“Combina e Move-te – Espaço Público Partilhado .” É este o mote da edição deste ano da Semana Europeia da Mobilidade, que está a decorrer em milhares de vilas e cidades do continente até ao próximo domingo, 22, consagrado desde 2000 à celebração do Dia Europeu sem carros.
Para se associar à iniciativa, a Rádio Observador realizou, na passada terça-feira, uma emissão especial em direto a partir do Terreiro do Paço, em Lisboa, consagrada aos temas da “mobilidade suave” e como esta é (ou não) conciliável com os desafios de milhares de pessoas em movimento nos grandes centros urbanos.
A emissão começou com as Manhãs 360, conduzidas como habitualmente por Maria João Simões, Carla Jorge de Carvalho, Paulo Ferreira e Bruno Vieira Amaral, que conversaram com o diretor municipal de Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa. Considerando esta semana da mobilidade como “uma chamada de atenção para a necessidade de mudarmos os nossos comportamentos em termos de mobilidade”, Pedro Dinis defendeu que não podemos dar-nos por satisfeitos com o que já foi conseguido: “Há um longo caminho a percorrer nas responsabilidades que temos como peões, ciclistas e automobilistas. O comportamento que adotamos em cada um dos meios é determinante para a mudança.”
Para a Câmara Municipal de Lisboa importa, por exemplo, mudar o cenário que todos os dias se reproduz nas imediações e acessos às cerca de duzentas escolas espalhadas pela cidade. A pensar nisso, a Direção Municipal de Mobilidade tem vindo a desenvolver, ao longo da semana (e em colaboração com algumas juntas de freguesia), várias ações de sensibilização para mostrar a pais e alunos que é seguro e eficaz ir para a escola de bicicleta, trotinete, transporte público ou combinando vários destes meios, em detrimento do automóvel.
A urgência de reduzir o impacto de entradas diárias de carros em Lisboa foi ainda sublinhada por Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da CML: “Para concretizarmos esta meta temos de fazer um forte investimento nos transportes públicos. Foi com esse objetivo em mente que avançámos com a medida dos passes gratuitos, tanto para os mais novos como para os mais velhos, que chegou já a um universo de 90 mil pessoas.”
Esta medida teve de ser concertada com outras, das quais Filipe Anacoreta Correia destacou um “investimento de 200 milhões de euros na renovação da frota da Carris, realizado nos últimos anos, e uma duplicação do número de docas das bicicletas Gira.” O vice-presidente do município não enjeitou mesmo a possibilidade de, a médio prazo, o Metropolitano de Lisboa “passar para a tutela autárquica, à imagem do que acontece noutras cidades europeias.”
O mais recente investimento em transportes públicos em Lisboa foi feito na Carris, que esta semana apresentou os novos autocarros completamente elétricos (zero emissões de carbono, garante a empresa): 30 standard e 14 minibus. Foi também desta novidade que falou Pedro Brito Bogas , administrador da empresa, ao princípio da tarde, entrevistado por João Miguel Santos: “Vamos ter oito carreiras de emissões zero, que se somarão à 706, que já tinha essa característica.”
A médio prazo, a Carris conhecerá mesmo uma expansão da rede, que corresponderá também à aquisição de mais 400 autocarros de energia limpa. Mas Pedro Bogas aproveitou ainda a ocasião para anunciar o projeto de levar o Elétrico 25 até à Cruz Quebrada, como já aconteceu noutras épocas, e possivelmente até ao Jamor (hipótese que ainda está a ser negociada com a Câmara Municipal de Oeiras). Noutra direção, Lisboa Oriental, anuncia-se para breve a ligação a Santa Apolónia e posteriormente até ao Parque Tejo. Desta maneira, toda a zona ribeirinha de Lisboa será ligada pelo elétrico rápido.
Ao lado do administrador da Carris esteve Maria Helena Pereira, motorista há 16 anos (e uma das primeiras mulheres na função). Afirma que o quotidiano não é fácil, mas acrescenta que “ver o nascer do sol todas as manhãs, sentada no posto de condução, é muito especial.” Quando lhe perguntam o que mais a irrita quando está ao volante, não hesita em identificar dois aspetos: “o trânsito e o estacionamento indevido”.
Por esta emissão especial dedicada à mobilidade passaram ainda Nuno Bastos, responsável de Go to Market da Vodafone, que falou do papel que os dados podem desempenhar na gestão do trânsito e das redes de transportes, e Rosa Pita, vice-presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa, que alertou para os perigos das distrações ao volante. E deixou um apelo: “Por favor, não falem ao telemóvel, não leiam nem enviem mensagens enquanto estão a conduzir. Muitos acidentes, alguns com muita gravidade, são causados por esse tipo de comportamento.”
A emissão especial dedicada à Semana Europeia da Mobilidade terminou com a participação do presidente da EMEL, Carlos Silva que sublinhou a importância de “diminuir de forma drástica os cerca de 350 mil automóveis que entram todos os dias em Lisboa”. Para isso a empresa pública que dirige inaugurou, já este Verão, três novos parques de estacionamento Navegante (gratuitos para quem tem o passe social com o mesmo nome) e espera abrir em breve um novo parque, com 380 lugares, na Pontinha. Uma medida que deve ser complementada com o reforço da oferta de bicicletas GIRA, também da responsabilidade da EMEL. “Dentro de dias abriremos a 160ª estação GIRA em Lisboa e estamos a aperfeiçoar a nossa app.”
Consciente de que a “sua” empresa não tem uma imagem simpática junto dos utentes, Carlos Silva não deixou, no entanto, de referir “o papel pedagógico que esta desempenha. Estamos em 21 das 24 freguesias da cidade e temos consciência de que melhorámos muito a qualidade de vida, com o necessário ordenamento do estacionamento.”