Os bombeiros da Ajuda, em Lisboa, vivem “uma situação financeira dramática” e correm o risco de não receber o ordenado deste mês, tendo já feito vários pedidos de ajuda, disse, esta quinta-feira, à agência Lusa a vice-presidente da corporação.

As dificuldades financeiras da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários (AHBV) já são uma realidade desde, pelo menos, o início do ano, mas “agudizaram-se nos últimos dias”, segundo relatou à Lusa a vice-presidente, Cristina Santos.

A responsável explicou que a atual direção, que tomou posse em maio, “herdou muitas dívidas” da direção anterior, mas que contou com a ajuda financeira de “um senhor benemérito do Algarve” que, entretanto, “desistiu de ajudar”, por divergências com o comandante em regime de substituição.

“Na passada semana houve um problema entre quem ele tinha a coordenar nos bombeiros da Ajuda a parte operacional e o senhor comandante. Ele impôs-se ao senhor comandante. O comandante dizia uma coisa e o senhor queria fazer outra. Então, ele desistiu de nos ajudar”, contou.

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Cristina Santos acusou ainda o “benemérito” de ter levado há uns três meses oito ambulâncias para “arranjar”, encontrando-se os veículos em local incerto.

“Pegou nas ambulâncias e levou-as para oficinas que não sabemos quais são. Sabemos que umas estão no Algarve e outras em Alcoentre [concelho de Azambuja], mas o sítio e o local concreto não sabemos. Há dois ou três meses que lhe perguntamos quando é que regressam as ambulâncias. Agora diz que a despesa do arranjo será à conta dos bombeiros da Ajuda”, apontou.

Alguns dos bombeiros da corporação estarão também, segundo a vice-presidente, a ser instigados a revoltar-se contra a atual direção, quer pelo “benemérito”, quer pelo anterior comandante.

“Ontem [quarta-feira] à tarde pedimos para fazer um serviço e os próprios bombeiros recusaram-se a fazer o serviço, porque alegam que não lhes vão pagar [os salários]. Alguém lhes foi dizer, não foi a direção atual porque estamos a fazer o possível e o impossível para que eles não fiquem sem ordenado no final deste mês”, sublinhou.

Cristina Santos disse ainda que, face a esta situação “dramática”, a direção dos bombeiros da Ajuda já contactou várias entidades, entre elas a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal de Lisboa, aguardando uma resposta.

Contactada pela Lusa, fonte da Câmara de Lisboa, presidida pelo social-democrata Carlos Moedas, disse estar a “acompanhar o caso” e “em contacto permanente com o comando e com a direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ajuda”, mas ressalvou que a autarquia está “legalmente impedida de apoiar financeiramente custos de gestão corrente de entidades terceiras”.

“Os bombeiros voluntários da cidade de Lisboa, nos quais se incluem os bombeiros voluntários da Ajuda, são instituições independentes, cuja gestão é da sua inteira responsabilidade e em função do mandato conferido pelos respetivos associados”, explicou a Câmara.

A autarquia referiu ainda que “o socorro na área de atuação afeta aos bombeiros voluntários da Ajuda está devidamente assegurado pelo Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa”.

A Câmara de Lisboa já tinha referido em janeiro que estava a acompanhar situação financeira na corporação, assegurando que o socorro não estava posto em causa.