A economia portuguesa não conseguiu, no terceiro trimestre, chegar a um crescimento de 2% em termos homólogos. Ficou nos 1,9%. Em cadeia, o crescimento não descolou dos 0,2% que já tinha registado no trimestre anterior, uma subida ligeira.

Os dados do INE são preliminares, estando previsto para 29 de novembro a divulgação detalhada. Só aí se conhecerá em pormenor o que levou a este crescimento ténue. Mas o INE avança já algumas pistas.

No final de setembro, os portugueses começaram a ver a redução do IRS nos seus salários, mas ainda não terá chegado à economia. E o suplemento extraordinário aos pensionistas só foi pago em outubro. Ainda assim foi pelo consumo privado que o PIB cresceu. Segundo o INE, o contributo positivo da procura interna aumentou no terceiro trimestre (em termos homólogos), e nesta componente foi o consumo privado, ou seja o consumo das famílias, que acelerou. O INE detetou uma diminuição do investimento, numa altura de conjuntura internacional desafiante e em que se desenhava a possibilidade de uma crise política por causa do Orçamento do Estado para 2025. Só em outubro o PS disse que viabilizaria o Orçamento para que o país não fosse novamente para eleições.

Se a procura interna teve um contributo positivo superior, já a componente externa manteve o contributo negativo. “O contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB aumentou ligeiramente no 3º trimestre, verificando-se uma aceleração do consumo privado e uma diminuição do investimento. O contributo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB manteve-se negativo, registando-se uma aceleração das importações e das exportações de bens e serviços”, é a única referência às componentes do PIB feita pelo INE nestas projeções preliminares.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já na variação em cadeia, o investimento face ao segundo trimestre aumentou.

[Já saiu o quinto e último episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio, aqui o segundo, aqui o terceiro e aqui o quarto episódio .]

Este ano, ainda não houve um único trimestre com crescimento acima de 2%. As projeções para o conjunto do ano também não chegam a esse valor, que deverá, no entanto, ser atingido no próximo ano. Para 2024, a projeção mais otimista está no FMI, que projeta um crescimento anual de 1,9%. O Ministério das Finanças acredita num crescimento de 1,8%, em linha com o do Conselho das Finanças Públicas. O Banco de Portugal tem uma projeção mais baixa, de crescimento de 1,6%. Aliás, no mais recente boletim económico, o de outubro, o banco central desceu a projeção do terceiro trimestre (em cadeia) de 0,6% para 0,2%, o que acabou por se confirmar. Para o quarto trimestre o Banco de Portugal antecipa um crescimento, em cadeia, de 0,6%.

Os dados divulgados esta quarta-feira, 30 de outubro, pelo INE mostram um crescimento dentro das estimativas dos economistas, que viam a economia a crescer, em alguns casos, acima dos 2%. Segundo um levantamento da Lusa, os economistas admitiam crescimentos entre os 1,5% e 2,1%, em termos homólogos, e entre 0% e 0,6% em cadeia.

Numa nota de análise, o BPI Research considera que a estimativa preliminar, que está em linha com esta entidade esperava, “reflete uma trajetória de menos para mais ao longo do próprio trimestre que se deverá manter até ao final do ano, atendendo ao comportamento do indicador diário de atividade, que no mês de outubro apresenta tendência de aceleração”. O BPI aponta para um crescimento do PIB de 1,7%. “O consumo privado continua resiliente, refletindo a robustez do mercado de trabalho, os sinais de melhoria do rendimento disponível, comportamento mais benigno da inflação e redução dos encargos financeiros associados à diminuição das taxas de juro. Este último fator e a expectativa de alguma melhoria na execução do PRR poderá favorecer o desempenho do investimento na reta final do ano”, indica ainda o BPI, realçando que “os riscos para a atual previsão revelam-se equilibrados, sendo que os negativos estão essencialmente associados a fatores externos de carácter geopolítico. Internamente, os riscos parecem mais enviesados em sentido positivo, predominantemente relacionados com a possibilidade de que a procura interna se revele mais forte do que o antecipado.”

Portugal cresceu menos que a zona euro e a União Europeia. Segundo dados revelados esta quarta-feira pelo Eurostat, a zona euro cresceu 0,4% em cadeia e a União Europeia 0,3%. Na variação homóloga, o PIB da zona euro e da União Europeia cresceu 0,9%. Em 13 países da União, só quatro países tiveram desempenhos em cadeia piores que Portugal — Itália (com crescimento nulo), Letónia com queda de 0,4%, Hungria com queda de 0,7% e Suécia com queda de 0,1%. A Alemanha conseguiu manter-se à tona, com um crescimento em cadeia de 0,2%, escapando à recessão técnica de dois trimestres de contração.

Na evolução homóloga, Portugal teve, pelo contrário, o terceiro melhor desempenho. Só Espanha (com crescimento de 3,4%) e Lituânia (2,3%) estiveram melhor.

(Notícia atualizada com comentário do BPI às 12h20)