Várias vozes ligadas à música têm contestado a possibilidade de menores de idade se possam tornar estrelas no mundo da pop, em reação à morte de Liam Payne, ex-membro dos One Direction.

Liam Payne (1991-2024): a popstar que ainda procurava o caminho certo

“Eu acho que pôr alguém com 16 anos num mundo adulto dessa forma é potencialmente muito danoso. O Robbie Williams certamente passou por isso” disse Guy Chamber, citado pelo Guardian. O compositor britânico colaborou com Williams, que nos anos 90 teve uma rápida ascensão à fama como membro da banda Take That.

Liam Payne abordou várias vezes a sua dificuldade em encontrar estabilidade mental após a sua ascensão ao estrelato como membro dos One Direction.

Robbie Williams, que foi o mentor dos One Direction no programa The X Factor, disse estar a processar “um choque à escala mundial”, depois de Liam ter caído de uma varanda num hotel em Buenos Aires, na passada quarta-feira. “Estou a lidar com depressão, estou a lidar com tristeza. Grande parte disso é motivada pelo Liam”, referiu numa entrevista à Deadline.

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Williams desvaloriza a sua influência no sucesso da boyband: “Eu quase não fiz nada, sendo honesto. Eu apenas passava tempo com eles. Eles eram todos atrevidos e amáveis”. Contudo, confessa ter sido mais interventivo quando reconheceu um padrão familiar no caminho tomado pelos artistas fora dos palcos. “Os julgamentos e atribulações do Liam foram muito parecidos com os meus, por isso, fazia sentido que eu o abordasse e oferecesse o que podia. E foi o que fiz”, confessa.

Lembrou quando era adolescente e os pedidos de ajuda que fazia eram encarados de forma negativa. “Como é que te atreves a não estar agradecido?”, diz que lhe perguntavam. “Isto não é um problema da fama, isto é um problema humano. Um problema social, isto é um problema das redes sociais. Isto não é um problema apenas de nós celebridades, é de nós humanos”, afirmou.

Guy Chambers, que co-escreveu as músicas de Robbie Williams Angels e Let Me Entertain You, defende que morte de Payne deve motivar mudanças. “Eu sugiro que as pessoas não devem fazer parte de uma boyband até terem 18 anos e a indústria musical deve manter esse compromisso”.

“Eu tenho quatro filhos, por isso eu penso muito nisto. Eu sei que no caso do Robbie com os Take That não havia qualquer proteção para tomar conta dos rapazes adolescentes. Isso foi há muito tempo, mas eu não vejo grande sinal de mudança. Não há muito mais cuidado por parta das pessoas envolvidas em grandes programas de talentos televisivos” afirmou Chambers.

Mike Smith, diretor de editoras como a Warner, EMI e Columbia  respondeu à proposta de Chambers: “Não tenho a certeza se deve ser algum tipo de legislação, mas quanto mais tempo uma pessoa conseguir adiar uma carreira na música, melhor”.

Smith disse ter admiração por “aqueles que conseguirem passa por uma carreira profissional precoce num bom estado mental”, justificando que  “aos 16 anos, as pessoas ainda são imaturas, a ideia de ter de passar por toda essa loucura quando ainda não sabes quem és é alarmante”.

Comentou ainda como a questão foi sendo abordada pelas grandes editoras musicais, ao longo do tempo. “Quando eu estava na Warner em 2018, nós melhorámos isto. Criámos um fundo no contrato dos compositores jovens para cobrir  cuidados com a saúde mental, porque estávamos a ver que à volta de 25% deles estavam a sofrer de ansiedade ou depressão e estes não eram as nossas estrelas pop de primeira linha”, contou.

“Eu sei que isso ainda não existia na altura do Robbie Williams, mas em parte porque tivemos essa conversas sobre o assunto”, disse Mike Smith, que atualmente é o presidente da Downtown Music Publishing. “Aquilo que ainda não mudou é a pressão incrível sob a qual estes jovens artistas estão. As pessoas querem que estejas feliz a toda a hora e és escrutinado constantemente”, concluiu.