O Partido Comunista da Venezuela (PCV) exigiu à comissão eleitoral que divulgue as atas desagregadas das presidenciais de 28 de julho, em que Nicolás Maduro foi reeleito mas cujos resultados a oposição contesta.

“Os votos têm de ser contados, as urnas têm de ser abertas e os resultados têm de ser mostrados ao país e ao mundo para gerar a confiança e a transparência que exigimos e a que temos direito”, disse na terça-feira Maribel Diáz, do comité político do PCV.

Durante uma conferência de imprensa em Caracas, Diáz explicou que, enquanto os resultados não forem apresentados, não é possível apresentar uma queixa, por não poder saber se há inconsistências em alguma mesa ou município.

“O país e o mundo em geral têm o direito de conhecer os resultados quadro a quadro, centro a centro. É isso que está estabelecido e é habitual no nosso país”, disse a dirigente, sublinhando que já passaram três meses das eleições presidenciais.

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“Muitas vozes se levantaram porque não têm esses resultados, tal como era uma prática e costume neste país. O que temos visto tem sido um aumento da repressão das vozes dissidentes. Hoje há mais de duas mil pessoas detidas sob acusações terríveis, como terrorismo, incitamento ao ódio”, lamentou Diáz.

Segundo a dirigente, “muitos dos detidos”, que saíram legitimamente a protestar contra os resultados oficiais, “são menores de idade, outros são pessoas com deficiência, e recentemente tivemos a detenção da jornalista Nelín Escalante e de uma ativista no estado de Bolívar [leste], Omaira Salazar”.

De janeiro a outubro, já contámos 15 jornalistas detidos (…). Hoje, na Venezuela, podemos dizer que o jornalismo está a tornar-se uma profissão muito arriscada. Os jornalistas são detidos, são levados sem o devido processo, sem a possibilidade de as suas famílias saberem onde estão, sem a possibilidade de terem defensores privados. É isso que estamos a viver”, disse Diáz.

“Exigimos a plena liberdade para os ativistas políticos, jornalistas e trabalhadores que foram detidos sem um processo justo”, frisou a dirigente.

A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais a 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano atribuiu a vitória ao atual Presidente do país, Nicólas Maduro, com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.

A oposição venezuelana e muitos países denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente.

Os resultados eleitorais têm sido contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos.

O regime de Caracas diz estar em curso um golpe de Estado, mantendo nas ruas milhares de polícias e militares para controlar os manifestantes, e pediu à população que, de maneira anónima e através da aplicação VenAPP, denuncie quem promove os protestos.

Segundo a organização não-governamental venezuelana Foro Penal (FP), 1.953 pessoas estão detidas por motivos políticos na Venezuela, o maior número registado no século XXI.

Quase duas mil pessoas estão presas por motivos políticos na Venezuela

De acordo com a FP, entre os detidos, 1.711 são homens e 242 mulheres e 1.792 são civis e 161 militares, incluindo 69 adolescentes.