Continua a crescer o número de mulheres que se dizem vítimas de abuso sexual ou violação pelo bilionário egípcio, dono dos famosos armazéns Harrods de Londres e pai do namorado da princesa Diana. Nesta sexta-feira, a polícia anunciou ter recebido 40 queixas contra  Mohamed Al-Fayed e na quinta-feira, a BBC informou que tinha sido contactada por 65 mulheres no mesmo sentido.

Uma queixa na polícia, uma biografia, uma investigação jornalística. Indícios contra Al-Fayed remontam aos anos 90 mas acusação nunca surgiu

Em comunicado, a  Metropolitan Police especifica que estas 40 novas alegações se referem a factos que terão ocorrido entre 1979 e 2013 e continua a apelar a eventuais vítimas que ainda não se tenham dirigido às autoridades para o fazerem.

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“Estas são novas acusações para além das que já sabíamos antes do lançamento do documentário [da BBC, que foi para o ar a 19 de setembro]”, adiantou o comandante Stephen Clayman citado na nota de imprensa. “Recebemos várias alegações, a maioria relacionadas com Mohamed Al-Fayed, mas também as há relacionadas com ações de outras pessoas”.

Aliás, esse pode ser o objetivo de qualquer investigação da polícia, já que Al-Fayed morreu em agosto do ano passado, explica a polícia.

“É importante esclarecer, nesta fase, que não é possível instaurar um processo penal contra uma pessoa que morreu. Isto significa que não existe qualquer perspetiva de condenação relativamente ao próprio Al-Fayed. No entanto, continuamos a analisar se outros indivíduos podem ser acusados de quaisquer infrações penais”, sublinha a Metropolitan Police.

A  autoridade faz ainda questão de referir que “todos estes relatos terão de ser formalmente registados e avaliados para verificar se existem alegações de criminalidade que possam ser feitas. Isto levará algum tempo”, lê-se no comunicado.

“Quero realçar a coragem que as alegadas vítimas tiveram em dar este passo importante e assegurar a outras possíveis vítimas que a nossa equipa de inspetores as vão ouvir e apoiar”, continuou. “Apesar de a maioria vir do círculo do Harrods, a polícia está em contacto com outras organizações e empresas ligadas a Al-Fayed, para assegurar a identificação de todas as pessoas afetadas e que elas tenham a oportunidade de falar connosco”, acrescentou o comandante Stephen Clayman.

Mais de 20 das alegadas vítimas são antigas funcionárias do Harrods, empresa que era detida por Al-Fayed, recorda a BBC. Outras, eram contratadas pelo próprio empresário sob falsos pretextos, para serem empregadas domésticas, amas, cozinheiras ou mesmo chefs.

“Fui feita prisioneira e violada”

“Ele não queria uma ama. Ele não precisava de uma ama”, declara Margot, nome fictício, à BBC, uma das alegadas vítimas, que trabalhou na mansão de Al Fayed no Surrey. “Fui de limusina para a mansão de Mohamed. Quando cheguei para o suposto trabalho de ama, ele colocou-me num quarto com pouca luz e uma cama de solteiro durante cinco dias. Uma vez dentro da mansão, é impossível sair, ele é que dá autorização para a abertura dos portões. Eu fui feita prisioneira“.

“Só vi as crianças duas vezes e nem sequer estava autorizada a interagir com elas. Uma noite, Al-Fayed entrou no quarto, empurrou-me contra a cama e violou-me por via vaginal e anal”, acusa Margot.

“Mais tarde compreendi todas as questões que me foram colocadas aquando da entrevista: se tinha namorado, se era virgem… Aqueles cinco dias afetaram-me imenso, nunca mais fui nem serei a mesma pessoa confiante”.

Uma outra mulher pergunta-se se terá sido a primeira vítima do empresário egípcio, remontando os factos ao ano de 1977. Sheenagh trabalhava num banco no Dubai quando tinha 25 anos e foi aí que conheceu Al-Fayed. O magnata abordou-a sobre uma potencial oportunidade de emprego. “Chamou-me ao seu gabinete, sentei-me e ele deu a volta, para trás de mim. As mãos dele estavam em todo o lado“, descreveu Sheenagh.

“Consegui soltar-me dele e ele bloqueou a porta. Dei-lhe um estalo na cara, passei por ele e ele disse que me iria arrepender. Desde aí, começou a perseguir-me: aparecia no meu local de trabalho, no supermercado, repetia constantemente as mesmas palavras”. Sheenagh diz que isto aconteceu cerca de 20 vezes.

Em 2015, quando a saúde do marido se começou a deteriorar, decidiu revelar-lhe o que se passara. “Contei ao meu marido antes de ele morrer. Achei que tinha o direito a saber. Era o único segredo que tinha guardado dele”, disse à BBC. Hoje, Sheenagh diz que o seu maior arrependimento é o de não ter vindo a público com a sua história enquanto Mohamed Al-Fayed era vivo.

Estes testemunhos têm surgido depois de, em setembro, a BBC ter lançado o documentário AlFayed: Predator at Harrods (Al-Fayed Predador no Harrods em tradução livre para o português) onde dezenas de mulheres acusaram o magnata de abuso sexual e de violação.

Dono histórico do Harrods acusado de abuso sexual e violação por 37 mulheres

Os atuais proprietários do Harrods dizem-se “empenhados em resolver e chegar a acordo com as mulheres que dizem ter sofrido os abusos cometidos por Mohamed Al-Fayed”, de modo a evitar um longo processo judicial. E reitera que mais de 200 mulheres já estão envolvidas no processo, que continua aberto pela empresa, quer a funcionárias que trabalhem atualmente nos luxuosos armazéns londrinos, quer a antigas trabalhadoras.

Assim que o documentário da BBC saiu, a administração do Harrods disse-se horrorizada com as alegações das vítimas e admitiu conhecer as “tendências do empresário para abusar do seu poder, fosse qual fosse o local ou área de trabalho”, recorda a CNN.  Uma das mulheres alega que tinha apenas 15 anos quando o bilionário abusou dela, sendo que este teria 79 anos à data dos acontecimentos.

Os alegados abusos aconteciam nos mais variados locais, como no apartamento de luxo do magnata, no Hotel Ritz em Paris (do qual era dono), no Fulham FC e no escritório do Harrods.

Além do Harrods, há suspeitas de crimes sexuais de Al Fayed também no Fulham FC

Texto editado por Dulce Neto