A Câmara Municipal de Cascais comprou a pintura Rei Canuto (1977), de Paula Rego. A informação consta num comunicado da Casa das Histórias Paula Rego, museu monográfico dedicado à artista portuguesa, em Cascais, que celebra esta quinta-feira 15 anos com uma grande exposição baseada na própria coleção.
Contactado pela agência Lusa sobre a nova aquisição de uma obra de Paula Rego pela autarquia para a coleção da Casa das Histórias, o presidente da Fundação D. Luís, Salvato Teles de Menezes, indicou que “foi comprada por 262.500 euros a uma colecionadora estrangeira residente em Portugal”.
A colecionadora privada, que pediu anonimato, “manifestou interesse em vender a obra à Câmara de Cascais para que pudesse ficar na Coleção Paula Rego, guardada na Casa das Histórias”, acrescentou o responsável à Lusa sobre a peça adquirida no ano passado.
Em 2022, a Câmara de Cascais adquiriu à família de Paula Rego, após negociações, a pintura The Exile (1963) e recebeu em doação as obras Day e Night (1954), na mesma altura.
Nesse ano, a proposta da aquisição de The Exile (O Exílio) à família da pintora — por 240 mil euros — foi apresentada pelo presidente da autarquia, Carlos Carreiras, em reunião de câmara e aprovada por unanimidade.
Atualmente, segundo a mesma fonte, a Coleção da Casa das Histórias Paula Rego — propriedade da Câmara de Cascais — é composta para 596 obras, entre desenho, pintura, escultura, têxtil, gravura.
“A Coleção da Casa das Histórias Paula Rego em diálogo” dá título à mostra — a mais abrangente de sempre, segundo a entidade — reunindo uma centena de obras, incluindo peças inéditas, para homenagear Paula Rego (1935-2022), numa iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais. Será a primeira vez que será possível ver a pintura adquirida em 2023.
A exposição distribui 101 obras por seis secções temáticas que seguem o percurso artístico da criadora, abordando a evolução técnica e estilística das suas obras, a construção das personagens femininas e as relações entre o seu trabalho e outras manifestações artísticas como o teatro e o cinema. Com curadoria de Catarina Alfaro, a nova exposição estará patente durante um ano, para “permitir uma aproximação e apreciação detalhada de seis décadas de criação da artista”.
Entre outras criações em exposição, poderão ser vistas A noiva do corvo (1975), guache sobre papel, obra nunca exibida e que pertence à série de ilustrações de contos tradicionais portugueses, e um Autorretrato com as netas (2001—2002), da série Jane Eyre, litografia colorida à mão.
Também estarão expostos os retratos de Paula Rego pelo fotógrafo Nicholas Sinclair, doados ao museu, agora apresentados pela primeira vez, segundo a Fundação D. Luís. Peças de instituições parceiras, como a Fundação Arpad Szenes — Vieira da Silva, a Fundação Millennium BCP e o Museu Nacional do Teatro e da Dança, completam a exposição para “ampliar a compreensão sobre o impacto de Rego na arte contemporânea”. Serão também mostradas, pela primeira vez, duas ilustrações que a artista fez para o livro de contos de Eric Jourdan Barbe Bleu, Croquemitaine et Compagnie (Barba Azul, Papão e Cia), publicado pela editora francesa Éditions de la Différence em 1986.
O museu foi inaugurado em 2009 num edifício projetado pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura — vencedor do Prémio Cecil de Arquitetura 2010 — e desde essa data apresenta uma programação dedicada à obra da artista, promovendo o estudo e divulgação da obra.
A celebração dos 15 anos incluirá ainda a 4.ª edição da “Oficina de Gravura” com o objetivo de promover a prática do desenho no museu em todas as idades, como desejado por Paula Rego, nascida em Lisboa, a 26 de janeiro de 1935, numa família de tradição republicana e liberal.
Com 17 anos e um talento para o desenho reconhecido pelos professores da St. Julian’s School, em Carcavelos, Paula Rego partiu para a capital britânica para estudar na Slade School of Fine Art, onde conviveu com vários artistas que viriam também a destacar-se, incluindo o marido, Victor Willing (1928-1988).
Na sua obra, Paula Rego aborda temas políticos, como o abuso de poder, e sociais, como o aborto, a violência doméstica, entre outros do universo feminino. O seu trabalho foi influenciado pelos contos populares e pela literatura, nomeadamente a escrita de Eça de Queirós, que a levou a pintar quadros inspirados em livros como A Relíquia e O Primo Basílio.