Tóquio já estava superado, o Rio de Janeiro já está igualado: Luís Costa conquistou esta quarta-feira o bronze no contrarrelógio individual da classe H5 dos Jogos Paralímpicos, no ciclismo adaptado, e alcançou a quarta medalha da participação portuguesa, as mesmas de 2016 e já mais duas do que em 2021.

Na terceira participação da carreira nos Jogos Paralímpicos, aquele que é o atleta mais velho da delegação portuguesa alcançou o pódio pela primeira vez: até aqui, somava quatro diplomas, com um 6.º lugar na prova em linha e um 7.º no contrarrelógio em Tóquio e um 8.º nas duas provas no Rio de Janeiro.

Aos 51 anos, o atleta natural de Castro Verde junta-se a Miguel Monteiro (ouro no lançamento do peso), Cristina Gonçalves (ouro no boccia) e Diogo Cancela (bronze na natação) no lote de medalhados portugueses em Paris. Antigo paraquedista e inspetor da Polícia Judiciária de profissão, sempre praticou desporto e teve muita atividade física, mas todos os planos que tinha sofreram um verdadeiro abalo no dia em que cumpriu 30 anos.

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Em junho de 2003, numa curta viagem de apenas oito quilómetros entre Montes Velhos e Aljustrel, sofreu um grave acidente de mota. “Tinha uma Ducati há um mês. Vinha da casa dos meus pais em direção à da minha sogra, onde ia ser a festa. Ao passar a linha do comboio, à entrada da vila… Só me lembro de acordar cinco dias depois. Ninguém viu o acidente, fui cuspido contra um sinal de trânsito, bati com a perna, não a parti, mas esmaguei a artéria principal da zona do joelho. Quando acordei no hospital o médico disse logo que iam ter de me cortar a perna. Congelou-se o bolo e comeu-se um mês depois”, explicou há alguns anos numa entrevista ao MaisFutebol.

Agora atleta do Sporting, comprou a primeira bicicleta adaptada em 2012 e começou a praticar a modalidade. “Eu já fazia desporto diariamente, sempre fiz desporto. O que mudou foi ter passado a levar isto muito mais a sério. O ciclismo foi por acaso. Comecei a ver os Jogos Paralímpicos nos de Londres. E pensei: ‘E se eu fosse à internet, ver o que há para aqui, que raio de veículos são aqueles?’. Quando dei por isso já tinha uma e comecei a treinar. No início só queria dar umas voltinhas. Consegui bicicletas em campanhas de angariação de fundos, no Facebook. A minha primeira prova foi em março de 2013″, acrescentou.

Assinou pelos leões em 2015 e depressa percebeu que não tinha competição em Portugal, somando títulos nacionais e começando a aparecer em destaque nas provas internacionais. Estreou-se nos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro, com os tais oitavos lugares nas duas disciplinas do ciclismo adaptado, e regressou em Tóquio para repetir os dois diplomas com um sexto lugar na prova em linha e um sétimo no contrarrelógio. Esta quarta-feira, mais de 20 anos depois do acidente que lhe mudou a vida e enquanto atleta mais velho da delegação portuguesa, alcançou a primeira medalha.

Na mesma entrevista ao MaisFutebol, Luís Costa explicava que se agarrou ao filho, que tinha apenas quatro meses na altura do acidente, e que o apoio psicológico que nunca lhe faltou acabou por ser preponderante para a recuperação. “Agarrei-me a tudo isso. Se não fosse por mim, que fosse pelo meu filho. Tenho noção de que, se não tivesse as condições de emprego que tinha, uma vida familiar estruturada, se não fosse isso, poderia ter entrado pelo caminho inverso. Da depressão, da revolta. Tenho consciência de que tenho muita força”, terminou.