A equipa médica que acompanhou o primeiro transplante ocular do mundo diz estar “verdadeiramente surpreendida” pelos resultados alcançados, apesar de o doente não conseguir ver.

Aaron James trabalhava com linhas de alta tensão quando sobreviveu a um choque elétrico de 7.200 volts em junho de 2021, tendo perdido grande parte do lado esquerdo do rosto, incluindo o nariz, os lábios, os dentes da frente e o olho, bem como parte do braço esquerdo. O homem, de 42 anos, natural do Arkansas, foi submetido a uma operação de 21 horas em maio de 2023, que envolveu uma equipa de mais de 140 cirurgiões, enfermeiros e outros profissionais de saúde, durante a qual recebeu um transplante de metade do rosto, que incluía um olho inteiro, de um dador masculino em morte cerebral, que estaria na casa dos 30 anos.

Hospital nos EUA consegue transplantar um olho completo e metade do rosto a um homem pela primeira vez

Esta foi a primeira vez que foi feito um transplante de olho inteiro na história da medicina e incluiu uma retina e um nervo ótico, bem como alguns vasos sanguíneos. Cientistas e médicos envolvidos neste trabalho pioneiro fizeram uma atualização do procedimento na revista médica Jama, afirmando que o transplante não tinha sido rejeitado, algo nunca antes conseguido. “Estamos verdadeiramente espantados com a recuperação do Aaron, sem episódios de rejeição”, referiu o médico Eduardo Rodriguez, presidente do departamento de cirurgia plástica Hansjorg Wyss da NYU Langone Health, nos EUA, citado pelo The Telegraph.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os médicos acrescentam que, embora James não consiga ver através do órgão transplantado, há sinais iniciais de funcionalidade, com a retina a responder à luz e indicadores de que o cérebro está a receber alguns sinais fracos do olho, facto que aumenta a esperança de que, um dia, possam ser realizados transplantes de olhos inteiros para restaurar a visão.

Um ano após a cirurgia, a equipa médica está satisfeita com o resultado, apesar de Aaron não conseguir ver através do olho transplantado

Pouco mais de um ano após a cirurgia, a avaliação revelou “vários resultados potencialmente positivos”, informam os autores, incluindo boa pressão no olho, bem como um amplo fornecimento de sangue. Jeffrey Goldberg, professor e presidente de oftalmologia no Byers Eye Institute da Universidade de Stanford, que não esteve envolvido na cirurgia, disse que os exames de ressonância magnética do cérebro de Aaron James mostraram que alguns sinais do olho estavam a chegar ao córtex visual do cérebro.

Apesar de não conseguir ver do olho esquerdo, James disse que “se sente honrado por ser o paciente zero”. “A primeira coisa de que me lembro quando acordei da cirurgia é de conseguir cheirar, porque antes disso não tinha nariz, por isso não conseguia cheirar e isso também significava que não conseguia saborear nada”, afirmou. “Recuperei qualidade de vida e sei que isto é um passo em frente no caminho para ajudar futuros doentes”, acrescentou, citado pela mesma publicação.