A Sala da Paz, grupo de organizações de observadores eleitorais, manifestou “alguma preocupação” com a “aparente falta de condições de contagem de votos” das eleições gerais que decorreram esta quarta-feira em Moçambique, devido à falta de luz.

“Das mesas visitadas pelos observadores da Sala da Paz, à hora de encerramento, a Sala da Paz constatou, com alguma preocupação, a aparente falta de condições para início da contagem, devido a insuficiência de luz na sala de votação”, refere aquela plataforma de observadores eleitorais, em comunicado.

Os 800 observadores daquela coligação de organizações da sociedade civil visitaram um total de 3.717 mesas em todo o país, tendo reportado “receios sobre as condições de iluminação em 1.239 [33,3%] das mesas de votação, devido à insuficiência de luz elétrica”, avança-se na nota de imprensa.

Os observadores da Sala da Paz também registaram casos de membros de mesa de voto apanhados em flagrante com boletins de voto a mais, na tentativa de os introduzir na urna, na hora do encerramento, morosidade das filas de votação e chegada de eleitores interessados em votar a última hora, provocando enchentes e agitação.

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“Na província de Sofala, cidade da Beira, concretamente na Escola Primária Completa da Cerâmica, os observadores constataram a proibição de alguns eleitores de votar, com a alegação de que os boletins de voto tinham acabado”, diz-se no comunicado.

A Sala da Paz refere ainda que os seus observadores fotografaram pastas escondidas por detrás das caixas de material de votação nas mesas 3, 4 e 6 na Escola Antigos Combatentes, no distrito de Dondo, província de Sofala.

Os observadores também verificaram a presença de eleitores com “intenção de controlar os votos”, em 798 (21,5%) das mesas visitadas.

“Sendo a presença de eleitores [nas assembleias de voto, depois da votação] proibida por lei, este dado, revela, de alguma forma, que uma parte significativa dos eleitores não confia no trabalho dos órgãos e agentes eleitorais, o que reforça a necessidade de aprimorar mecanismos de transparência na sua atuação, para o reforço da confiança pelos eleitores”, destaca a Sala da Paz.

Devido ao risco de a permanência ilegal dos eleitores nas assembleias de voto poder gerar agitação, a organização apela aos agentes eleitorais e à polícia para adotarem uma abordagem pedagógica, por forma a evitar possíveis situações de violência.

A Sala da Paz refere que o encerramento da votação ocorreu sem incidentes significativos e o processo decorreu de acordo com as regras e regulamentos estabelecidos.

“A participação de jovens e mulheres foi notável, demonstrando o comprometimento dos eleitores com o exercício dos seus direitos democráticos”, realça.

A Comissão Nacional de Eleições recenseou 17.163.686 eleitores para a votação desta quarta-feira, incluindo 333.839 em sete países africanos e dois europeus.

As eleições contaram com mais de 184.500 membros de mesas de voto, distribuídos pelos 154 distritos do país (180.075) e fora do país (4.436). Em Moçambique funcionaram 8.737 locais de voto e no estrangeiro 334, correspondendo a 25.725 mesas de assembleia de voto no país e 602 assembleias no exterior (África do Sul, Essuatíni, Zimbabué, Zâmbia, Maláui, Tanzânia, Quénia, Alemanha e Portugal), cada uma com sete elementos.

As eleições gerais desta quarta-feira incluíram as sétimas presidenciais — às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos — em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.

Concorrem à Presidência da República Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força parlamentar), Daniel Chapo, com o apoio da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido extraparlamentar Podemos, e Ossufo Momade, com o apoio da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição).