Quando referiu de forma taxativa que falaria de “tudo” após o jogo do Sporting com o Estrela da Amadora, Rúben Amorim quase balizou com palavras a janela temporal para haver o anúncio de um acordo entre os leões e o Manchester United para rumar a Inglaterra. No entanto, nem tudo foi linear. “O” comunicado que todos esperavam não apareceu na quinta-feira, pensou-se depois que poderia ficar adiado até ao final do encontro esta sexta-feira, acabou por sair na manhã da partida. Diferença em termos internos? Nenhuma. Todos sabiam que Amorim ficaria até ao jogo de Braga, todos sabiam que de seguida iria para Manchester. No entanto, e para os adeptos, o carimbo da saída colocaria à prova uma panóplia de estados de espírito.

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“Escreveram-se páginas de história”, frisou o Sporting nas suas plataformas ao longo do dia, numa série de publicações que foram tendo o cuidado de não soar a despedida (existiam ainda três encontros por jogar). Ainda assim, as primeiras reações mais visíveis não foram propriamente nesse sentido. “Amorim, esta já não é a tua casa. Obrigado”, lia-se uma tarja colocada junto da rotunda do Leão, perto do Pavilhão João Rocha, neste caso um local por onde o autocarro da equipa não iria passar quando chegasse a Alvalade. “Por amor”, dizia uma outra lona com a imagem de Erick Mendonça, antigo jogador de futsal dos leões que está agora no Barcelona, naquilo que muitos consideraram uma “farpa” para a decisão assumida pelo técnico.

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No interior do recinto, aí, tudo foi diferente. Aliás, em parte acabou por ser um prolongamento do que já se tinha visto com o Nacional na Taça da Liga mas com mais peso, tendo em conta a maior assistência que se registava para a receção ao Estrela da Amadora: milhares de pessoas de pé nas centrais a ovacionar Rúben Amorim, alguns assobios que se tornavam quase impercetíveis perante as palmas, o agradecimento por parte do técnico nesse primeiro momento em que subiu ao banco de suplentes antes do encontro.

A resistência do conjunto da Reboleira foi interessante, não sendo normal uma equipa marcar aos leões na Liga e terminar a primeira parte com sete remates enquadrados em Alvalade. No final, imperou a lei do mais forte, neste caso a lei de Viktor Gyökeres. O sueco marcou pela primeira vez um póquer em Portugal, levando o Sporting para mais uma goleada e aumentando para 35-3 o registo de golos em dez vitórias na Primeira Liga. Tal como tinha acontecido também com o Nacional na terça-feira, nenhum dos festejos teve uma “atenção” especial com o treinador e todos ficaram circunscritos aos jogadores na zona do relvado.

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Quando acabou a partida, Rúben Amorim voltou a cumprimentar o treinador adversário e a ser o primeiro a sair para os balneários enquanto os jogadores se reuniram no meio-campo e deram depois uma volta a todo o estádio para agradecerem o apoio dos adeptos. “Nós e vocês, focados no Marquês”, destacou o setor onde se concentra a Juventude Leonina numa tarja que deu o mote para cânticos pela equipa que pareceram ter sido recebidos de forma mais “especial” pelo grupo todo o contexto que se vive. “Vamos ver”, referiu o Diretivo Ultras XXI no topo oposto, com um cifrão no “s” que para bom entendedor bastava. Só mesmo quando uma das claques cantou “Sporting allez e o Amorim é lampião” houve um enorme coro de assobios.

“Acontecesse o que acontecesse, era a última época no Sporting.” Amorim tentou ficar até ao fim da temporada e diz que “só queria” o United

Tal como se previa, poderia haver reações de maior apoio ou de indiferença para o técnico mas uma larga maioria fez questão de reconhecer tudo o que Rúben Amorim fez pelo clube entre alguns (raros) assobios. Na conferência, o cenário seria oposto e era hora de Rúben Amorim mostrar o reconhecimento aos adeptos.

“É uma fase das pessoas sentirem o que têm de sentir. Queria explicar a situação. No início da época, tive uma conversa com o presidente e com o Viana e disse que, acontecesse o que acontecesse, que era a minha última época no Sporting. A época começou e começámos a fazer uma época muito boa. O United apareceu, pagou a cláusula, acima da cláusula e o presidente defendeu os seus interesses. Nunca discuti nada com o presidente. O único pedido que eu fiz era que fosse no final da época e disseram-me que não era possível, que era agora ou nunca. Tive três dias para decidir sobre algo que muda por completo a minha vida”, revelou Rúben Amorim na conferência de imprensa após a goleada ao Estrela da Amadora que teve uma particularidade: até mesmo perante perguntas de ingleses, respondeu sempre em português.

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“Não é a primeira vez que tenho a minha cláusula paga por outro clube. Nem a primeira, nem a segunda. Eu queria aquele clube e aquele contexto. É igualzinho ao Sporting. Custa-me muito sair, mais a mim do que a qualquer sportinguista. Não houve confusão nenhuma. Temos de salvaguardar os interesses de cada um. Eu, longe de me fazer de coitadinho, fui a única pessoa nesta zona morta. Disse que ficava os jogos que fossem preciso. Não disse nada mais cedo porque não podia. A decisão é assim. Apareceu o clube que eu sabia que se rejeitasse que daqui a seis meses não iria ter. E sabia que daqui a seis meses ia saber que não ia estar no Sporting. Foi o único clube que eu quero e que mexeu comigo. Chegou a uma altura que tive de decidir e decidi. Agora vou muito mais descansado para casa. Eu ganhava três vezes mais com o último clube que pagou a minha cláusula. Dei tudo o que tinha pelo clube”, acrescentou o ainda treinador leonino, tendo na primeira fila toda a Direção do Sporting além do presidente Frederico Varandas e de Hugo Viana.