O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, insistiu esta sexta-feira que o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, precisa de provar que ganhou as eleições presidenciais realizadas em julho passado na Venezuela. “Acho que o comportamento de Maduro deixa a desejar”, atirou o Chefe de Estado brasileiro.

Questionado sobre a crise política no país vizinho durante uma entrevista à rádio Difusora, da cidade brasileira de Goiânia, Lula da Silva destacou que o líder venezuelano, como presidente, “deveria provar que era o favorito do povo venezuelano, mas não o faz”.

O Presidente brasileiro lembrou depois o que aconteceu com o seu antecessor, Jair Bolsonaro, após as eleições presidenciais do Brasil de 2022. “Quando o tipo é extremista, ele não aceita [o resultado de eleições]. Bolsonaro ficou trancado a chorar quase um mês, foi embora para os Estados Unidos. Eu acho que Maduro deveria falar o seguinte: ‘Eu vou provar que sou o preferido do povo’, mas ele não faz'”, afirmou Lula da Silva, citado pelo uol notícias.

Além disso, Lula da Silva salientou que não reconheceu o “resultado eleitoral da Venezuela, [porque estava] apenas a exigir que Maduro tivesse entregado as atas para o Conselho Nacional Eleitoral, que tinha três membros do Governo e dois da oposição. Ele [Maduro] preferiu não passar pelo colégio eleitoral e foi direto para o Supremo Tribunal”, afirmou o presidente brasileiro.

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“Então, eu senti-me no direito de dizer que não reconhecia aquilo [o resultado da eleição], porque não estava correto, porque eu também não reconheço o facto de a oposição ganhar. Ali [na Venezuela] só tinha uma solução, ou fazer uma nova eleição, ou fazer uma coligação para que pudessem conviver democraticamente”, acrescentou.

Lula da Silva afirmou que o Brasil e a Colômbia, dois países afetados pela crise migratória causada pela fuga de milhares de venezuelanos insatisfeitos com o regime de Maduro e que tentam negociar uma solução para a crise no país vizinho, decidiram adotar a mesma posição em relação à eleição alegadamente vencida por Maduro.

“Nós estamos agora numa posição única Brasil e Colômbia. A gente não aceitou o resultado das eleições, mas não vamos romper relações e também não concordamos com a punição unilateral, o bloqueio, porque o bloqueio não prejudica o Maduro, o bloqueio prejudica o povo e acho que o povo não deve ser vítima disso”, concluiu Lula da Silva.

A vitória de Maduro foi proclamada pelo Colégio Eleitoral Nacional (CNE) e posteriormente ratificada num polémico processo que o próprio líder venezuelano promoveu perante o Supremo Tribunal do seu país, embora até à data não tenham sido apresentados os registos detalhados das votações.

Lula da Silva, juntamente com o presidente colombiano, Gustavo Petro, e em menor medida com o presidente mexicano, Andrés López Obrador, tentaram a mediação sem sucesso e insistiram na publicação das atas de votação da eleição, que a oposição divulgou num site com resultado amplamente favorável ao seu candidato, Edmundo González Urrutia.

Esta semana, a crise entre Maduro e a oposição escalou quando o Ministério Público da Venezuela pediu à justiça que emitisse um mandado de prisão contra Urrutia, depois de este não ter comparecido a três convocatórias, nas quais devia prestar declarações no âmbito da investigação sobre a publicação das atas recolhidas por testemunhas e membros das mesas de voto divulgadas pelo seu grupo político.

A PUD divulgou as atas, que o executivo, por sua vez, qualificou de falsas, depois de o Conselho Nacional Eleitoral ter proclamado Maduro como vencedor das eleições.

A vitória do atual presidente foi questionada por vários países, alguns dos quais apoiam a afirmação de que González Urrutia ganhou a liderança do país.