “Estive em Lisboa e lembrei de você”.