O Centro Cultural de Belém (CCB) deu carta branca a Selma Uamusse e a proposta da cantora foi “fazer uma espécie de uma carta aberta para o futuro”, que pudesse escrever com aqueles que acha que são o futuro, os que considera a nova geração.

“Queria pensar com uma geração mais nova, com aqueles que serão o futuro, como é que podemos estreitar relacionamentos, enquanto cidadãos comuns, mas enquanto cidadãos afrodescendentes, enquanto cidadãos portugueses. E de uma forma indireta comemorar também os 50 anos das independências dos países africanos, que se comemoram no próximo ano”, contou a cantora, em declarações à Lusa.

Dessa geração fazem parte cinco “jovens, cantoras, mulheres, todas portuguesas, todas de origem afrodescendente” – Bárbara Wahnon, Nayr Faquirá, Ola Mekelburgh, Yeni Varela e Yeri Varela -, o quarteto de cordas Active Mess, composto por Edvania Moreno, Jacqueline Monteiro, Lívia Mendes e Mariana Santos, e a Orquestra Geração, “uma orquestra com características muito próprias, que trabalha com crianças e jovens que vêm de um contexto socioeconómico muito característico, e que muitas vezes tem jovens afrodescendentes, e não só, que vêm de um contexto mais periférico”.

Aos representantes da nova geração juntam-se os músicos que habitualmente acompanham Selma Uamusse — Augusto Macedo, Gonçalo Santuns, Nataniel Melo e Milton Gulli — e A Garota Não, “por ser alguém que escreve muito sobre questões sociais” e que compôs um tema para Selma Uamusse, a ser apresentado ao vivo pela primeira vez no espetáculo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A cenografia estará a cargo do artista multidisciplinar Nástio Mosquito, que “está a criar ambiente muito particular para o concerto”.

“[O espetáculo] É uma conversa em casa, em que todos têm espaço. Tem um fio condutor, que acaba por ser o meu repertório, mas não vive da minha musicalidade, da minha sonoridade. Vive desta confluência e desta reinterpretação que fazemos das músicas uns dos outros”, contou.

Selma Uamusse assume que há neste espetáculo um “lugar de ocupação”.

“Ocupação feminina, ancestral, mulheres com algo a dizer. Poder dar espaço e honra a mulheres que admiro, tal como admiro a minha avó, a minha mãe”, referiu Selma Uamusse, relembrando haver também a “intencionalidade de começar a celebrar as independências dos países africanos”.

No fundo o que acontecerá em 01 de novembro no palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém será “simbólico e representativo” daquilo que para Selma Uamusse é o futuro, feito de misturas.

A cantora quer tentar mostrar como “construir, de uma forma bonita e harmoniosa, um futuro que começa pela música, esse instrumento de transformação social tão especial”, sempre “sem deixar para trás o passado colonial, feito de dor e feridas, sem o esquecer”.

Selma Uamusse nascida em Moçambique e radicada em Portugal desde o final da infância, está ligada ao canto gospel, passou pelo grupo rock WrayGunn, andou pelo jazz, com tributos a Nina Simone, já fez teatro e cinema.

Em 2018 editou o álbum de estreia, MAti, ao fim de quase 20 anos dedicada à música. O segundo álbum, e o mais recente, Liwoningo, foi editado em 2020. Nos álbuns, Selma Uamusse canta em português, inglês, changana, chope e macua (três das línguas de Moçambique).

Os bilhetes para o espetáculo “Carta Branca a Selma Uamusse” já estão à venda e custam entre os 12,50 euros e os 25 euros.