Luis Armando Albino tinha apenas seis anos quando foi raptado. No dia 21 de fevereiro de 1951 a criança porto-riquenha desapareceu de um parque em Oakland, na Califórnia, Estados Unidos da América, enquanto brincava com o irmão mais velho. Uma mulher prometeu-lhe doces em espanhol (Luis ainda não falava inglês) e acabou por o levar para a costa Este do país, onde viveu com um casal que o criou como filho.

Várias forças policiais procuraram o rapaz e Roger Albino disse sempre o mesmo nas várias vezes em que foi interrogado: viu uma mulher de bandana na cabeça levar o irmão para fora do parque. Roger nunca mais o viu, nem ninguém da família. Mas a mãe Antónia sempre acreditou que o filho iria reaparecer um dia, andava sempre com um recorte da notícia do desaparecimento dele na carteira, conta o The News Mercury, que divulgou a história esta segunda-feira.

E tinha razão. Só que Antónia já não estava viva — morreu em 2005, aos 95 anos — para abraçar o filho raptado um ano depois de chegar, com cinco filhos, aos Estados Unidos, vinda de Porto Rico. Mais de 70 anos depois, uma neta conseguiu resolver o caso. E de uma maneira inesperada.

Alida Alequin, de 63 anos, comprou um teste genético pela internet “só por diversão” em 2020 e descobriu que tinha 22% de material genético correspondente ao de um homem que ela não sabia quem seria.

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Mas só em fevereiro deste ano, após assistir a um documentário com música de Porto Rico, e depois de uma conversa com as filhas sobre o tio que não conhecera, colocou a hipótese de o tio ser esse homem.

“Não consigo explicar o que senti” recordou Alida ao The Mercury News. “Mas parei e disse: ‘Afinal acho que aquela pessoa que descobri no Ancestry não era algum meio-irmão como eu pensava. Era o tio que foi raptado’”, recordou.

Incentivada pelas filhas, foi para a biblioteca de Oakland e descobriu no arquivo em microfilmes do jornal Tribune uma fotografia de Luis e Roger que a convenceu de que estava na pista certa. Nesse mesmo dia foi às autoridades que reabriram o processo. Com ajuda da polícia, do FBI e do Departamento de Justiça, com recurso a fotos antigas e recortes de jornais, Alida conseguiu localizar o tio na costa Este do país. Um teste de ADN confirmou que o homem agora com 79 anos era a criança desaparecida há 73 anos de um jardim de Oakland.

“Deu-me um beijo na cara e disse ‘obrigado por me encontrares’”, contou Alida ao The Mercury News“. Em junho, Luis reencontrou a família, que tinha fotos do rapaz raptado pela casa, incluindo o irmão Roger com quem brincava no parque quando foi sequestrado.

“Agarraram-se um ao outro e deram um longo e apertado abraço. Sentaram-se e ficaram a conversar”, recordou Alida.

Bombeiro, com 79 anos, o tio desaparecido tinha uma história para contar. Servira na Guerra do Vietname por duas vezes como fuzileiro naval, tinha casado, tido filhos, era avô.

O reencontro com o irmão Roger viria a repetir-se em julho, quando Luis ficou por três semanas em Oakland antes de regressar à costa Este. Foi a última vez que esteve com Roger, que viria a morrer em agosto. Mas “em paz” por saber que o irmão tinha sido encontrado, frisou a sobrinha, assumindo o sentimento de missão cumprida.