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"Wise Guy": onde acaba David Chase e começa "Os Sopranos"?

Continuando a celebrar os 25 anos da série revolucionária, um novo documentário-entrevista na Max revela mais sobre a história, as personagens e o criador de tudo isto.

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James Gandolfini, protagonista e eterno Tony Soprano, e David Chase, fotografados durante a rodagem da série

Getty Images

James Gandolfini, protagonista e eterno Tony Soprano, e David Chase, fotografados durante a rodagem da série

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Quando The Wire se estreou em 2002, David Simon e a HBO chegaram à conclusão que uma boa forma de mostrar à imprensa o que queriam com a nova série passaria por enviar os quatro primeiros episódios para visionamento, ao contrário do que se fazia na época: mostrar o episódio-piloto e pouco mais. Uma forma atípica, ainda para mais quando ainda se enviava fisicamente o material e não através de um link (como agora). Poder-se-ia achar que em 2002, três anos após a estreia de Os Sopranos, a HBO já fosse um valor seguríssimo e que o risco seria mínimo. Mas não era bem assim. Era algo que ainda estava em transformação e construção.

Durante anos, a HBO foi o canal de cabo que se usava para ver boxe, filmes (sobretudo eróticos/softcore) e uma ótima programação de late night (infelizmente não disponível para ver na Max). Em simultâneo, ao longo dos 1990s a programação foi mudando. Assumiram-se riscos com Garry Shandling e o brilhante The Larry Sanders Show (1992-1998); ou com Mr. Show with Bob and David (1995-1998), de Bob Odenkirk e David Cross, que ainda hoje se vê como um fenomenal programa de sketches; a excelente série prisional Oz (1997-2003) também conseguiu um lugar na história; e a revolução popular urbana de Sexo e a Cidade (1998-2004) foi o que ainda se vê. Os Sopranos (1999-2007) surgiu num momento de viragem do século mas, é importante relembrar, estreou-se numa estação que ainda não era associada a prestígio.

[o trailer de “Wise Guy”:]

Como o criador da série agora clássica conta em Wise Guy: David Chase And The Sopranos — documentário em duas partes realizado por Alex Gibney se que estreia este domingo na Max — foi preciso bater em muitas portas antes de chegar à HBO. Todas disseram não: ou não perceberam o que estava em causa ou queriam outra coisa. Chase, na altura nos meados dos seus 50 anos, só queria ter uma série própria, tinha algum nome, algum crédito, mas tudo graças a trabalho feito nas obras assinadas por outros. E, sobretudo, queria fazer um filme (aconteceu em 2012, com Not Fade Away, também com James Gandolfini — Tony Soprano — no papel principal). Tanto que, a dado momento na escrita do episódio-piloto, percebeu que estava a escrever um filme e não uma série. Alterou algumas coisas. Se falhasse, estaria disposto a acabar a carreira ali. Não por desilusão, Os Sopranos era uma última tentativa.

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“Os Sopranos”: 25 anos depois, ainda somos família

Tudo isto importa porque a televisão era diferente naquela altura. Os criadores de séries não precisavam de chegar aos produtores com uma ideia e uma mão cheia de temporadas já pensadas (como acontece agora). Apresentavam-se sem plano: um episódio-piloto escrito, uma ideia do futuro a curto prazo e uma definição sobre as personagens. Quase tudo para lá destes elementos representava um risco. Por estar decidida a assumir alguns destes riscos, por acreditar em alguns dos seus criadores e até onde poderiam mudar o jogo, por vezes a HBO avançava. No fundo, as coisas aconteciam acontecendo, as grandes decisões viam-se no ecrã e esperava-se que o público percebesse a ideia do autor e que, de certa forma, se sentisse convidado a transgredir as normas televisivas.

Steven Van Zandt, David Chase, Michael Imperioli e Edie Falco participam em "Wise Guy"

Essa ausência de plano levava a que os episódios fossem construídos com uma dinâmica diferente. Este é um dos pontos centrais das duas horas e meia de Wise Guy: a forma como a cadência semanal da estreia convidava a pensar muito no que se fazia com as personagens. Quase sem darmos por isso, Gibney desconstrói os primeiros cinco episódios da temporada inaugural, os espectadores (sobretudo os fãs de Os Sopranos) voltam atrás no tempo e reconquistam por momentos a forma como foi processado aquele primeiro contacto com um conjunto de ações revolucionárias.

Isto acontece com David Chase sentado num cenário igual ao do consultório da Dra. Melfi (a psicóloga interpretada por Lorraine Bracco), com Gibney em frente, a fazer perguntas. A série começa assim, com Chase a alinhar no desafio, mas um pouco desconfortável: porque se ouve a falar dele próprio em voz alta, do passado, a tomar consciência que, afinal, não sabia bem ao que vinha. Gibney vendeu a ideia de um documentário sobre Os Sopranos, mas naquele momento tudo parece sobre David Chase. Uma coisa é indissociável da outra? A resposta fica do lado de quem vê.

Tony Soprano não é um gajo porreiro

O que esta introdução faz — e muito bem — é criar uma ideia de arte da entrevista, ao invés de isto ser um típico documentário a explicar as origens e as consequências de uma determinada produção televisiva, povoado por talking heads que permanentemente passam a mão pelo lombo de alguém. Há depoimentos, há imagens de época, mas o modo como a introdução acontece convida a que se olhe para Wise Guy como uma entrevista de duas horas e meia a David Chase, com intervenções de outros aqui e ali para ilustrar melhor o que se está a passar.

"Wise Guy" fala de "Os Sopranos" sem soar a um constante autoelogio, explica relações entre a vida de David Chase e o argumento da série e certas personagens com fluência e justificação e nunca força a conversa

O resultado não desilude. Wise Guy fala de Os Sopranos sem soar a um constante autoelogio, explica relações entre a vida de David Chase e o argumento da série e certas personagens com fluência e justificação e nunca força a conversa. Aliás, quando o tenta fazer, arruma a questão com a ideia elementar de que Chase era o chefe, seguida de várias intervenções de argumentistas que explicam porque foram despedidos ou descrevem momentos associados ao feitio do autor. Não é simpático, mas não está escondido. A ideia não parece ser a de transmitir alguma espécie de imagem ou reputação associada a David Chase. O que se vê é o que é, longe de alimentar a fantasia de que aquilo que começou há vinte e cinco anos e revolucionou a televisão foi um mar de rosas. Não foi.

Os últimos dez minutos são dedicados ao final de Os Sopranos. É uma forma cândida de acabar uma história sobre uma série e o respetivo autor. Dez minutos que parecem o melhor vídeo de YouTube feito sobre o final, sem quebras a meio para ver um anúncio, sem um pop-up para fazer like ou uma narração que apaparica tudo. Chase & co. descrevem o que se passou, Gibney ajuda ao criar uma relação com o primeiro episódio de todos, fala-se da reação na altura (muita gente pensou que a transmissão tinha sido cortada), volta-se várias vezes a um verso de Don’t Stop Believing (a canção dos Journey que se ouve nos minutos finais) — “The movie never ends / It goes on and on and on and on“ — e Gibney termina o documentário com o toque que faltava.

 
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