Na primeira imagem após o caso, José Mourinho estava muito sossegado no banco, a olhar para o campo sem fixar nada em concreto, como se nada se tivesse passado. No plano seguinte, um computador com a imagem parada estava colocado mesmo em frente à câmara da transmissão televisiva mais próxima dos bancos. Mais um capítulo, mais uma pista para o que se tinha passado: cartão amarelo ao treinador, que continuou muito tranquilo como se nada se tivesse passado e à espera que fosse feita uma substituição. Em mais um momento insólito desde que chegou à Turquia, o português protestou de forma original com um golo (mal) anulado que daria então o 2-0 frente ao Antalyaspor no último quarto de hora (o Fenerbahçe iria mesmo carimbar a vitória por essa margem na sequência de um autogolo) e no final explicou tudo o que se passou.

“Fiz aquilo para mostrar que não havia fora de jogo. A posição do jogador era clara. Pelos vistos, o VAR não sentiu dificuldades no lance, ajuizou-o em cinco segundos”, apontou José Mourinho depois de uma vitória importante na Liga turca que permitiu aproveitar o surpreendente empate caseiro do Galatasaray com o Kasimpasa para reduzir para apenas três pontos a distância para a liderança da competição, reagindo de imediato ao desaire da ronda anterior frente à equipa que ocupa o primeiro lugar da classificação.

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“Se as pessoas em Inglaterra vissem um jogo, talvez fosse estranho nesse sentido, com a falta de tecnologia da linha de golo porque penso que é muito importante que o objetivo seja evitar situações suspeitas desde o primeiro minuto do jogo. O futebol turco também precisa disso. Se possível, penso que esta tecnologia deveria chegar ao futebol turco o mais rapidamente possível, para que possa dar um passo em frente. Porque esta é uma tecnologia que existe em quase todos os países da Europa”, referiu o português.

“Não me sinto cansado. Talvez pareça mas não estou cansado. Não dormi muito porque houve uma grande festa à volta do hotel. Havia música alta e lasers, talvez tenha sido uma festa muito boa mas não consegui dormir antes das duas da manhã. Evolução da equipa? Temos de trabalhar muito, não se pode apenas estalar os dedos. Toda a gente quer ser rápida mas o futebol não é assim. Precisamos de estabilidade. Foi um jogo difícil para nós, os árbitros do VAR é que não tiveram dificuldades. O estádio estava muito quente, não havia corrente de ar. Ganhámos os dois jogos que disputámos depois do dérbi. Depois do jogo com o Twente, há uma longa pausa até ao próximo jogo. Entretanto, vai realizar-se o casamento da minha filha”, anunciou ainda o treinador, projetando a segunda jornada da Liga Europa diante da formação neerlandesa.

No melhor e no “pior” começa a sentir-se o efeito Mourinho na Turquia, sendo que entre elogios também há críticas ao futebol jogado pela equipa. “Que Deus dê paciência aos adeptos do Fenerbahçe! Cansei-me de ver. Nunca vi o Fenerbahçe fazer uma primeira parte tão má na minha vida. A jogar dentro da área, à espera uma reação. Se me deixassem gerir a partir daqui, faria um trabalho melhor. Deixe-me treinar o Fenerbahçe daqui que faço melhor. Porque veio Mourinho? É uma pena os adeptos assistirem a isto nas bancadas. Apesar do péssimo jogo, dou os parabéns ao Fenerbahçe. Jogar tão mal e vencer é obra. Vieste para jogar este futebol, Mourinho? Estou a ficar louco, nunca assisti a um jogo tão irritado” comentou o antigo internacional Nihat Kahveci, que passou por Besiktas, Real Sociedad e Villarreal, após a estreia na Liga Europa.

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Em contraponto, Frank Lampard, antigo capitão inglês e do Chelsea, assumiu em entrevista à ESPN o peso do técnico português na carreira. “José Mourinho foi o primeiro treinador que afetou verdadeiramente o meu cérebro ao nível da confiança. Provavelmente era demasiado humilde, e, por dentro, custou-me a acreditar que poderia competir ao mais alto nível. O José mudou isso. Tento pegar nessa maneira como ele me fez sentir dentro de campo e influenciar os jogadores mais jovens da mesma maneira, dando-lhes confiança e um sentimento de apoio. Tento pegar em pequenos detalhes de todos os treinadores. Não posso ser o José, ele é bastante único na sua maneira de ser”, apontou o ex-médio que treinou Derby County, Chelsea e Everton.

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“Efeito Mourinho? O que faz o efeito Mourinho são os troféus. Se não há troféus em setembro, como vês o efeito Mourinho? Ganhei troféus em todos os clubes por onde passei, só não consegui no Tottenham porque deixei o clube dias antes da final de uma taça. O efeito Mourinho que criei em cada clube foi por ganhar troféus. Mas sinto muito, não podemos tê-lo em setembro. Os jornalistas têm impacto na forma como os adeptos pensam, a forma como se fazem os negócios tem muito a ver com isso. Talvez precisem de mudar, trabalham muito. Não sei quantas horas trabalham mas eu trabalho 12 horas por dia. Durmo nas instalações do clube para não perder tempo. Istambul é uma cidade bonita mas não vim aqui de férias, vim para trabalhar. Toda a gente no clube faz isto, temos um bom ambiente de trabalho”, tinha apontado na última semana, depois do triunfo na Turquia frente ao Union Saint-Gilloise no arranque da Liga Europa.