A maioria dos membros do Conselho de Estado, onde a direita é maioritária, foi ao encontro do desejo do Presidente da República e defendeu a importância de um acordo para a viabilização do Orçamento do Estado para 2025 — que Marcelo também reafirmou na reunião. “Um primeiro orçamento”, “a importância de estabilidade” e a “situação internacional” foram alguns dos argumentos utilizados pelos conselheiros, contaram fontes presentes ao Observador. Houve quem visse a pressão mais dirigida ao PS, mas também há quem conte que o Presidente acabou por deixar repartidas as responsabilidades, entre socialistas e Governo e sem excluir o Chega — se tudo o resto falhar.

O Presidente da República, sabe o Observador, fez mesmo uma intervenção final a resumir a reunião e onde elogiou a “elevação do debate” de todos os conselheiros e apelou, uma vez mais, ao “consenso” para a viabilização do Orçamento do Estado. A reunião acabou por ir ao encontro desta pressão presidencial — que o próprio já assumiu estar a fazer — para o Orçamento ser viabilizado.

Pedro Nuno Santos e Carlos César, os únicos elementos do PS na reunião, defenderam o ponto de vista do partido e o líder da oposição, apurou o Observador, reafirmou perante os conselheiros que não vai viabilizar um Orçamento que mantenha as duas célebres medidas: a redução do IRC e o IRS Jovem.

Na intervenção que fez, muito em linha com a declaração da última sexta-feira após a primeira reunião a dois com o primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos voltou a dizer que se o Governo de Montenegro quiser aprovar o Orçamento com essas duas medidas deve voltar-se para o Chega. A linha de argumentação usada, confirmou o Observador, foi que é uma escolha do Governo depender do PS neste Orçamento e que isso tem consequências políticas, ou seja, é necessário que ceda aos socialistas. Entre os conselheiros houve quem visse um Pedro Nuno Santos mais explícito no desafio a Montenegro sobre uma negociação com o Chega, mas a opinião não é unânime.

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O líder do PS ainda terá aproveitado para deixar críticas à forma do debate e intervenções que têm rodeado as negociações nas últimas semanas, nomeadamente dos ataques de carácter e das acusações sobre falta de boa fé negocial, que considerou prejudicarem o andamento das negociações.

André Ventura terá feito umas das intervenções mais breves, a repetir disponibilidade para aprovar o Orçamento mas só se o PS ficar fora das negociações e o Governo respeitar o Chega como parceiro. Segundo duas das fontes ouvidas pelo Observador, o líder do Chega terá mesmo dito que se o PS tem duas condições para viabilizar a proposta do Governo, o Chega só tem uma: ter o PS fora da mesa.

Muitos dos senadores alinharam pela ideia de que é preciso estabilidade e um orçamento do Estado aprovado. O antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva — que em entrevista ao Observador chegou a admitir ser possível governar em duodécimos — desta vez esteve ao lado do Governo. Embora tenha optado por uma intervenção sobre a economia (e menos sobre o Orçamento), acabou por defender que o Governo precisa de tempo para aplicar uma boa governação económica.