O ministro da Agricultura disse quarta-feira que recusa atirar a toalha ao chão e que o Governo vai usar todos os fundos europeus disponíveis e o orçamento nacional para apoiar os que foram atingidos pelos fogos.
“Eu vejo que temos gente que está obviamente triste com tudo aquilo que lhe aconteceu, mas que não desiste e a minha palavra é não desistimos, não atiramos a toalha ao chão e vamos usar todos os fundos europeus, o orçamento nacional para apoiarmos aqueles que foram atingidos por mais esta tragédia”, afirmou José Manuel Fernandes, após uma reunião em Vila Pouca de Aguiar, onde estiveram presentes autarcas, associações e produtores afetados pelos incêndios da semana passada.
Em Vila Pouca de Aguiar, no distrito de Vila Real, deflagram quatro grandes incêndios, em pontos distintos do concelho, que queimaram cerca de 10 mil hectares, principalmente de pinhal, mas também culturas agrícolas (soutos, avelaneiras, vinhas e olivais), três armazéns agrícolas, um armazém industrial, depósitos de água e uma casa de primeira habitação.
Bruno e Ondina Fernandes perderam cerca de 300 rolos de feno para alimentação das 40 vacas e 100 ovelhas, num prejuízo estimado de 12 mil euros, sem contabilizar com as máquinas e alfaias agrícolas destruídas.
Os incêndios, que lavraram entre os dias 16 e 19, queimaram ainda pastagens para os animais e zonas de caça.
“Os alimentos para os animais são uma prioridade e também estamos a trabalhar esse objetivo, para a semana tem de estar resolvido. Nós queremos apoiar as pessoas, mas não excluímos, e já temos isso trabalhado, que o próprio ministério faça a aquisição de alimentos“, afirmou o ministro, repetindo uma medida já anunciada durante uma visita a concelhos atingidos no distrito de Viseu.
José Manuel Fernandes saudou a iniciativa de empresas que já mostraram disponibilidade para oferecer alimentos para os animais.
“Como eu tenho dito, há aqui algo que tem que ser mudado, não é justo que uma empresa que dá alimentos para os animais, que oferece rações, pague o IVA e essa doação ainda lhe conte para o IRC. Agora o Governo não pode alterar isso, tem de ser a Assembleia da República”, referiu.
O governante apontou ainda para a medida de 50 milhões de euros, que será aberta na quinta-feira, destinada ao restabelecimento da produção e para um apoio para pequenos produtores que não têm, por exemplo, as situações devidamente registadas, mas comprovam que foram prejudicados.
“Claro que vamos evitar a duplicação de apoios, no meio de toda esta situação, mas há esta urgência”, frisou.
Numa altura em que já chove nesta região, José Manuel Fernandes sublinhou que as equipas do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) já estão no terreno a proceder à estabilização de emergência das áreas ardidas.
Este trabalho é feito nas zonas mais íngremes, onde podem ocorrer deslizamentos de terras ou derrocadas, e a estabilização traduz-se na colocação de barreiras, por exemplo, feitas de troncos de pinheiros ardidos, ou na criação de valas nos terrenos, e na sementeira das áreas que ficaram sem vegetação.
“É importantíssimo o trabalho que as câmaras estão a fazer para este objetivo e eu insisto e apelo a que ele seja reforçado, até porque essas medidas de emergência já foram comunicadas aos gabinetes florestais e à Proteção Civil e são apoiadas a 100% no âmbito de FEADER, que é um fundo da política agrícola comum”, realçou o governante.
Nove pessoas morreram e mais de 170 ficaram feridas em consequência dos incêndios que atingiram na passada semana sobretudo as regiões Norte e Centro de Portugal.
A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil contabilizou oficialmente cinco mortos nos fogos.
Os incêndios florestais consumiram, entre os dias 15 e 20 de setembro, cerca de 135.000 hectares, totalizando este ano a área ardida em Portugal quase 147.000 hectares, a terceira maior da década, segundo o sistema europeu Copernicus.