Era sobretudo um médio. Podia jogar mais recuado, podia ter margem para chegar mais à frente, podia ser aquele interior com missões mais específicas com ou sem bola. Também chegou a ser um falso lateral direito, ainda pisou terrenos como falso ala direito, não era estranho a funções mais assumidas como aquele 10 que entretanto foi desaparecendo com a evolução do futebol. Ao longo da carreira de jogador, Rúben Amorim foi aprendendo a fazer um pouco de tudo mas nenhuma dessas partes lhe retirava a capacidade técnica de fazer bem as coisas. Não tinha aquela ginga própria de artistas à parte nem a vontade de partir para situações de 1×1 mas sabia fintar. Sabe fintar. E ainda continua a saber “fintar”, mesmo na função de treinador.

De regresso às conferências de imprensa depois da paragem para compromissos das seleções, neste caso para fazer a antevisão da viagem ao Algarve para defrontar o Portimonense na terceira eliminatória da Taça de Portugal (que surge na antecâmara de novo encontro fora para a Champions frente aos austríacos do Sturm Graz), foram muitas as perguntas a propósito da saída de Hugo Viana para o Manchester City no final da temporada – com tudo o que isso poderá trazer depois de “efeitos colaterais”. A todas as tentativas o técnico respondeu com um sorriso e a mesma ideia forte: nada muda a não ser o que foi comunicado pelos dois clubes e ninguém vai deixar Alvalade a não ser o diretor desportivo só pela ligação pessoal existente.

“Eu para o Manchester City? São rumores. O Viana será sempre um grande amigo mas o percurso profissional um dia será diferente. Uma coisa não leva à outra… O grande foco é que nada mudou no Sporting, nada. O Viana só vai sair no final da época. Até lá, é o diretor desportivo, não há mudanças nesse aspeto, apenas uma preparação do clube para a saída dele. Essa é a única coisa certa. O Viana era o principal elemento a não querer que isto se soubesse nesta altura. Nada mudou, o foco está nesta época e o que interessa é ganhar os nossos jogos. Toda a estrutura mantém-se igual, a única coisa que sabemos é que ele para o ano não está connosco. Eu não posso controlar o que vocês vão dizer ou perguntar, posso controlar a resposta que dou: única coisa que mudou é que o Viana vai sair, nada mais mudou no Sporting”, comentou Rúben Amorim. “Claro que o Viana na semana do City não vai poder entrar no balneário porque não o vou deixar entrar para evitar conflitos, mas é só isso que muda”, ironizou depois o técnico dos leões.

“O que sei é que vai ser diretor desportivo até final da época. É o nosso diretor desportivo, vai trabalhar para o nosso clube. A única coisa que se sabe é que vai sair no final da época. Isto soube-se mais cedo para não criar uma novela. Há uma preparação de dois clubes em que vai haver troca de estruturas, algo natural na vida de um clube como acontece também nas vossas empresas. Em relação ao Viana, quer ganhar mais do que toda a gente ao Manchester City. Estamos todos no mesmo barco e isso é o principal”, reforçou numa conferência que girou quase toda em torno da saída do dirigente para os campeões ingleses.

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Se falou comigo para suceder a Guardiola caso saia? Não falámos sobre isso. São dois caminhos diferentes. O caminho do Viana é o caminho do Viana, o meu é o meu. Temos uma relação profissional que não se irá manter para sempre mas é certo que a de amizade se vai manter.”

“Fazer o que o Viana fez até agora é muito difícil mas o clube tem uma estrutura, um método, pessoas. Temos um caminho feito, ninguém faz nada sozinho. Se me perguntassem há três anos era diferente. Agora, acho que já toda a gente sabe como as coisas se fazem. O Sporting chegou a um momento em que só precisa dos adeptos, são eles a máquina disto. Se isso se mantiver, acho que no resto já há um plano. O clube é muito grande mas acho que estamos numa fase onde já há um método, uma ideia, um projeto e uma visão onde se podem mudar peças. Tudo vai seguir com naturalidade”, assegurou Rúben Amorim, que mais tarde voltou a fintar as questões sobre a possibilidade de deixar também os leões no final da época.

“Sinto-me preparado para continuar a trabalhar no Sporting, este ano com mais responsabilidade porque toda a gente vê que o Sporting está num patamar diferente. Temos agora o jogo da Taça de Portugal onde queremos ganhar, esta equipa técnica ainda não ganhou. Temos de recuperar todos os jogadores, focá-los nos objetivos do dia a dia e é para isso que estou preparado”, rematou sobre o seu futuro a breve prazo.

Em paralelo, Rúben Amorim abordou também nova presença na lista dos 50 melhores treinadores mundiais da atualidade, neste caso sendo o melhor português na 11.ª posição à frente de Abel Ferreira, Marco Silva e Paulo Fonseca (a título de curiosidade, a FourFourTwo coloca no top 10 Pep Guardiola, Carlo Ancelotti, Xabi Alonso, Mikel Arteta, Simone Inzaghi, Unai Emery, Lionel Scaloni, Diego Simeone, Arne Slot e Thomas Tuchel). “Isto nunca acaba. Até ao fim da carreira, não acaba. Hoje há uma classificação, daqui a dois meses há outra. É não ligar a isso e melhorar cada vez mais. Não me distrai minimamente e não ligo a isso, sei que daqui a duas semanas será um mundo completamente diferente”, salientou.

Por fim, e na mesma conferência, Rúben Amorim falou sobre os jogadores que têm estado no departamento médico dando conta de que Marcus Edwards e Gonçalo Inácio devem estar recuperados, Pedro Gonçalves e Matheus Reis ainda não, St. Juste pode ter alguns minutos, Diomande continua em dúvida e Eduardo Quaresma vai demorar um pouco mais. Em paralelo, o técnico falou também de Viktor Gyökeres e de um vídeo que circulou após o encontro com o Casa Pia onde era visto a fumar shisha numa discoteca.

“Reagi com normalidade. Obviamente, com a responsabilidade que tenho, não é a coisa mais saudável para um atleta. Mas temos de ver pelo outro lado. Primeiro, estava na folga. Depois, são jogadores jovens e que passam os anos em que têm de viver certas experiências [a jogar futebol]. Têm de fazer outras coisas. Vi tudo com normalidade. Não é a coisa mais saudável mas estava na sua folga e, como todos os outros, tem de cometer um ou outro excesso. Se cumprir o regulamento do clube, tudo bem. Não é o mais saudável do mundo mas sendo jovem ele também tem de viver e ter o espaço para fazer isso”, referiu Rúben Amorim.