“Entendo que seja um choque para muitas pessoas neste momento mas creio que posso explicar – ou pelo menos tentar explicar. Adoro absolutamente tudo neste clube, tudo na cidade, tudo nos nossos adeptos, na nossa equipa, no nosso staff. Amo tudo. O facto de mesmo assim tomar esta decisão mostra que estou convencido de que é a que tenho de tomar. É que estou, como posso dizer… A ficar sem energia… Não tenho nenhum problema agora, já sabia há muito tempo que teria de anunciar isto em algum momento mas estou absolutamente bem agora. Estou saudável, tanto quanto se pode estar na minha idade. ​Sei que não posso fazer este trabalho constantemente. Devo-vos a verdade – e esta é a verdade.”

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No final de janeiro, ainda com a época a pouco mais de meio, Jürgen Klopp mostrou através de uma outra perspetiva que é diferente. Não esperou que se escrevesse que ia sair, anunciou que ia sair. Não esperou que se escrevesse o porquê de sair, anunciou o porquê de sair. Não esperou que se escrevesse quando ia sair, anunciou a data em que ia sair. O Liverpool estava dentro de todas as competições apesar de não ser favorito em nenhuma e tinha a partir daí mais gasolina para alimentar o fogo daquilo que se tornara numa espécie de Last Dance. Ganhou a Taça da Liga, foi aos quartos da Liga Europa caindo com o vencedor da competição (Atalanta), acabou a Premier League em terceiro. Depois, quase nove anos depois, acabou a era Klopp.

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Primeiro devido ao Arsenal, depois por causa do Chelsea, mais tarde pelo Manchester City e sempre com o crescimento do Manchester United de Alex Ferguson pelo meio, o Liverpool foi-se perdendo no tempo no futebol inglês e europeu. Em 25 anos, entre 1990 e 2015, os reds ganharam a épica final da Champions de 2005 frente ao AC Milan, uma Taça UEFA, duas Supertaças Europeias, três Taças de Inglaterra, quatro Taças da Liga e duas Supertaças mas foram falhando sempre o título da Premier. Não era um currículo “vazio”, não tinha aquele troféu tão desejado, não mostrava aquilo que tinha sido o “grande Liverpool” dos anos 70 e 80. Em resumo, havia uma identidade para ser resgatada. Em resumo, havia um Jürgen Klopp por chegar.

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Com uma personalidade especial, o carisma capaz de encher Anfield e uma capacidade de liderança que ia casando com tudo o que foi aprendendo sobre futebol, o Liverpool voltou a ser um candidato principal. Podia não ter os fundos do Manchester City, do Arsenal ou do Chelsea (embora tivesse também boa capacidade de investimento), criou uma base capaz de sustentar o sucesso desportivo. Ganhou uma Premier, uma Taça de Inglaterra, duas Taças da Liga, uma Supertaça, uma Champions em três finais, uma Supertaça Europeia e um Mundial de Clubes mas, mais do que isso, construiu um caminho capaz de recolocar os reds no patamar onde outrora tinham chegado. Pelo meio, foi ficando desgastado. Não com ninguém, não contra ninguém, apenas pelo tempo. Muitos estágios, muitos treinos, muitos jogos, quase nada do resto. Acabou.

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Nos últimos meses, Jürgen Klopp tem estado nos bastidores. Em termos públicos, esteve presente no início de outubro na entrega da Ordem do Mérito da Alemanha, o reconhecimento mais alto do país, e passou a ser embaixador da Fundação do Liverpool. Esteve mais tempo em casa, com família e amigos, teve mais tempo para si e para o que mais gosta de fazer, faltava apenas suprir o vazio que ficara do futebol. Agora, a partir de 1 de janeiro,  poderá conciliar tudo de uma outra forma voltando ao ativo sem estar nos bancos.

A Red Bull confirmou esta quarta-feira que o germânico será o novo diretor geral de todas as equipas da marca de bebidas energética, num acordo que começou por ser avançado por Florian Plettenberg, da Sky Alemanha, e reconhecido pouco depois. O que significa esse regresso? Klopp ficará responsável por toda a visão estratégica das cinco equipas de futebol do grupo (RB Leipzig da Alemanha, Red Bull Salzburgo da Áustria, New York Red Bull da MLS, Red Bull Bragantino do Brasil e FC Liefering da Áustria), que a níveis diferentes tiveram o condão de poder formar talentos que chegavam depois às principais equipas europeias. Erling Haaland é o melhor exemplo recente, sendo que também o técnico alemão acabou por ir a essa “fonte” quando apostou na contratação do húngaro Szoboszlai ao RB Leipzig em 2023 por 70 milhões de euros.

“Na sua nova função estratégica, Jürgen Klopp não irá participar nas operações diárias dos clubes mas sim centrar-se em apoiar os diretores desportivos para promover a filosofia da Red Bull. Também irá aproveitar a sua ampla rede de contactos para ajudar a procurar talentos que se estejam a destacar e contribuir para a formação e desenvolvimento de treinadores”, explicou a Red Bull. “Depois de quase 25 anos junto da linha, não poderia estar mais emocionado com um projeto como este. O papel pode ter mudado mas não a minha paixão por futebol e pelas pessoas que fazem do jogo aquilo que é”, confirmou o germânico.

“Ao juntar-me à Red Bull a nível mundial, quero desenvolver, melhorar e apoiar o incrível talento futebolístico que temos à nossa disposição. Há muitas formas para podermos fazer isso utilizando todo o conhecimento e experiência de elite que a Red Bull possui para aprender de outros desportos e de outras indústrias. Juntos podemos descobrir o que é possível. Vejo o meu papel principalmente como um mentor para os técnicos e diretores dos clubes Red Bull mas, em última instância, sou parte de uma organização que é única, inovadora e com visão de futuro. Não podia estar mais entusiasmado”, acrescentou, recordando outros projetos que a bebida energética tem, nomeadamente a equipa campeã de Fórmula 1.

Ainda assim, e numa informação avançada também por Florian Plettenberg, existe uma cláusula que permite a saída das novas funções na Red Bull por mútuo acordo: a possibilidade de chegar ao comando da seleção da Alemanha, lugar onde se encontra nesta altura Julian Nagelsmann mesmo depois da eliminação nos quartos do Campeonato da Europa de 2024. Foi isso que ficou consagrado num contrato que teve Oliver Mintzlaff, diretor executivo de Projetos Corporativos da Red Bull, figura central nesta operação de mercado que chegou a ser CEO do RB Leipzig e que conhecia Jürgen Klopp ainda dos tempos em que estava na Bundesliga.