A administração Biden está apostada em sair do Governo dos EUA com estrondo, pelo menos em relação aos chineses, que se assumem cada vez mais como uma superpotência capaz de rivalizar com os norte-americanos. Daí que, para defender as suas principais indústrias, a começar pela automóvel, tenha decidido taxar os eléctricos vindos da China em mais 100% e agora se prepare para banir veículos com software e hardware chineses. Debaixo de olho está, sobretudo, o operador de carros autónomos Pony. Mas não só, uma vez que das 40 empresas com autorização para testar os seus veículos sem condutor na Califórnia, 10 são controladas pela China, como relata a NBC.
O argumento do Governo americano passa por evitar que a China possa recorrer aos sistemas de ajuda à condução conectados, sobretudo os que têm a possibilidade de gravar imagens e sons de tudo o que os rodeia, bem como dos clientes, para espiar os Estados Unidos da América e as suas instituições mais delicadas, do ponto de vista da segurança, da energia ou da defesa. E este clima de suspeição deverá ser algo familiar para os chineses, pois ainda recentemente o gigante asiático impedia que qualquer modelo da Tesla, devido ao Autopilot, circulasse em determinadas zonas ou regiões mais “sensíveis”, ou inclusivamente fosse conduzido por indivíduos ao serviço do Governo ou de qualquer área determinante para a segurança ou a economia locais.
China proíbe carros da Tesla de entrar em Beidaihe durante dois meses
A proibição do Governo chinês aos carros da Tesla — mesmo os produzidos no país, na Gigafactory em Xangai — foi ultrapassada a partir do momento em que o construtor norte-americano acedeu a armazenar toda a informação dos seus veículos vendidos na China em servidores chineses e não enviados para os EUA, como acontecia até então.
Ainda não é conhecido integralmente o plano norte-americano de combate ao software e hardware chineses que possam levantar problemas de segurança nacional. Sabe-se, isso sim, que depois de publicada a medida, haverá um período de 30 dias para que o público possa contestar.
O fim dos carros chineses nos EUA com software que possa ser utilizado para espiar deverá ter lugar em simultâneo com a introdução do model year 2027, ou seja, no final de 2026, para o hardware ser proibido de entrar nos EUA em Janeiro de 2029, de acordo com a Reuters. Isto é válido para os veículos de marcas chinesas, mas igualmente para os modelos fabricados nos EUA com peças e sistemas chineses. Daí que a General Motors, a Toyota, a Volkswagen e a Hyundai tenham afirmado já que precisam de “mais tempo para encontrar novos fornecedores” e adaptá-los aos seus veículos.
Tudo indica que o Governo está decidido a dirimir as suspeitas que recaem sobre os chineses, pelo que os construtores que desejem disputar o mercado norte-americano têm de se adaptar. Para reforçar a mensagem, a secretária do Comércio Gina Raimondo manifestou-se preocupada perante a possibilidade de terem “vários milhões de carros a circular nos EUA e, repentinamente, o software ser desligado”.