Foi quase como um jogo de xadrez. Perceberam-se as peças possíveis, potenciais e prováveis no tabuleiro, foram-se antecipando jogadas, houve vários encontros de bastidores sobretudo a partir do último ano tendo em vista um só objetivo: quando a primeira movimentação fosse feita, todos sabiam o que havia ou não para mexer de seguida. As eleições à presidência da Federação Portuguesa de Futebol ainda não têm data marcada mas, depois de vários nomes ventilados, deverão ficar fechadas apenas a dois nomes: Pedro Proença e Nuno Lobo. E bastou a tal primeira movimentação para começar uma corrida que estará agora “fechada”.

Começando por Pedro Proença, o presidente da Liga de Clubes, que foi eleito para um terceiro e último mandato até 2027, tem sido há muito desafiado para avançar com uma candidatura à liderança da Federação Portuguesa de Futebol mas também, tão ou mais importante, a partilhar a visão que tem para o futebol e demais modalidades sob a égide da FPF. A todos eles, bem como aos representantes dos clubes profissionais em Assembleias Gerais da Liga, o antigo árbitro foi ouvindo, recolhendo opiniões e dizendo que, caso fosse um movimento capaz de agregar todos os parceiros envolvidos, poderia fazer uma reflexão sobre o assunto.

Segundo apurou o Observador, Proença tem explicado a todos esses agentes a sua visão sobre a necessidade de começar um novo período de governance na Federação que consiga representar todo o futebol em pontos chave como a reformulação dos quadros competitivos, uma nova era nas relações entre FPF e Liga tendo em conta não só a centralização dos direitos televisivos mas também situações como a fiscalidade, os seguros e as apostas desportivas, um novo modelo de arbitragem ou a profissionalização do futebol feminino. São estes os principais eixos discutidos nos encontros que o líder da Liga tem mantido com vários representantes do futebol nacional, com essa ideia premente de aproximação da base aos centros decisórios da FPF.

A última reunião de Pedro Proença com esses agentes decorrer no passado sábado, no Porto, como noticiou o JN e confirmou o Observador. Além dos representantes de Associações e delegados, marcaram presença grupos como a APAF (árbitros), a ANTF (treinadores), AMEF (médicos), ANEDAF (enfermeiros), ANDIF (dirigentes) e o Sindicato de Jogadores. O JN assegura que, perante aquilo que aconteceu e a aceitação das ideias passadas, o presidente da Liga teria o equivalente a 75% dos votos caso avançasse com a candidatura à liderança da Federação, com 63 dos 84 votos. Foi neste contexto que Nuno Lobo veio tomar uma posição esta sexta-feira, assumindo que vai em breve apresentar oficialmente a sua candidatura.

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“Os cálculos que tenho neste momento do colégio eleitoral não são, nem de perto nem de longe, aqueles que vêm sendo ditos publicamente por uma eventual outra candidatura com a qual me irei confrontar em breve nas urnas. Ninguém é dono do voto de ninguém. Os 84 delegados votarão secretamente e em consciência naquele que será o melhor projeto para os próximos quatro anos. Tenho feito um périplo pelos 84 delegados e não há este unanimismo que se quer fazer crer e propagandear”, comentou o advogado que está na liderança da Associação de Futebol de Lisboa pelo terceiro e último mandato, que termina no final de 2024, em declarações à agência Lusa, no primeiro momento em que assumiu publicamente que vai a votos.

“Há uma visão que, desde logo, me separa de Pedro Proença: sou um homem que cumpre compromissos. Vou terminar o mandato para o qual fui eleito na AFL [Associação de Futebol de Lisboa] e cumpri tudo aquilo que prometi aos meus clubes. Ao que consta, Pedro Proença vai fugir a meio de um mandato e da concretização de todas as linhas e promessas que fez aos clubes. Isso é algo diferenciador entre alguém que cumpre os compromissos e alguém que não cumpre aquilo que prometeu. Pedro Proença e a própria estrutura da Liga deveria estar muito mais preocupado em resolver os problemas e as questões que ali emergem do que andar em reuniões e a fazer outras coisas para as quais não foi eleito há cerca de um ano e meio pelos seus clubes. Devia estar preocupado com os direitos televisivos, que é uma mão cheia de nada. Hoje, não temos nada em concreto para os clubes e até para a Liga sobre uma das grandes propostas”, frisou.

“A informação algo informal que circula é que as eleições poderão ser realizadas entre dezembro deste ano e janeiro de 2025. Julgo que não fugirá muito desses dois meses. Porventura, ao longo de janeiro. É a informação que tenho, mas, obviamente, não é oficial. É aquilo que se vai dizendo nos corredores do futebol português. Estamos a concretizar um programa reformista, com diversas medidas estruturantes para o futebol português no seu todo. Para mim, não há esta divisão entre amador ou profissional. Vamos apresentar em breve um conjunto de preocupações, mas, sobretudo, de soluções”, concluiu, assegurando que tem “apoios públicos muito significativos” e personalidades “de relevância e referência” da modalidade.

Ao longo dos últimos meses, foram muitos os nomes ventilados para assumir uma candidatura à Federação Portuguesa de Futebol (apenas e só porque Fernando Gomes cumpre o terceiro e último mandato, caso contrário seria uma “não questão” e o atual líder não teria sequer oposição em eleições). Luís Figo, um dos três Bolas de Ouro de Portugal, equacionou avançar, manteve algumas reuniões nesse sentido, falou entre vários contactos com Nuno Lobo mas começou a considerar que não seria capaz de fazer uma lista capaz de unir todos os intervenientes. Dos atuais órgãos sociais da FPF também foi ventilada nos bastidores a hipótese de José Couceiro poder avançar, pelo conhecimento de décadas do futebol português, mas esse cenário nunca avançou. Assim, a luta deverá mesmo ser entre dois candidatos, com ou sem votos já “garantidos”.