Numa primeira instância, Txiki Begiristain olhou para o ano de 2019 como a barreira para aquilo que sentiu sempre como uma espécie de missão que estava terminada. Depois, perante o contexto que estava criado no clube e os próprios pedidos internos para quebrar essa promessa, decidiu passar a fasquia dos 55 para os 60 anos para terminar um trabalho que com a devida distância temporal será avaliado como um dos melhores das últimas décadas na posição. Questão? O espanhol tornou-se sexagenário em agosto. Agora, mais de um mês depois, chegou a primeira “confirmação”: o diretor desportivo vai deixar o Manchester City.

Chegado ao Etihad Stadium em outubro de 2012, com os citizens ainda a festejar a quebra do jejum de mais de quatro décadas sem conquistar a Premier League depois do dramático encontro da última jornada com o QPR decidido com dois golos em período de descontos, Beguiristain, que tivera apenas um papel semelhante no Barcelona (e com sucesso, entre 2003 e 2010), era visto como uma peça chave em falta para aquilo para o qual o City não estava preparado: ganhar de forma sustentada. Quer isso dizer que tudo irá mudar de forma drástica? Possivelmente, não. Mas a saída do espanhol pode precipitar o inevitável fim de uma era.

É quase como um castelo de cartas. Cai Beguiristain (porque quer), muito provavelmente cai Pep Guardiola (porque sente essa necessidade), garantidamente irão cair algumas peças da equipa (porque a visão passa a ser outra). Se o Julgamento do Século em que o clube está a ser julgado por um total de 115 infrações de âmbito financeiro parecia ser um terramoto, a notícia avançada esta noite pelo The Athletic não demorou a tornar-se um autêntico tsunami tendo em conta a dimensão que terá a breve e médio prazo no Etihad.

Como recorda a publicação, Txiki foi o homem a quem os proprietários do clube depositaram a visão que tinham para o crescimento do Manchester City. Alguns dos objetivos coletivos demoraram mais a chegar, ou não tivesse a Liga dos Campeões chegado “apenas” em 2022/23, mas o tetracampeonato alcançado na época anterior que foi o sexto título em sete anos é o exemplo paradigmático do sucesso alcançado com um plantel construído na sua totalidade pelo espanhol. Ainda assim, o principal “mérito” acabou por ser a contratação do treinador e amigo próximo Guardiola em 2016, após passagem pelo Bayern. Antes, quando ambos estavam na Catalunha, foi Beguiristain, que deixou os blaugrana por altura da saída de Joan Laporta da presidência em 2010, que se “atravessou” por Pep quando havia nomes na mesa como José Mourinho. Ferran Soriano, CEO do City, fechou a tríade de catalães que mudou o paradigma na Premier League.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

[Já saiu o segundo episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio.]

O futuro de Pep Guardiola pode não estar umbilicalmente ligado ao de Beguiristain, também ele antigo internacional espanhol e campeão pelo Barça como jogador. No entanto, se há muito que o técnico começava a falar da possibilidade de fechar o ciclo no Manchester City abrindo mesmo a porta a ter um trabalho como selecionador a médio prazo, a saída do diretor desportivo pode acelerar esse processo “natural”. “Se o Txiki estivesse no Chelsea, provavelmente teria ido também para o Chelsea”, assumiu um dia o espanhol.

Para já, e não havendo ainda qualquer informação interna por parte de Guardiola, a prioridade passa por encontrar um sucessor para Beguiristain, num processo onde o próprio terá também uma palavra a dizer no sentido de aconselhar os proprietários sobre a figura com melhor perfil para assumir o legado de mais de uma década no clube (e que vai terminar por decisão pessoal que não está relacionada com todo o impacto que o Julgamento do Século poderá trazer em caso de condenação). De acordo com o The Athletic, a ideia passará por assinar com esse novo diretor desportivo até ao início de 2025. É aqui que a história se vira também para Portugal e para a Primeira Liga, com dois nomes de equipas nacionais referidos no país.

O The Telegraph dá conta de Andoni Zubizarreta, atual diretor desportivo do FC Porto que foi companheiro de equipa de Txiki Beguiristain e de Pep Guardiola, como alguém que agrada aos “decisores”. Outro nome também apontado é o de Quique Carcel, que desempenha a função nos espanhóis do Girona, que foi a equipa sensação da última temporada na La Liga. Já o jornalista Fabrizio Romano colocou Hugo Viana como a opção mais forte entre os responsáveis do Manchester City para assumir o cargo a partir de 2025/26. Ao Observador, no final da derradeira época e quando todos os olhos estavam na possibilidade de saída do técnico Rúben Amorim, duas fontes tinham confidenciado que o diretor desportivo do Sporting tinha “tanto ou mais mercado” do que o treinador leonino em relação à Premier League.