Portugal está perante “uma enorme oportunidade, que se desperdiçamos será por culpa nossa“, avisou nesta quinta-feira o presidente do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, criticando o poder político por estar a “perder-se em pormenores”, por exemplo na negociação do Orçamento do Estado para o próximo ano.

Os comentários foram feitos numa conferência de imprensa que serviu para apresentar um aumento de 14% dos lucros dos primeiros nove meses do ano, para 444 milhões de euros. No final, João Pedro Oliveira e Costa lançou um repto a que o poder político não se “perca tanto em pormenores” e que contribua mais para que Portugal possa aproveitar a “grande oportunidade” que tem diante de si – uma “oportunidade que se for perdida só o será por culpa nossa”.

“Fizemos todos um caminho com bastante esforço para chegarmos a uma situação em que temos umas contas públicas arrumadas, algum superávite, conseguimos financiar-nos hoje mais barato do que Espanha, França e Itália”, afirmou o presidente do BPI, salientando que “temos uma enorme oportunidade, temos talento, houve um investimento significativo nas energias renováveis e somos um país apesar considerado um dos países mais seguros do mundo e com uma onda positiva à nossa volta, não só vinda do turismo mas do investimento externo no geral”.

Não podemos continuar a perder-nos em pormenores que não ajudam ninguém. Estamos agora a ver a discussão em torno do Orçamento do Estado e esta devia ser uma discussão muito rápida, para avançarmos com o PRR, com a construção de habitação, com a contratação de professores, com a resolução dos timings [da burocracia] do Estado, da Justiça… É uma oportunidade para as próximas gerações. E se conseguirmos fazer isso tenho a certeza que os nossos jovens voltam para ajudar a desenvolver este país fantástico que é Portugal”.

João Pedro Oliveira e Costa concluiu que “devia haver muito mais união”. “Nós temos uma oportunidade de fazer crescer Portugal como poucas vezes tivemos desde o 25 de Abril. Temos todos de ter uma exigência e temos de nos indignar um pouco mais, de forma positiva”, rematou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Conversa sobre o Orçamento do Estado, nas últimas semanas, é simplesmente trágica”, diz presidente do BPI

O mesmo banqueiro já tinha dito, há poucas semanas, que “a conversa sobre o Orçamento de Estado, das últimas semanas, é simplesmente trágica”. Numa mesa-redonda de uma conferência organizada pela Associação Portuguesa de Bancos (APB), o presidente do BPI criticou a negociação orçamental entre os vários partidos: “Temos um governo, que foi eleito, que tem um orçamento que não é muito diferente do outro, e andamos a discutir quem é que se reuniu com quem, à noite, de manhã”, criticou.

Atividade em Portugal dá lucros de 380 milhões de euros em nove meses

Na conferência de imprensa de apresentação dos resultados, o banco indicou que o resultado líquido na atividade em Portugal aumentou 17%, respondendo pela larga maioria dos lucros (380 milhões).a margem financeira continua “estável”, apesar da descida das taxas de juro nos últimos meses. Houve um aumento de 7% da margem financeira, para 737 milhões de euros, um ritmo de crescimento positivo apesar de muito distante dos aumentos muito mais rápidos na fase de crescimento das taxas de juro.

A margem financeira é, em termos simples, a diferença entre aquilo que o banco cobra nos créditos que concede e os seus custos de financiamento (depósitos dos clientes, grosso modo). A estabilização da margem financeira estará relacionada com o facto de a descida dos juros se refletir de forma lenta no cálculos das prestações pagas pelos clientes, que são revistas apenas nos prazos definidos (regra geral, três, seis ou 12 meses).

Millennium BCP promete multiplicar dividendos, após subir lucros em 9,7% (para 714 milhões) nos primeiros nove meses do ano

João Pedro Oliveira e Costa comentou, em conferência de imprensa, que “em junho de 2025 as taxas de juro do BCE devem estar nos 2%, mas tudo depende da inflação e das condições geopolíticas à nossa volta”.

Novo Banco. Lucro recua 4% para 610 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano

Tal como outros concorrentes do setor, o BPI também aumentou a cobrança de comissões em 12%, para 244 milhões, o que também ajudou o produto bancário a crescer 11% (o produto bancário inclui as comissões, a margem financeiras e outros proveitos).

Santander aumenta lucros em 25%, para 778 milhões, mesmo com juros a descer