Era o momento mais importante para Jorge Nuno Pinto da Costa desde o último 27 de abril. No dia em que se assinalam precisamente seis meses desde que perdeu as eleições para André Villas-Boas, abandonando a liderança do FC Porto ao fim de mais de quatro décadas, apresentava o livro que recorda, detalha e aborda os bastidores de uma era que ainda agora terminou. 

No Centro de Congressos da Alfândega do Porto, a meio da tarde desde domingo, Pinto da Costa apresentou pessoalmente “Azul até ao fim”, o polémico livro de memórias onde surge na capa, apoiado num caixão envolto numa bandeira do FC Porto. A claque Super Dragões marcou presença, recebendo o antigo presidente à entrada do edifício e entoando cânticos e gritos de apoio quando este subiu ao palanque, provocando uma emoção clara em Pinto da Costa quando se ouviu repetidamente “presidente, só temos um presidente”.

Para além da larga mancha de elementos da claque — incluindo Sandra Madureira, mulher do líder Fernando Madureira, que continua em prisão preventiva –, várias figuras conhecidas e reconhecidas do universo do FC Porto não deixaram de marcar presença. Vítor Baía, Fernando Gomes, Valentim Loureiro e Fernando Póvoas estiveram na Alfândega do Porto, assim como Nuno Lobo, candidato às últimas eleições dos dragões, e também Luís Gonçalves, antigo diretor-geral do clube. Sérgio Conceição, porém, não apareceu. 

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“Queria agradecer a todos os que vieram. Quando me disseram que tinham alugado esta sala, disse que ia ser muito grande e que depois iam explorar que estava pouca gente. Afinal, a sala está cheia. De amigos e de gente que gosta de mim”, começou por dizer Pinto da Costa, que iniciou o discurso depois de ouvir a leitura do primeiro capítulo do livro. Na sala, a lotação de 1.200 pessoas estava totalmente esgotada, sendo que foi desde logo anunciado que a apresentação não iria contar com sessão de autógrafos.

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Mais à frente, o antigo presidente do FC Porto explicou o porquê de ter decidido escrever um livro. “Comecei a escrever não para ser um livro, escrevi para mim. Não queria que ninguém soubesse, como está escrito. Resolvi escrever para mim e senti que quem sofre um choque como sofri, que tinha um tumor maligno… É um choque. Quem passou por isso sabe do que estou a falar, quem não passou espero que nunca passe. Então resolvi escrever para mim, era uma forma de desabafar”, começou por dizer.

“Acho que as pessoas que gostam de mim vão ler o livro. Encarei o diagnóstico com realidade, não tenho que me queixar. Tinha 84 anos e hoje estou com 86. Espero fazer os 87. Só tenho de agradecer a Deus a vida que me deu, que me permitiu fazer o que quis e gostava de fazer. Ter os amigos que queria e saber ignorar e esquecer os inimigos. Só peço a Deus que todos vós durem pelo menos até aos 86, como eu. Seria bom para todos”, acrescenta Pinto da Costa, reiterando que “na página 54 está escrito que o livro não era para editar” e que foi apenas “escrevendo sobre o que sentia no dia a dia”.

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Num discurso que foi sendo interrompido por aplausos e gritos de apoio, com o antigo dirigente a mostrar-se muito emocionado sempre que se sentia acarinhado, Pinto da Costa explicou que o livro conta com “momentos de felicidade”, mas também com “momentos desagradáveis”. “Sei que a capa do livro chocou algumas pessoas. A escolha foi minha. Achei natural. Têm de compreender que, depois de ter sabido da minha doença, já morreu muita gente, alguns deles meus amigos que estavam de muito boa saúde. Para morrer basta estar vivo, não é preciso mais nada. Devemos encarar a morte não como uma desgraça, mas com naturalidade. Entendi que a melhor forma de mostrar nisso era pôr na capa um caixão”, garantiu.

Pinto da Costa indicou ainda que as “maiores alegrias” enquanto presidente do FC Porto foram as visitas aos Aliados, depois de troféus conquistados, demonstrou boa disposição ao revelar que escreve sempre à mão porque “com os pés não consegue” e ainda sublinhou a ideia já veiculada de que não quer que ninguém vá ao seu funeral vestido de preto, apenas de azul.

“Não quero ver lá ninguém de luto ou de preto em sinal de tristeza. Quero ver toda a gente vestida de azul. Por três razões: azul é cor do céu, do manto da Nossa Senhora e do FC Porto”, afirmou, abordando novamente o tema da fé já perto do fim da intervenção, defendendo que “ser católico não praticamente é como ser um ciclista que não tem bicicleta”.