A comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros aprovou esta quinta-feira por unanimidade a audição do chefe da diplomacia, Paulo Rangel, a pedido do Bloco de Esquerda, sobre um navio com bandeira portuguesa que transporta explosivos alegadamente destinados a Israel.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros deverá prestar esclarecimentos à Assembleia da República a 15 de outubro, no mesmo dia em que se realiza a audição regimental na comissão, adiantou à Lusa fonte parlamentar.

O BE pediu a audição do ministro, com caráter de urgência, na segunda-feira passada, no mesmo dia em que entregou uma exposição à Procuradoria-Geral da República (PGR), pedindo ao Ministério Público que “fiscalize e previna que Portugal venha a ser acusado internacionalmente por cumplicidade com um genocídio”.

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“Um navio cargueiro [“Kathrin”] com pavilhão português foi impedido pelo governo da Namíbia de utilizar os portos deste país por transportar explosivos RDX, tendo Israel como destino final, conforme concluiu uma investigação das autoridades namibianas”, refere o requerimento do Bloco, entregue no Parlamento.

O RDX, acrescenta, “é um dos principais componentes das bombas e mísseis israelitas”, que “têm sido apontadas a alvos civis, destruindo, por exemplo, escolas e hospitais na Faixa de Gaza, vitimando mortalmente mais de 40 mil cidadãos palestinianos, na sua maioria crianças e mulheres, e ferindo mais de 90 mil”.

No final de agosto, já depois de questões do BE e do PCP sobre a matéria, o ministro Paulo Rangel esclareceu que não há um navio português a transportar armamento para Israel, depois de contactos feitos pelo Governo para apurar a denúncia.

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Não é um navio português, mas com um pavilhão português. É um navio alemão”, disse Paulo Rangel, que adiantou, após contacto com o navio, poder assegurar que a embarcação “não vai para Israel” e tem como destino dois portos, na Eslovénia e no Montenegro.

Transporta explosivos, não armas“, revelou o governante.

Paulo Rangel rejeitou também quaisquer acusações de complacência com as ações militares israelitas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, advertindo que o Governo do qual faz parte foi “o primeiro a proibir a exportação de armas para Israel”.

Com o Governo anterior, chefiado pelo socialista António Costa “não houve exportação [de armamento], mas não proibiu”.

Sobre o navio em questão, “estava tudo devidamente relatado, o conteúdo e o destino” e todas as informações fornecidas estavam “acompanhadas de documentação”.

A explicação não convenceu os bloquistas: “O ministro escolheu uma versão dos factos que oculta a real intenção daquele navio, que oculta a bandeira portuguesa daquele navio e que aquele navio transporta uma carga que se destina ao exército israelita”, acusou a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, no início da semana.

A responsável salientou que o navio é alemão “mas está registado na Madeira” e tem “bandeira portuguesa”, estando “sujeito às normas e às leis de Portugal”.

Mariana Mortágua disse ainda que “o navio vai para a Eslovénia, mas os explosivos que estão dentro daquele navio têm uma guia de destino até Israel” e serão “usados na fabricação de armas”.