A Endesa decidiu abandonar a produção de eletricidade com gás natural em 2040 e apostar na eletrificação, anunciou o diretor-geral em Portugal, Guillermo Soler, em entrevista à Lusa.

“Nós, em 2040, vamos abandonar o gás, como uma medida de descarbonização clara e estratégica e apostamos na eletrificação”, anunciou o diretor-geral da Endesa em Portugal, que assumiu a liderança da empresa em fevereiro de 2023, sucedendo a Nuno Ribeiro da Silva.

Em Portugal existem quatro centrais de ciclo combinado a gás natural — Ribatejo, Lares, Pego e Tapada do Outeiro — que dão capacidade ao sistema elétrico nacional para reagir quando faltam as fontes de energia renovável.

A Endesa apontou que nenhuma elétrica anunciou ainda a mesma decisão, porque é uma decisão audaz e sem retorno, tal como aconteceu com o carvão.

“Em geração, em Portugal, a principal premissa é a descarbonização, encerrámos a Central do Pego, que era a carvão, e a de Las Puentes, em Espanha, que eram as duas últimas duas centrais a carvão da Península Ibérica, e temos um objetivo de deixar o gás no ano de 2040, ou seja, do ponto de vista estratégico na geração, a descarbonização é o principal”, realçou o responsável.

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A Central Termoelétrica do Pego, no concelho de Abrantes (Santarém), da qual a Endesa era acionista, deixou de produzir energia a partir do carvão em novembro de 2021, após uma decisão do Governo, no âmbito da estratégia de descarbonização nacional que, segundo representantes sindicais, afetou 150 trabalhadores e 350 familiares, numa localidade de 2.500 habitantes.

A Endesa ganhou o concurso de transição justa para a reconversão da Central Termoelétrica do Pego, com um projeto de investimento de cerca de 700 milhões de euros, que combina a hibridização de fontes renováveis (solar fotovoltaica e eólica) e o seu armazenamento, com iniciativas de desenvolvimento social e económico.

Dada a complexidade do projeto, a empresa decidiu dividi-lo em quatro blocos, que estão em diferentes fases de tramitação ambiental, com vista à entrada em funcionamento em 2027, sendo que o primeiro bloco de Aranhas, para energia eólica equivalente ao consumo de 350.000 habitações durante um ano, aguarda os resultados da consulta pública.

“Creio que o trabalho de preparação desta permissão ambiental foi feito com uma consideração e uma sensibilidade muito alta, estamos confiantes que não vamos ter grandes problemas, mas há que esperar pelo resultado da consulta pública”, disse Guillermo Soler.

O projeto para o Pego prevê que, num único ponto de ligação à rede, seja introduzida eletricidade proveniente de diferentes tecnologias e daí a entrada em funcionamento em termos comerciais esteja prevista para 2027, para que sejam realizados os testes necessários a garantir que esta hibridização funciona corretamente.

“Num dia em que faça sol, será possível injetar energia [solar] no ponto de ligação, mas se, adicionalmente, nesse dia também tivermos vento, a limitação do ponto de ligação vai obrigar a guardar energia em baterias”, explicou o diretor-geral, realçando que este processo “tem uma complexidade que não é unicamente a de desenvolver o parque eólico, ou fotovoltaico, ou a bateria, ou o eletrolisador”.

Além do “projeto estrela” no Pego, a Endesa tem em Portugal outros dois projetos de menores dimensões que deverão estar prontos a operar sensivelmente ao mesmo tempo que o do Pego, depois de ter ganhado o leilão solar flutuante na albufeira do Alto da Rabagão, em Montalegre, e também o parque fotovoltaico Pereiro, no Algarve, obtido a partir do leilão de 2020.

“No total, nestes três projetos, estamos a falar de um investimento de 925 milhões de euros para Portugal e estamos a falar de 1 gigawatt (GW) de potência instalada no país, que já é uma potência muito relevante”, salientou Guillermo Soler.