Nevoeiro rima com Choupana e Choupana rima com Primeira Liga. No século XXI, o Nacional assumiu-se como uma equipa de primeira divisão. Entre 2002 e o presente ano, os insulares só falharam Campeonato Nacional em cinco ocasiões (2017, 2019, 2021, 2022 e 2023). Apesar do bom desempenho em termos desportivos, esta regularidade dos alvinegros levantou outra questão, que tem, naturalmente, impacto em termos desportivos. Com as suas infraestruturas localizadas num dos pontos mais altos da ilha da Madeira, sensivelmente a 500 metros de altitude, o nevoeiro tornou-se numa condicionante a ter em conta na marcação dos jogos para o Estádio da Madeira.

Este domingo parecia ser mais um dia normal de romaria rumo à Choupana. Contudo, a marcação do jogo para as 18 horas deixava antever o pior. E o pior acabou por se confirmar. No período de aquecimento começou a perceber-se que o Nacional-Benfica podia estar em risco. Se recuarmos a bitola, perto das 12 horas a visibilidade na Choupana não tinha praticamente condicionante, mas ao início da tarde já circulavam fotografias nas redes sociais a mostrar o nevoeiro sobre a Choupana. A neblina acabou por baixar repentinamente — outra das características desta zona — e, quando as equipas voltaram a entrar em campo, mal se conseguia ver de um lado ao outro do campo.

Ainda assim, o árbitro Gustavo Correia, da Associação de Futebol do Porto, decidiu começar o desafio, depois de averiguar que estavam reunidas todas condições. A partida durou menos de cinco minutos até ser interrompida, pela primeira vez. Nas imagens da SportTV ficou percetível a falta de visibilidade e o juiz do encontro a explicar aos jogadores que não era possível ver o campo de baliza a baliza. Contudo, dois minutos depois, o nevoeiro levantou ligeiramente e o Nacional-Benfica foi retomado… durante dois minutos. Em cima do oitavo minuto — e cinco segundo —, Correia voltou a suspender a partida e mandou os jogadores recolherem aos balneários.

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A partir daqui entrou outro interveniente em ação: o regulamento da Liga Portugal, a entidade que organiza os Campeonatos profissionais. À luz do regulamento, Gustavo Correia suspendeu o desafio durante 30 minutos e aguardou esse tempo para tomar a decisão final. Cerca de 20 minutos depois, os jogadores do Benfica e Lucas França, guarda-redes do Nacional, começaram a entrar no terreno de jogo para realizarem os exercício de reativação. Pouco depois percebeu-se que o nevoeiro já estava a levantar, em parte por conta do vento que começou a soprar com alguma intensidade e tornava possível voltar a ver-se o terreno de jogo na sua plenitude.

Contudo, às 18h46, Gustavo Correia deu mesmo por encerrado o desafio. Segundo apurou a Antena 1 junto da equipa técnica dos alvinegros, a equipa de arbitragem esperou os 30 minutos regulamentares e decidiu pelo adiamento, ficando anunciado que “a nova data será conhecida em breve”, mas era certo que o não seria retomado durante a semana. E foi aqui que entrou outra condicionante em ação: por estarmos a poucas horas do início de mais uma data FIFA, o Benfica vai ficar bastante desfalcado e não quer retomar o jogo durante a semana. Esta exceção está prevista no regulamento.

Segundo novas imagens que circulam nas redes sociais, 15 minutos depois dos jogadores terem recolhido aos balneários em definitivo, as condições de visibilidade apresentavam-se praticamente intactas.

Jogo será retomado na quinta-feira, 19 de dezembro

Em comunicado divulgado cerca de uma hora depois do adiamento do Nacional-Benfica, a Liga Portugal explicou que o jogo “foi adiado devido às condições climatéricas adversas que se fazem sentir no Estádio da Madeira”. “Assim, atento ao disposto no n.º1 e 4 do artigo 46.º do Regulamento de Competições, as Sociedades Desportivas irão, por mútuo acordo e devido ao intenso calendário desportivo, reagendar a data de realização do jogo nas próximas 48 horas”, acrescentou a entidade.

Ora, os clubes e a Liga Portugal foram rápidos a tomar a decisão e, pouco depois das 20 horas, anunciaram a nova data em comunicado. “Os clubes e a Liga Portugal acordaram de forma célere e unânime remarcar o jogo para 19 de dezembro, às 17 horas”, partilhou a entidade em novo comunicado. Deste modo, o Benfica vai defrontar o Nacional depois de ir a casa do AVS (14/15) e antes de receberem o Estoril Praia (21/22). Já os insulares recebem os encarnados entre os jogos com Moreirense (casa, 14/15) e V. Guimarães (fora, 21/22).

Choupana, um caso (in)comum

Esta foi a 17.ª vez que uma partida disputada no Estádio da Madeira foi adiada ou suspensa, a terceira em 2024, o que perfaz um recorde. Curiosamente e olhando ao historial, o Benfica é o segundo clube com mais jogos adiados/suspensos na Choupana, todos nos últimos nove anos — U. Madeira em 2015, Nacional em 2016 e 2024 —, ficando apenas atrás do… Nacional.

Nesta lista que começa em 2001, salta à vista um caso insólito que, se tivermos em conta os constantes adiamentos, aumenta para 21 o número de suspensões. Trata-se do Nacional-Naval, em 2010, que demorou três dias a ser concluído. O jogo estava marcado para o dia 5 de dezembro de 2010, um domingo, mas não chegou a começar e foi adiado para segunda-feira devido às condições climatéricas. No dia 6, o jogo foi novamente suspenso, desta feita aos 54 minutos, e acabou por ser concluído na terça-feira, dia 7.

Curiosamente, nesse mesmo dia, o árbitro Hugo Pacheco voltou a interromper a partida aos 84 minutos, devido ao nevoeiro. Contudo, a interrupção durou apenas três minutos e, apesar das fracas condições de visibilidade, o árbitro insistiu no reatamento. As suspensões não ficaram por aí e, pouco depois, Pacheco teve de suspender o jogo pela quarta vez, mas os cinco minutos acabaram por ser concluídos. Os madeirenses venceram por 2-1, depois de terem estado a perder e terminarem o segundo dia empatados a uma bola. Devido aos constantes adiamentos, a partida foi concluída com dois novos elementos na equipa de arbitragem, o auxiliar Sérgio Serrão e o quarto árbitro Marco Ferreira.