O Grande Prémio de Abu Dhabi de 2021 marcou um ponto de viragem na história recente da Fórmula 1. Ao vencer a última corrida da temporada, numa ultrapassagem épica a Lewis Hamilton, Max Verstappen destronou o piloto britânico e abriu a porta a uma autêntica hegemonia da Red Bull nos dois anos que se seguiram. E todos esperavam que assim se mantivesse.

O piloto neerlandês sagrou-se tricampeão mundial de Fórmula 1 em outubro do ano passado, quando ainda existiam cinco corridas para cumprir, e pouco apontava no sentido de não ter o mesmo favoritismo e superioridade em 2024. A dura realidade, porém, tem estado muito longe disso: e o dado outrora adquirido de que Max Verstappen iria ser tetracampeão é cada vez mais uma dúvida e não uma certeza.

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Atualmente, a oito corridas do final da temporada, Verstappen lidera a classificação geral do Mundial com 303 pontos, mais 62 do que Lando Norris. Contudo, tem-se tornado cada vez mais claro que o britânico da McLaren está num momento mais positivo do que o neerlandês da Red Bull: Verstappen não vence qualquer corrida desde junho, quando ganhou em Barcelona, e de lá para cá ficou fora do pódio em quatro ocasiões em seis possíveis. Já Norris só falhou o pódio duas vezes, no mesmo período, e ganhou nos Países Baixos.

A vantagem que Max Verstappen leva atualmente construiu-se na primeira metade da época, já que o piloto da Red Bull ganhou cinco das primeiras sete etapas do ano. A partir daí, já depois de Carlos Sainz vencer na Austrália e Lando Norris em Miami, lançou-se uma competitividade que há muito não se via: Charles Leclerc ganhou no Mónaco e em Monza, Lewis Hamilton ganhou na Grã-Bretanha e na Bélgica, Oscar Piastri ganhou na Hungria e Norris, mais uma vez, ganhou nos Países Baixos.

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Um contexto que já fez com que o neerlandês, de forma racional, admitisse que não tem a conquista do tetracampeonato completamente controlada. “Estou a fazer o melhor que posso. Ganhar o título ou não ganhar não vai mudar a minha vida. Se quero ganhar? Sim, claro. Mas não está nas minhas mãos, tendo em conta a performance o carro. Tento dar o meu melhor, dar feedback e torná-lo mais rápido”, começou por dizer Verstappen na antecâmara do Grande Prémio do Azerbaijão deste fim de semana.

“Não sei se isso vai ser suficiente até ao final do ano, não sei mesmo. Mas sei que vamos dar tudo o que temos enquanto equipa para tentar ser mais competitivos do que o que temos sido e partir daí. Se quero ganhar mais vezes? Sim, claro. Mas também tinha noção de que uma temporada com a do ano passado era pouco realista. Mas também não esperava que fosse assim, tendo em conta a forma como acabámos o ano passado e como começámos este”, acrescentou o piloto de 26 anos.

A maior competitividade, naturalmente, também faz com que o top 5 do Campeonato do Mundo esteja totalmente em aberto. A diferença entre Lando Norris, o segundo, e Lewis Hamilton, o quinto, é de cerca de 80 pontos — e Charles Leclerc, Oscar Piastri e Carlos Sainz ainda estão pelo meio. Ou seja, com o Azerbaijão a ser o próximo desafio e a temporada a prolongar-se até ao derradeiro Grande Prémio de Abu Dhabi, no início de dezembro, nada está decidido.

35,5 milhões de euros. O número que faz de Adrian Newey um engenheiro que ganha mais do que 18 pilotos

Pelo meio, na crónica de uma contratação anunciada, Adrian Newey foi esta terça-feira confirmado como novo diretor técnico e designer da Aston Martin. O britânico de 65 anos que estava na Red Bull desde 2005 assinou um contrato de longa duração que está a ser interpretado como um dos maiores de sempre da história da Fórmula 1: vai ganhar 35,5 milhões de euros por ano, ou seja, mais do que 18 pilotos da grelha. Na verdade, só mesmo Max Verstappen e Lewis Hamilton é que auferem mais do que Adrian Newey, que vai ter um peso orçamental muito superior ao do dos dois pilotos da Aston Martin, Fernando Alonso e Lance Stroll.

Antes de chegar à Red Bull, colaborou com a Williams e a McLaren, tendo entrado pela primeira vez no mundo da Fórmula 1 em 1992. Natural de Essex, o britânico fez parte do grupo de engenheiros da Williams acusado de homicídio involuntário na sequência do acidente que matou Ayrton Senna em 1994, tendo sido totalmente ilibado em 2005. Ao todo, ao longo da carreira, Newey participou diretamente na conquista de 12 Mundiais de construtores com três equipas diferentes, para além de 13 títulos mundiais com sete pilotos diferentes.

Tido como um dos cérebros dos 18 anos da Red Bull na Fórmula 1, a par de Christian Horner, anunciou que iria deixar a equipa no início de maio — e já depois de muita especulação após o escândalo de assédio sexual do team principal, já que chegou a dizer-se que os contratos de ambos estavam interligados e que, quando um saísse, o outro também era demitido. Agora, Adrian Newey é a nova cara do futuro da Aston Martin. 

“Estou entusiasmado por me juntar à Aston Martin Aramco Formula One Team. Fiquei extremamente inspirado e impressionado com a paixão e o empenho que o Lawrence Stroll coloca em tudo em que está envolvido. O Lawrence está determinado a criar uma equipa campeã do mundo”, disse o britânico, que vai desde já focar-se no desenvolvimento do carro para 2026, o ano em que entram em vigor os novos regulamentos da Fórmula 1.

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