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São horas de alta tensão as que se vivem no Médio Oriente, acompanhadas de perto pela comunidade internacional. Aquilo que, durante a madrugada desta quinta-feira, parecia uma hipótese bem encaminhada para um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah acabou por descarrilar, pelo menos para já, com uma nega do governo israelita, que promete “lutar até à vitória”, e a continuação de fortes ataques no terreno.
A notícia começou por surgir nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira: um grupo de países e potências, reunido à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, que decorre em Nova Iorque, chegou a uma proposta de cessar-fogo que duraria 21 dias e colocaria em pausa os conflitos entre Israel e o Hezbollah. Neste grupo encontram-se os Estados Unidos, França, Reino Unido, União Europeia, Austrália, Alemanha, Itália, Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar.
Segundo um comunicado publicado no site da Casa Branca, a ideia seria aliviar uma situação que é considerada “intolerável” e “proporcionar espaço para a diplomacia”, permitindo que se promovesse um “acordo diplomático que permita aos civis de ambos os lados da fronteira regressar às suas casas em segurança”.
Nos instantes seguintes, a perspetiva de que o cessar-fogo estivesse para acontecer em breve parecia ganhar força: a Sky News noticiava que altos responsáveis do governo norte-americano esperavam que a pausa no conflito ficasse decidida nas horas seguintes e que, apesar de se limitar à fronteira que separa o norte de Israel do sul do Líbano, pudesse abrir “espaço” para progressos em Gaza. E a oposição israelita começou a pronunciar-se favoravelmente a um cessar-fogo, embora mais curto (Yair Lapid, líder do partido centrista, falou em sete dias; os democratas defenderam que se começasse por três).
Mas as declarações do governo israelita não vão neste sentido, pelo menos para já. Desde logo, e depois de terem aparecido notícias no canal israelita Channel 12 que indicavam que o Executivo de Benjamin Netanyahu estaria pronto para dar luz verde ao acordo de cessar-fogo, foi o gabinete do próprio que decidiu emitir um comunicado em que negava essa informação.
Na rede social X é possível ler o texto, em que Netanyahu refere a “proposta dos EUA-França” à qual, assegura, o governo israelita “nem respondeu”, e desmente as últimas notícias que apontavam para uma suposta luz verde ao acordo: ““As notícias sobre uma suposta diretiva para moderar o combate no norte são o oposto da verdade”.
Na mesma nota, Netanyahu esclarece que instruiu o exército israelita para “continuar a lutar em pleno” e promete fazer o mesmo em Gaza, “até que os objetivos da guerra sejam atingidos”.
לשכת ראש הממשלה:
״הידיעה על הפסקת אש – לא נכונה. מדובר בהצעה אמריקנית-צרפתית, שראש הממשלה אפילו לא הגיב לה.
הידיעה על הנחיה כביכול למתן את הלחימה בצפון גם היא הפוכה מן האמת. ראש הממשלה הנחה את צה״ל להמשיך את הלחימה במלא העוצמה, ולפי התכניות שהוצגו לו.
כמו כן, גם הלחימה…
— Benjamin Netanyahu – בנימין נתניהו (@netanyahu) September 26, 2024
Pouco depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita pronunciava-se de forma ainda mais taxativa: “Não vai haver cessar-fogo no norte”, disparou Israel Katz, prometendo que o conflito continuará. “Vamos continuar a combater o grupo terrorista do Hezbollah com toda a força até à vitória e até ao regresso dos habitantes do norte às suas casas em segurança”, rematou.
São vários os meios locais que recordam que o MNE israelita não tem um peso determinante no seio do Executivo, mas há um fator que empresta às suas palavras uma importância acrescida: é que Katz é neste momento primeiro-ministro em substituição, enquanto Netanyahu está em Nova Iorque para a reunião das Nações Unidas.
לא תהיה הפסקת אש בצפון. נמשיך להילחם נגד ארגון הטרור חיזבאללה בכל העוצמה עד לניצחון והשבת תושבי הצפון בביטחון לבתיהם.
— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) September 26, 2024
Ora as reações do lado israelita vieram aumentar a apreensão sobre os contornos que o conflito pode tomar. Em Nova Iorque, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, comentou as respostas dos membros do Executivo israelita voltando a frisar a importância de um cessar-fogo: “O mundo está a falar de forma clara, através de virtualmente todos os países-chaves na Europa e na região, sobre a necessidade de um cessar-fogo”. Blinken adiantou que tem planos para se reunir, ainda esta quinta-feira, com responsáveis israelitas em Nova Iorque.
A pressão também aumentou dentro do próprio Executivo israelita: já durante a tarde, o ministro Itamar Ben-Gvir comunicou a Netanyahu que o seu partido, o Otzma Yehudit, poderá deixar de se coordenar nas votações parlamentares com o resto da coligação do governo — coligação que poderá mesmo abandonar se houver um cessar-fogo permanente.
Segundo o jornal Haaretz, no final de uma reunião do seu partido, Ben-Gvir prometeu “não abandonar os habitantes do norte” de Israel: “Durante cada dia em que este cessar-fogo estiver a acontecer e em que Israel não estiver a lutar no norte, o Otzma Yehudit não estará comprometido com a coligação”.
Israel ataca ponte, Líbano cria abrigos
Certo é que os ataques no terreno continuaram a suceder-se esta quinta-feira, sem tréguas. Ao início da tarde, o exército israelita confirmou ter lançado um “ataque preciso” em Beirute. Segundo o canal saudita Al Hadath, citado pelo Haaretz, o alvo seria o comandante da unidade aérea do Hezbollah (a unidade que comanda os drones), tendo o ataque acontecido perto do local onde um dos líderes da tropa de elite do grupo, Ibrahim Aqil, foi morto na passada sexta-feira.
Horas antes, Israel tinha atacado a fronteira entre Líbano e Síria, tendo atingido uma pequena ponte que, segundo as forças israelitas, estaria a servir para entregar armas do lado sírio ao Hezbollah. O governo libanês confirmou o ataque, mas não soube dizer se a ponte continuaria em condições de ser utilizada ou não.
#BREAKING: The IDF is currently carrying out precise strikes in Beirut. pic.twitter.com/5ygdrrpoQw
— Israel War Room (@IsraelWarRoom) September 26, 2024
Já durante a madrugada se tinham sucedido os ataques, com o exército israelita a anunciar ter atacado durante a noite 75 alvos militares do Hezollah no sul do Líbano e na região de Bekaa, no leste do país. Os alvos incluiriam “depósitos de munições, lançadores prontos a disparar (contra o território israelita), edifícios militares, terroristas e infraestruturas terroristas”, lia-se num comunicado do exército israelita.
Para já, o governo libanês diz ter disponibilizado mais de 500 abrigos para a população se instalar temporariamente. O ritmo do conflito entre Israel e o Hezbollah não está a abrandar, pelo que a paz parece longe.