É a chamada magia da Taça de Portugal. Duas semanas depois de golear o Atl. Madrid na Luz e a dias de visitar o Feyenoord nos Países Baixos, o Benfica fazia uma pausa nas imaginações milionárias e colocava os pés no chão para defrontar o Pevidém na terceira eliminatória de um dos principais objetivos da temporada encarnada.

Em Moreira de Cónegos, casa emprestada ao clube do Campeonato de Portugal, a equipa de Bruno Lage tinha um desafio teoricamente acessível depois da pausa para os compromissos das seleções e antes do regresso da Liga dos Campeões e do Campeonato. Na memória, porém, estava a dificuldade que o Sporting tinha tido para eliminar o Portimonense na noite anterior — para além da vontade natural de voltar ao Jamor.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Pevidém-Benfica, 0-2

Terceira eliminatória da Taça de Portugal

Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, em Moreira de Cónegos

Árbitro: David Silva (AF Porto)

Pevidém: Rui Ribeiro, Leandro Silva, Lima Pereira, Carlos Rocha, Simão (Tiago Vieira, 87′), Didi (Rodrigo Mendes, 87′), Tiago Ronaldo, Danilson (Atsushi, 63′), Pedrinho, Araki (Ericson, 70′), João Marna (Yuya, 70′)

Suplentes não utilizados: André Preto, Otávio, Zé Rui, Sardinha

Treinador: João Pedro Coelho

Benfica: Samuel Soares, Álvaro Carreras, António Silva, Tomás Araújo, Issa Kaboré (Gerson Sousa, 79′), Florentino, Fredrik Aursnes (João Rego, 90′) Rollheiser (Pavlidis, 66′), Jan-Niklas Beste, Arthur Cabral (Leandro Barreiro, 79′), Amdouni (Schjelderup, 45′)

Suplentes não utilizados: André Gomes, Adrian Bajrami, Diogo Prioste, Gustavo Varela

Treinador: Bruno Lage

Golos: Jan-Niklas Beste (3′ e 75′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Álvaro Carreras (51′)

Tudo numa semana, porém, em que o universo do Benfica foi abalado pela acusação de corrupção feita à SAD encarnada e a Luís Filipe Vieira. Algo que, garante Bruno Lage, não afeta a preparação desportiva. “Há um processo a decorrer. Eu, como não sou advogado nem juiz e sou treinador, tenho o foco de preparar a equipa da melhor maneira. Blindar os jogadores, para me terem a mim e à minha equipa técnica como exemplo. O que falamos entre nós é sobre o treino, o jogo, o tipo de dinâmicas que podemos ter, conhecer melhor os jogadores. O presidente fala connosco sobre o dia a dia da equipa e isso é o mais importante”, explicou o treinador encarnado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Assim, este sábado e de forma natural, Bruno Lage fazia várias alterações ao onze inicial e deixava diversos titulares de fora da ficha de jogo — incluindo Otamendi, Di María, Kökçü e Aktürkoğlu. Tomás Araújo e António Silva faziam dupla no eixo defensivo, Kaboré e Carreras ocupavam as laterais, Amdouni, Rollheiser e Beste apoiavam Arthur Cabral e Florentino e Aursnes eram os donos do meio-campo, sendo que na baliza surgia Samuel Soares. Do outro lado, numa equipa que está no 4.º lugar do Grupo A do Campeonato de Portugal, João Pedro Coelho lançava o onze habitual e o sistema de três centrais que usa normalmente.

O Benfica começou o jogo a todo o gás, entrando no último terço do Pevidém em diversas ocasiões logo nos primeiros instantes, e abriu o marcador ainda dentro dos cinco minutos iniciais. Aursnes controlou pelo corredor central, abriu em Kaboré na direita e o lateral cruzou rasteiro para a área, onde Beste apareceu no poste mais distante a desviar de primeira para dar vantagem aos encarnados (3′). 

Arthur Cabral poderia ter aumentado a vantagem logo depois, com um remate muito violento que Rui Ribeiro defendeu para a frente (9′), e tanto Álvaro Carreras (11′) como Rollheiser (17′) procuraram a mesma solução, sendo que o espanhol atirou à malha lateral e o argentino motivou outra defesa do guarda-redes português. A partir daí, porém, o Benfica reduziu a velocidade e diminuiu a intensidade, permitindo maior posse de bola ao Pevidém e deixando de causar perigo de forma tão frequente.

Os encarnados só voltaram a assustar já à passagem da meia-hora, com Arthur Cabral a cabecear por cima depois de um cruzamento de Kaboré na direita (29′), Rollheiser a atirar novamente por cima após um lance na esquerda (33′) e Tomás Araújo a cabecear também por cima da trave depois de um canto (36′). Ainda assim, o Pevidém não abdicava de colocar em prática os próprios processos e aproximou-se pela primeira vez da baliza de Samuel Soares ainda na primeira parte, com Danilson a cruzar na direita e João Marna a falhar o cabeceamento por pouco (39′).

Ao intervalo, o Benfica estava a vencer o Pevidém pela margem mínima e existia a ideia de que os encarnados poderiam ter aplicado mais intensidade e velocidade para terminar a primeira parte com outro conforto, já que a equipa do Campeonato de Portugal, dentro das suas limitações, não parecia ter intenções de deixar de explorar as transições rápidas no espaço que o adversário deixava nas costas da defesa.

Bruno Lage mexeu logo ao intervalo e trocou Amdouni por Schjelderup, que rematou ao lado na primeira situação em que tocou na bola (47′). O Benfica entrou na segunda parte tal como na primeira, com mais intensidade e mudanças de velocidade que deixavam o Pevidém naturalmente abalado, mas a equipa de João Pedro Coelho não desistia e chegou a assustar com um livre direto de Simão que passou por cima (52′).

O avançar do relógio, porém, provocou o expectável: o Benfica estacionou no último terço contrário, o Pevidém deixou de respirar e os encarnados iam sufocando o adversário, embora o segundo golo (e a tranquilidade) continuasse sem aparecer. Bruno Lage voltou a mexer já depois da hora de jogo, trocando Rollheiser por Pavlidis, e o jogo entrou numa fase muito incaracterística em que vários jogadores minhotos eram afetados por cãibras e dificuldades musculares.

O inevitável, porém, apareceu a um quarto de hora do fim. Arthur Cabral recebeu à entrada da grande área e descaído na esquerda, ganhou um ressalto e a bola sobrou para Beste, que atirou em força e cruzado para bisar e dar descanso aos encarnados (75′). Lage reagiu com mais duas substituições para lançar Leandro Barreiro e Gerson Sousa, sendo que o último cumpriu mesmo a estreia na equipa principal, e já pouco aconteceu até ao fim à exceção de mais alguns minutos para o jovem João Rego.

O Benfica venceu o Pevidém em Moreira de Cónegos e garantiu o apuramento para a quarta eliminatória da Taça de Portugal, já depois de o Sporting fazer o mesmo e antes de o FC Porto procurar seguir em frente este domingo. Jan-Niklas Beste, naturalmente, foi o elemento em evidência na equipa mais do que secundária de Bruno Lage.