A empresa espanhola Merlin Properties, proprietária do Cinema Monumental, em Lisboa, rejeitou as duas propostas para reabrir o cinema no emblemático edifício no Saldanha.
As exibidoras Cinebox e Cinetoscópio tinham apresentado propostas para explorar o cinema lisboeta, fechado desde 2019. Para que o espaço possa ter outras atividades sem ser a exibição cinematográfica é necessário autorização do Ministério da Cultura, mas, em março, o ministro da tutela ainda em funções, Pedro Adão e Silva, decidiu pela não desafetação, recomendando que “a decisão de desafetação seja objeto de ponderação especialmente cuidada”, considerando que “as salas de cinema são um bem escasso, que elas cumprem uma importante função cultural na vida pública e que não foram esgotadas as possibilidades de reativação do Cinema Monumental”.
Não terá sido esse o entendimento da Merlin Properties, proprietária do edifício que atualmente alberga instalações do Banco Português de Investimento, já que recusou ambas as propostas das exibidoras interessadas em voltar a levar filmes ao Monumental. João Caldeira, responsável pela Cinebox, conta ao Observador que chegou a reunir via Zoom com o country manager da Merlin, João Diogo Cristina. “Foram claros em dizer que não tinham interesse”, diz. Stefano Savio, um dos sócios da Cinetoscópio, empresa que também tinha formalizado uma proposta, em consórcio com a nórdica Scanbox, recebeu igual resposta. “A Merlin recusou a nossa proposta feita quando lançaram a consulta ao mercado”, confirma. A empresa espanhola não terá informado se escolhera outra proposta. “Recusaram simplesmente”, esclarece.
Às perguntas do Observador, a Merlin Properties, através da agência de comunicação Tinkle, remete-se ao silêncio, limitando-se a responder: “Neste momento, a Merlin Properties não tem nenhuma informação ou desenvolvimento a acrescentar sobre este tema”.
Ministério da Cultura não recebeu novo pedido de desafetação
Com a mudança de Governo, pairava a dúvida sobre se a empresa espanhola teria submetido um novo pedido de desafetação do cinema — como fez no verão do ano passado, alegando não haver interessados na sua exploração —, desta vez à nova responsável pela tutela da Cultura. Ao Observador, o gabinete de imprensa de Dalila Rodrigues esclarece que “desde que o XXIV Governo Constitucional entrou em funções, não foi formalmente submetido novo pedido de desafetação do Cinema Monumental”.
Em julho do ano passado, o Observador noticiou que a Merlin Propreties não via “viabilidade de reabrir o cinema” que ali continua a existir antes de encerrar em 2019. Um mês depois, o Ministério da Cultura abordou várias entidades do setor cinematográfico sobre a possibilidade de encontrar soluções para reabrir o cinema e, dias depois, figuras do cinema assinavam uma carta aberta no jornal Público: Cinemas em Portugal, uma falha Monumental. Em outubro, foi conhecido que havia distribuidores de cinema interessados na exploração das salas, mas que a Merlin Properties ponderava a instalação de um centro tecnológico a custo zero no local.
Quando o edifício entrou em obras, a Merlin Properties garantia ser do seu interesse encontrar um exibidor que continuasse a exploração das salas, até 2019, a cargo da Medeia Filmes.